São Paulo, quarta-feira, 02 de julho de 2008

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Inflação em alta derruba rendimento das contas do FGTS

Somente entre janeiro e maio deste ano, diferença é de 1,26%; estudo mostra que trabalhadores tiveram perda de R$ 4,38 bi

Tendência é que diferença aumente até o final do ano e, com isso, o FGTS tenha rendimento negativo de 1,77%, calcula matemático


LEANDRA PERES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O trabalhador que tem recursos depositados no FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço) está perdendo dinheiro para a inflação. É que o rendimento acumulado pelo fundo até maio já é 1,26% inferior ao aumento dos preços. A tendência é que essa diferença aumente até o final do ano e, com isso, o FGTS tenha rendimento negativo de 1,77%.
Os cálculos do professor José Dutra Sobrinho, da USP (Universidade de São Paulo), levam em conta o rendimento acumulado pelo FGTS até maio e projeções de juros que chegariam a dezembro em 14,25%, conforme esperado pelo mercado financeiro, e inflação de 6,30% para este ano.
"Num cenário de inflação em alta, a tendência é de rendimento real negativo porque a taxa de juros sobe para combater o aumento de preços, mas a TR [Taxa Referencial, que responde por parte do rendimento do FGTS] cresce numa proporção menor do que os juros", explica o matemático.
Quando há rendimento real negativo, o dinheiro no FGTS perde valor. É como se uma parte da poupança feita pelo trabalhador desaparecesse.
Pela lei, o governo tem que pagar ao trabalhador o equivalente à variação da TR e juros de 3% ao ano. A taxa referencial é calculada com base nos CDBs negociados pelos bancos, descontada de um redutor fixado pelo BC (Banco Central).
Assim, quando a taxa de juros sobe, a TR também aumenta. O percentual seria praticamente o mesmo dos juros se não houvesse a aplicação do redutor. Como há a dedução, a taxa acaba ficando abaixo dos padrões de mercado.
Com isso, o rendimento do FGTS acaba sendo baixo. A vantagem para o trabalhador, embora indireta, é que a TR também corrige operações como financiamento habitacional. Dessa forma, quem tem esses empréstimos acaba pagando menos juros.
Essa não é a primeira vez que o FGTS rende menos que a inflação. Além dos períodos de descontrole inflacionário da década de 80, houve perda em anos como 2002 e 2003, quando o rendimento do fundo ficou respectivamente 5,91% e 1,38% abaixo da inflação.
Em 2007, a remuneração do FGTS praticamente empatou com a elevação dos preços. O rendimento foi de 4,49%, enquanto a inflação medida pelo índice usado pelo governo como meta (o IPCA) foi de 4,46%. O Ministério do Trabalho, que é o responsável pela administração do FGTS, informou que não poderia comentar o assunto porque o secretário-executivo do Conselho Curador não estava em Brasília.

Menos R$ 4,38 bi no ano
Segundo cálculos do Instituto FGTS Fácil, ONG especializada em informações sobre o fundo, enquanto a TR rendeu 0,3357% entre janeiro e maio deste ano, o INPC aumentou 3,3225%.
Assim, somente nos cinco primeiros meses deste ano os trabalhadores deixaram de receber R$ 4,38 bilhões nas contas do FGTS, calcula o instituto. No cálculo não estão computados os juros de 3% ao ano, que incidem sobre mais de 98% das contas (há outras com juros de 4%, 5% e 6% ao ano).
Para o leitor avaliar o tamanho dessa perda, uma pessoa que tivesse R$ 10 mil de saldo ao final de 2007 tem hoje R$ 11.966. Se a correção fosse pelo INPC, teria R$ 17.289.
Segundo Mario Avelino, presidente do instituto, a correção do FGTS vem perdendo para o INPC desde 2001. Nesse período, ele calcula que as perdas foram de R$ 49,77 bilhões.


Colaborou MARCOS CÉZARI , da Reportagem Local


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