São Paulo, quarta-feira, 02 de julho de 2008

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Produção industrial tem queda em maio

Indústria já começa a sentir efeito da inflação e dos juros; calendário também influiu no desempenho

PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

Sob influência de inflação e juros mais altos, do câmbio e do calendário desfavoráveis, a produção industrial dá os primeiros sinais de arrefecimento: em maio, caiu 0,5% na comparação livre de efeitos sazonais com abril, quando havia crescido 0,2%, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Já em relação a maio de 2007, houve expansão de 2,4%, abaixo da registrada em abril (10%) Iniciado em abril, o aumento da taxa básica Selic não teve ainda um efeito direto sobre a produção, mas as perspectivas de elevação já tinham aumentado os juros futuros de mercado desde dezembro passado. O fenômeno mexeu agora com as expectativas de empresários, segundo o economista Tomás Gourlart, do banco Modal.
O economista Sérgio Vale, da MB Associados, compartilha da mesma opinião: "Os juros futuros mais altos já afetam as expectativas e podem ter mexido com decisões de investimento".
Um primeiro sinal de alerta, diz, é a freada na produção de bens de capital (máquinas e equipamentos), importante componente do investimento.
Em relação a abril, a categoria registrou queda de 4,9% -o pior resultado desde junho de 2005 (6,1%).
"Foi uma desaceleração muito forte. Espero que não seja uma tendência, mas a produção de bens de capital deve desacelerar daqui para a frente, embora não com a mesma intensidade de maio", diz Vale.
Para Goulart, a queda dos bens de capital foi a principal "notícia negativa" revelada pela pesquisa do IBGE de maio. No entanto, o setor que teve o maior impacto negativo no desempenho da indústria foi o de veículos automotores (-5,5%).
Para Silvio Sales, coordenador de Indústria do IBGE, porém, o setor vive um quadro de "estabilização da produção neste ano", embora num patamar elevado. O coordenador do IBGE ressaltou ainda que o recuo de abril para maio foi provocado especialmente pelo "efeito calendário". Diferentemente do padrão histórico, diz, maio teve um dia útil a menos -em geral, registra 1,3 dia a mais.

Bens de capital
De acordo com dados divulgados ontem pela Abimaq (Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos), o setor obteve faturamento de R$ 29,7 bilhões entre janeiro e maio deste ano, alta de 26% em relação ao mesmo período de 2007. Na comparação mês a mês, porém, a taxa de crescimento decresceu de 46,7% em janeiro para 13,4% em maio.
Na avaliação do presidente da Abimaq, Luiz Aubert Neto, o setor já caminha para um ritmo de desaceleração que pode resultar em crescimento zero em 2009, como conseqüência dos efeitos dos juros e do câmbio.
Para este ano, a Abimaq projeta crescimento de 10% a 12% no faturamento. Essa evolução deve-se ao fato de que uma parcela das encomendas para este ano já foi realizada, diz Aubert.
A Abimaq prepara um estudo sobre as tarifas de importação praticadas no setor. Segundo o presidente da entidade, o imposto de importação para bens de capital fica em torno de 9%, enquanto o setor automotivo tem uma tarifa de 35%, e o setor naval, 48%. "Isso é mais uma fragilidade que enfrentamos."


Com PAULO ARAUJO , colaboração para a Folha


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