São Paulo, quinta-feira, 02 de agosto de 2007

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Economista prevê freada brusca nos EUA

Ex-conselheiro do governo Clinton afirma que crise no setor imobiliário ameaça diminuir o crédito e restringir o consumo

Nouriel Roubini vê o Brasil mais apto a enfrentar eventual crise internacional causada por um possível "pouso forçado" dos EUA

TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL

Um dos mais pessimistas entre os economistas da atualidade, o hoje blogueiro Nouriel Roubini foi um dos primeiros a alertar sobre a atual crise no mercado imobiliário americano. Ex-conselheiro econômico do governo Bill Clinton, Roubini afirma que a crise imobiliária diminuirá o crédito e poderá restringir o consumo dos americanos, com chance alta de levar ao que chama de "hard landing" [pouso forçado ou queda forte] da economia. Diz ainda que o Brasil está preparado para enfrentar qualquer crise.

FOLHA - Em Davos, o senhor previu uma recessão iniciada com a crise imobiliária nos EUA. Diria que suas previsões já viraram realidade?
NOURIEL ROUBINI -
Tenho falado sobre a recessão vinda do setor imobiliário há um ano. Desde aquela época, afirmo que a crise começaria com o "subprime" [os empréstimos de alto risco do setor imobiliário]. Também disse que os juros subiriam no mundo -estamos vendo isso nos bancos centrais e nos retornos do mercado de títulos.

FOLHA - Qual o potencial de estrago da crise do "subprime" nos EUA?
ROUBINI -
O "subprime" é um desastre, representa um colapso no mercado de hipotecas, que traz surpresas todos os dias. Derruba os preços das casas, diminui o crédito, vai afetar o consumo e pode deixar bancos em situação difícil. São cada vez maiores as chances de um pouso forçado nos EUA.

FOLHA - O senhor já vê um estouro da bolha no setor imobiliário?
ROUBINI -
Há uma bolha que começa a ruir com a queda nos preços dos imóveis nos EUA. Bolhas começam com crédito farto e excesso de dinheiro.

FOLHA - Quais os maiores prejudicados em caso de estouro da bolha?
ROUBINI -
Primeiro, os bens ligados à moradia -móveis, jardinagem e bens duráveis. Depois, o crédito, que vai passar por uma limitação, com impacto nos preços das hipotecas e reflexo no mercado de títulos -não estou falando em crise financeira, mas em um mercado mais avesso ao risco. Finalmente, o consumo, que representa 70% da economia americana e mais peso terá numa desaceleração nos EUA.

FOLHA - O Brasil e outros emergentes serão prejudicados com a crise?
ROUBINI -
Há país emergente e país emergente. Países como o Brasil, que hoje é superavitário nas contas externas e que acumulou reservas imensas, estão menos vulneráveis.

FOLHA - Quanto mais pode subir a moeda brasileira, o real?
ROUBINI -
Não sei. Depende da evolução do comércio internacional, da venda de commodities e do fluxo de dinheiro -que pode mudar. Há razões para a apreciação do real, como o mercado pujante e os IPOs [oferta pública de ações].

FOLHA - Há um entusiasmo desmedido com os IPOs brasileiros?
ROUBINI -
O Brasil passou por uma série de mudanças, que permitiram isso acontecer. O país sabe aproveitar as oportunidades trazidas pelo bom momento, que pode acabar.

FOLHA - O mundo não sabe o que acontece na China. Isso é um risco?
ROUBINI -
De fato, as estatísticas chinesas não são perfeitas. Se eles não crescem 12%, mas crescem 9% -é muito também. A China terá problemas com inflação, bolhas no setor imobiliário e no preço de ações, além do câmbio e da infra-estrutura.

FOLHA - China e outros países podem ocupar o lugar dos EUA de motor da economia mundial?
ROUBINI -
Sim, mas apenas em caso de "soft landing" [desaceleração suave]. Um "hard landing" terá conseqüências para todos.

FOLHA - Uma eventual vitória democrata poderá apertar a política comercial dos EUA com a China?
ROUBINI -
Não acredito que os democratas sejam tão menos liberais do que os republicanos. O governo Clinton teve políticas comerciais mais abertas do que a administração Bush. No caso da China, uma mudança prejudicaria empresas americanas que produzem no país.

FOLHA - Os mercados aprenderam com as últimas crises?
ROUBINI -
Em parte. Muitos países asiáticos passam hoje pelo mesmo tipo de bolha -preço dos imóveis, das ações e de commodities- de 1997.

FOLHA - Como é ser economista e blogueiro? O que você aprendeu?
ROUBINI -
Somos lidos e comentados. Queríamos um espaço não só para divulgar idéias mas permitir um debate inteligente. E conseguimos.


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