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Economista prevê freada brusca nos EUA
Ex-conselheiro do governo Clinton afirma que crise no setor imobiliário ameaça diminuir o crédito e restringir o consumo
Nouriel Roubini vê o Brasil mais apto a enfrentar eventual crise internacional causada por um possível "pouso forçado" dos EUA
TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL
Um dos mais pessimistas entre os economistas da atualidade, o hoje blogueiro Nouriel
Roubini foi um dos primeiros a
alertar sobre a atual crise no
mercado imobiliário americano. Ex-conselheiro econômico
do governo Bill Clinton, Roubini afirma que a crise imobiliária
diminuirá o crédito e poderá
restringir o consumo dos americanos, com chance alta de levar ao que chama de "hard landing" [pouso forçado ou queda
forte] da economia. Diz ainda
que o Brasil está preparado para enfrentar qualquer crise.
FOLHA - Em Davos, o senhor previu
uma recessão iniciada com a crise
imobiliária nos EUA. Diria que suas
previsões já viraram realidade?
NOURIEL ROUBINI - Tenho falado
sobre a recessão vinda do setor
imobiliário há um ano. Desde
aquela época, afirmo que a crise
começaria com o "subprime"
[os empréstimos de alto risco
do setor imobiliário]. Também
disse que os juros subiriam no
mundo -estamos vendo isso
nos bancos centrais e nos retornos do mercado de títulos.
FOLHA - Qual o potencial de estrago da crise do "subprime" nos EUA?
ROUBINI - O "subprime" é um
desastre, representa um colapso no mercado de hipotecas,
que traz surpresas todos os
dias. Derruba os preços das casas, diminui o crédito, vai afetar
o consumo e pode deixar bancos em situação difícil. São cada
vez maiores as chances de um
pouso forçado nos EUA.
FOLHA - O senhor já vê um estouro
da bolha no setor imobiliário?
ROUBINI - Há uma bolha que começa a ruir com a queda nos
preços dos imóveis nos EUA.
Bolhas começam com crédito
farto e excesso de dinheiro.
FOLHA - Quais os maiores prejudicados em caso de estouro da bolha?
ROUBINI - Primeiro, os bens ligados à moradia -móveis, jardinagem e bens duráveis. Depois, o crédito, que vai passar
por uma limitação, com impacto nos preços das hipotecas e
reflexo no mercado de títulos
-não estou falando em crise financeira, mas em um mercado
mais avesso ao risco. Finalmente, o consumo, que representa 70% da economia americana e mais peso terá numa desaceleração nos EUA.
FOLHA - O Brasil e outros emergentes serão prejudicados com a crise?
ROUBINI - Há país emergente e
país emergente. Países como o
Brasil, que hoje é superavitário
nas contas externas e que acumulou reservas imensas, estão
menos vulneráveis.
FOLHA - Quanto mais pode subir a
moeda brasileira, o real?
ROUBINI - Não sei. Depende da
evolução do comércio internacional, da venda de commodities e do fluxo de dinheiro -que
pode mudar. Há razões para a
apreciação do real, como o
mercado pujante e os IPOs
[oferta pública de ações].
FOLHA - Há um entusiasmo desmedido com os IPOs brasileiros?
ROUBINI - O Brasil passou por
uma série de mudanças, que
permitiram isso acontecer. O
país sabe aproveitar as oportunidades trazidas pelo bom momento, que pode acabar.
FOLHA - O mundo não sabe o que
acontece na China. Isso é um risco?
ROUBINI - De fato, as estatísticas chinesas não são perfeitas.
Se eles não crescem 12%, mas
crescem 9% -é muito também.
A China terá problemas com
inflação, bolhas no setor imobiliário e no preço de ações, além
do câmbio e da infra-estrutura.
FOLHA - China e outros países podem ocupar o lugar dos EUA de motor da economia mundial?
ROUBINI - Sim, mas apenas em
caso de "soft landing" [desaceleração suave]. Um "hard landing" terá conseqüências para
todos.
FOLHA - Uma eventual vitória democrata poderá apertar a política
comercial dos EUA com a China?
ROUBINI - Não acredito que os
democratas sejam tão menos
liberais do que os republicanos.
O governo Clinton teve políticas comerciais mais abertas do
que a administração Bush. No
caso da China, uma mudança
prejudicaria empresas americanas que produzem no país.
FOLHA - Os mercados aprenderam
com as últimas crises?
ROUBINI - Em parte. Muitos
países asiáticos passam hoje
pelo mesmo tipo de bolha
-preço dos imóveis, das ações
e de commodities- de 1997.
FOLHA - Como é ser economista e
blogueiro? O que você aprendeu?
ROUBINI - Somos lidos e comentados. Queríamos um espaço não só para divulgar idéias
mas permitir um debate inteligente. E conseguimos.
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