São Paulo, domingo, 02 de setembro de 2007

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VINICIUS TORRES FREIRE

Vai chover na seca de crédito?


Cresce a pressão pela queda dos juros nos Estados Unidos; Bush e Congresso prometem aliviar ruína imobiliária


NO INÍCIO de junho, os povos dos mercados queriam elevar a taxa básica de juros dos Estados Unidos. Alertavam de que a inflação extrapolava as metas informais do Fed, o banco central americano. Mas apenas três meses antes, dados os sinais de morosidade econômica, os mercadistas pregavam o corte dos juros, três até o fim do ano - e mal se falava de inflação.
Os mercadistas são volúveis.
Desde o pânico de agosto, recomeçou uma campanha estridente pelo corte de juros. O pessoal até que disfarça e doura a pílula, mostrando como tal e qual índice de inflação arrefeceu. Mas a grita é mesmo de medo de recessão e falência. Na campanha estão banqueiros, grandes fundos e investidores, executivos do setor "real", políticos democratas e republicanos e até economistas sérios, Alain Blinder e Martin Feldstein.
Blinder, de Princeton, foi vice do Fed, conselheiro econômico de Bill Clinton e escreveu um muito lido manual do banqueiro central ("Central Banking in Theory and Practice", MIT Press). Feldstein, de Harvard, faz parte do "comitê da recessão", do National Bureau of Economic Research, que verifica se ciclos econômicos de baixa podem ser chamados de recessão. Blinder e Feldstein têm munição para atingir os ouvidos de Ben Bernanke, que segue impassível em meio ao tumulto.
George W. Bush, atrasado, veio com um paliativo meia-boca para inadimplentes da casa própria. Mas o exemplo de Bush pode estimular o Congresso a colocar mais dinheiro na salvação da lavoura hipotecária.
Mercado e políticos disputam, pois, a primazia de limitar a "independência do BC" e de "capturar" instituições para seus fins. Mas, enfim, há sinais de que se arma uma operação de resgate do mercado, via fiscal e/ou via juros menores.
Apesar da festa do "revival" nas Bolsas, ainda há muito medo nos mercados de crédito. No balanço dos bancos, estão mais de US$ 300 bilhões de empréstimos para firmas de "private equity" (de compra e revenda de empresas). Não conseguem repassar o crédito, tirá-lo do balanço, securitizá-lo e vendê-lo na forma de títulos, derivativos de crédito, como o faziam com hipotecas.
Quanto mais empréstimos no balanço, maiores têm de ser as reservas de capital do banco, o que reduz sua capacidade de emprestar e encarece o crédito. Bancos podem ainda ter de cobrir prejuízos de entidades que criaram para tocar outros negócios. Por exemplo, vender "commercial papers" (promissórias) e comprar derivativos de crédito garantidos por hipotecas, cartão de crédito ou prestações de carro, papéis que em tese renderiam mais que os juros dos "commercial papers".
Mas há receio de negociar ou renovar "commercial papers". Essas entidades (veículos de investimento, fundos de propósito específico) estão na iminência de vender bilhões em derivativos a fim de pagar os "commercial papers", deprimindo ainda mais os preços. Talvez os bancos tenham de entrar com algum para cobrir o prejuízo, o que deteriora ainda mais o crédito.
Crédito travado joga areia na economia "real". No dia 18, o Fed decide os juros. Mesmo menores, podem não destravar o crédito. E, até lá, dezenas de indicadores e várias quebras vão animar os mercados.

vinit@uol.com.br


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