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Orçamento de 2010 só "fecha" se a receita tiver alta recorde
Governo prevê aumento de 10,1%, mas meta será alcançada se ganho real for de 13%
Se objetivo não for atingido, governo terá de usar brecha legal que permite abater da meta as despesas com obras prioritárias incluídas no PAC
GUSTAVO PATU
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O governo Luiz Inácio Lula
da Silva dependerá de um aumento recorde da arrecadação
para conciliar a retomada integral de suas metas fiscais e a expansão de despesas programadas no projeto de Orçamento
do ano eleitoral de 2010.
Ainda sem sinal de recuperação das receitas, em queda nos
últimos nove meses, a área econômica aposta, nas estimativas
orçamentárias, em aumento de
10,1% acima da inflação dos recursos gerados por impostos,
contribuições sociais, taxas, royalties, dividendos e demais
fontes da União.
Essa taxa -só atingida, na
administração petista, em
2005- ainda seria insuficiente
para o cumprimento da meta
de superavit primário (a parcela da arrecadação poupada para
o abatimento da dívida pública)
fixada para o Tesouro Nacional,
Previdência Social e Banco
Central, de R$ 71,5 bilhões.
Dado o crescimento dos gastos com pessoal, aposentadorias, programas sociais e investimentos programado para o
próximo ano, será preciso uma
elevação real da receita de 13%
para que a meta seja inteiramente alcançada.
Caso contrário, o governo terá de se valer da brecha legal
que permite abater da meta as
despesas com obras prioritárias de infraestrutura incluídas
no PAC (Programa de Aceleração do Crescimento). Válido
desde 2005, esse artifício nunca foi utilizado -a primeira vez
pode ser neste ano, em razão da
queda na arrecadação.
No total, o aumento de receita estimado no Orçamento é de
pouco mais de R$ 110 bilhões
em relação ao valor esperado
para este ano -ele equivale a
quase três anos da arrecadação
da extinta CPMF. Para o cumprimento integral da meta, faltam R$ 22,5 bilhões.
Os valores, provavelmente,
ainda terão de subir: ainda não
foram contabilizados entre as
despesas as obras que deputados e senadores destinam a
suas bases eleitorais e o reajuste real negociado para as aposentadorias superiores a um salário mínimo.
Ao anunciar ontem o detalhamento dos números do projeto de lei orçamentária, o ministro Paulo Bernardo (Planejamento) avaliou que a expectativa de receita é realista em
um cenário de crescimento
econômico esperado de 4,5%.
Segundo sua tese, a arrecadação deste ano é atípica em razão
dos efeitos recessivos da crise
global e dos benefícios fiscais
concedidos para estimular a
produção e o consumo. As projeções para 2010, disse, retomam a trajetória de expansão a
partir dos patamares observados até 2008.
"Marola"
Bernardo também rebateu
críticas da oposição e de analistas ao aumento contínuo das
despesas, com o argumento de
que a política fiscal tem reduzido a proporção entre a dívida
pública e o PIB, medida da renda nacional.
"Nós sabemos o que herdamos quando entramos e vamos
deixar a melhor condição possível para o próximo governo. O
resto, acho que é marola que a
turma fica fazendo aí", disse.
Devido ao afrouxamento das
metas fiscais neste ano, a dívida
pública subiu, até julho, de 39%
para 44% do PIB, retornando
ao nível do final de 2007. Lula
recebeu do tucano Fernando
Henrique Cardoso uma dívida
equivalente a 51% do PIB.
Nas previsões oficiais, outro
efeito da crise global ajudará as
contas públicas no próximo
ano: a queda dos juros para os
níveis mais baixos da história
reduzirá os gastos financeiros,
evitando uma nova escalada da
dívida.
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