|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Acordos bilaterais não substituem Doha, diz Lamy
Para diretor da OMC, janela de oportunidades para reavivar rodada é melhor do que nos últimos meses
LUCIANA COELHO
DE GENEBRA
Acordos bilaterais não são a
saída para driblar o impasse na
Rodada Doha de liberalização
comercial, disse o diretor-geral
da Organização Mundial do Comércio (OMC), Pascal Lamy.
Ao seu lado, o presidente da Câmara Internacional de Comércio, Victor Fung, declarou que o
atalho seria "mortífero".
A alternativa foi citada mais
recentemente pelo chanceler
brasileiro, Celso Amorim, e outros negociadores como um caminho a seguir enquanto a rodada global iniciada em 2001
continuar travada. "Cada vez
que isso ocorre você tira dois tijolos da parede do multilateralismo", disse Fung, cuja organização congrega representações
empresariais do mundo todo.
"Além do mais, há uma série
de assuntos, especialmente a
questão dos subsídios, que não
há como tratar em negociações
bilaterais", completou Lamy.
Lamy e Fung receberam a
Folha e dois jornais estrangeiros para entrevista anteontem
no célebre "Green Room" da
OMC (a sala onde ocorrem os
debates mais intensos e que na
verdade é bege, não verde).
Disseram-se esperançosos com
a possibilidade de reavivar Doha e quanto a um compromisso
no encontro do G20 em Pittsburgh (EUA), nesta semana.
No entanto, as expectativas e
o vislumbre de uma melhora
no cenário, sobretudo em relação ao crédito, não bastaram
para levar a OMC a mudar a
previsão de que o comércio
mundial encolherá 10% em
2009 devido à crise econômica.
As dissonâncias na recuperação entre os países -com a
Ásia na liderança, seguida por
América Latina e EUA- têm
seu peso. Mas Lamy também
cita uma mudança que chama
de positiva: "Os países em desenvolvimento têm uma fatia
maior do bolo, embora esta
ainda seja menor que a dos
EUA, União Europeia e Japão".
Indagado se o protecionismo
cresceu nos últimos meses,
Lamy manteve sua avaliação de
que há um flerte com políticas
comerciais mais restritivas.
"Mas não há sinal de algo mais
intenso." Para ele e Fung, o comércio global ainda não está
seguro. "Esperamos problemas
até metade de 2010", disse o
presidente da Câmara Internacional de Comércio.
Os dois maiores entraves citados são a demanda, ainda fraca, e o desemprego. "Não estaremos fora de risco enquanto o
desemprego estiver subindo",
declarou Lamy. "A crise vai
pressionar o mercado de trabalho durante anos."
A relação, explica, está nas
pressões a que os governos ficam sujeitos quando o desemprego sobe e eles são obrigados
a levar o discurso doméstico
para a mesa de negociações comerciais. "As realidades da política comercial e da política
são diferentes."
Ontem, a União Europeia divulgou desemprego de 9% em
julho, enquanto nos Estados
Unidos a taxa está em 9,4%.
Texto Anterior: Vaivém das commodities Próximo Texto: Subsídios: Amorim diz ter "listinha" para retaliar os Estados Unidos Índice
|