São Paulo, quarta-feira, 02 de setembro de 2009

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Acordos bilaterais não substituem Doha, diz Lamy

Para diretor da OMC, janela de oportunidades para reavivar rodada é melhor do que nos últimos meses

LUCIANA COELHO
DE GENEBRA

Acordos bilaterais não são a saída para driblar o impasse na Rodada Doha de liberalização comercial, disse o diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), Pascal Lamy. Ao seu lado, o presidente da Câmara Internacional de Comércio, Victor Fung, declarou que o atalho seria "mortífero".
A alternativa foi citada mais recentemente pelo chanceler brasileiro, Celso Amorim, e outros negociadores como um caminho a seguir enquanto a rodada global iniciada em 2001 continuar travada. "Cada vez que isso ocorre você tira dois tijolos da parede do multilateralismo", disse Fung, cuja organização congrega representações empresariais do mundo todo.
"Além do mais, há uma série de assuntos, especialmente a questão dos subsídios, que não há como tratar em negociações bilaterais", completou Lamy.
Lamy e Fung receberam a Folha e dois jornais estrangeiros para entrevista anteontem no célebre "Green Room" da OMC (a sala onde ocorrem os debates mais intensos e que na verdade é bege, não verde). Disseram-se esperançosos com a possibilidade de reavivar Doha e quanto a um compromisso no encontro do G20 em Pittsburgh (EUA), nesta semana.
No entanto, as expectativas e o vislumbre de uma melhora no cenário, sobretudo em relação ao crédito, não bastaram para levar a OMC a mudar a previsão de que o comércio mundial encolherá 10% em 2009 devido à crise econômica.
As dissonâncias na recuperação entre os países -com a Ásia na liderança, seguida por América Latina e EUA- têm seu peso. Mas Lamy também cita uma mudança que chama de positiva: "Os países em desenvolvimento têm uma fatia maior do bolo, embora esta ainda seja menor que a dos EUA, União Europeia e Japão".
Indagado se o protecionismo cresceu nos últimos meses, Lamy manteve sua avaliação de que há um flerte com políticas comerciais mais restritivas. "Mas não há sinal de algo mais intenso." Para ele e Fung, o comércio global ainda não está seguro. "Esperamos problemas até metade de 2010", disse o presidente da Câmara Internacional de Comércio.
Os dois maiores entraves citados são a demanda, ainda fraca, e o desemprego. "Não estaremos fora de risco enquanto o desemprego estiver subindo", declarou Lamy. "A crise vai pressionar o mercado de trabalho durante anos."
A relação, explica, está nas pressões a que os governos ficam sujeitos quando o desemprego sobe e eles são obrigados a levar o discurso doméstico para a mesa de negociações comerciais. "As realidades da política comercial e da política são diferentes."
Ontem, a União Europeia divulgou desemprego de 9% em julho, enquanto nos Estados Unidos a taxa está em 9,4%.


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