|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
LUÍS NASSIF
A história se repete
Nas duas colunas anteriores, tentei desenvolver
um pouco mais algumas hipóteses sobre os fatores que, no
Império e na República Velha,
levaram à plena liberalização
cambial, à apreciação do câmbio, ao agravamento das vulnerabilidades externas, afrontando toda a lógica de desenvolvimento nacional.
A hipótese é que, por trás
dessas políticas, estavam interesses rentistas da parcela da
elite, com acesso à banca internacional. Seu ganho maior
consistia em gerar uma poupança inicial com sua atividade primária (comercialização
de escravos ou exportação de
café ou mesmo corrupção interna). Depois, alavancar financiamentos na City londrina -na época, o mais poderoso e moderno centro financeiro do mundo. Poupança própria e crédito barato eram investidos no Brasil a taxas elevadas em nome do banco inglês -mas os capitais eram
brasileiros. O ganho principal
mudava da atividade econômica em si para a arbitragem
de taxas.
Esse modelo é o que explica a
estagnação da economia no
Império e na República Velha.
Impedia o desenvolvimento
por trazer, implícitos, a volatilidade cambial (liquidando
com a produção nacional a cada valorização da moeda), a
escassez de crédito em moeda
local e, conseqüentemente, os
juros proibitivos para a atividade produtiva. A moeda ficava com quem tinha o poder.
Como o sistema bancário
era pouco desenvolvido na
época, os grandes intérpretes
do país não atinaram para essa função central dos ganhos
de arbitragem na definição da
política econômica.
Agora, o CD do MTB Bank
escancara para quem quiser
ver as entranhas desse modelo.
Mostra o portentoso fluxo de
transferência de dólares para
o exterior, por meio das contas
CC-5, misturando atividades
lícitas, sonegação fiscal e dinheiro de origem criminosa.
Permite avaliar o portentoso
fluxo de retorno para o país
por meio do anexo 4. Os indicadores da década mostraram
que essa poupança não se
transformou em investimento.
Tal e qual naqueles tempos,
a manutenção desse tipo de
política econômica predadora
era sustentada pelo que Manuel Bonfim chamava de os
"financistas", os jovens que estudaram no exterior, que vinham com as últimas teorias
importadas dos grandes centros e que davam a legitimação teórica para o estupro monetário. Apenas a história foi
capaz de demonstrar a falsidade dos argumentos utilizados, porque a soma de interesses internos era muito forte
para permitir o exercício da
racionalidade em tempo real.
Em todo o mundo, o Brasil
era conhecido pelos índices de
corrupção, pela vergonha de
ser o último país a abolir a escravatura, pelo espetáculo vergonhoso dos homens de negócio e da política que enriqueciam com corrupção e iam
usufruir dos prazeres na Europa -tema de uma ópera que
fez bastante sucesso em Paris,
ao tempo em que Carlos Gomes por lá passou.
O único ponto que se fazia
questão de preservar eram os
interesses dos credores internacionais. Por que, por trás da
fachada oficial do banco inglês, estavam os capitais brasileiros dos rentistas.
E-mail -
Luisnassif@uol.com.br
Texto Anterior: Análise: Medidas não trarão alívio Próximo Texto: Comércio exterior: Importações em setembro são as maiores desde 1997 Índice
|