São Paulo, segunda-feira, 02 de outubro de 2006

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Títulos e ações entram em "luta" nos EUA

Mercados se defrontam quanto às perspectivas econômicas do país; se imóveis despencarem, Fed pode reduzir juro em 2007

Nos últimos três meses, o ganho dos papéis de dez anos do Tesouro caiu de 5,25% para 4,65%, abaixo das taxas de curto prazo

DO "FINANCIAL TIMES"

Será que Wall Street está se preparando para um confronto de titãs? Vem crescendo a opinião de que existe sério desacordo entre os mercados de ações e títulos quanto às perspectivas econômicas dos EUA.
Para os defensores dessa tese, com os dois mercados se defrontando em cantos opostos do ringue, é inevitável que um deles saia machucado.
É fácil perceber de onde deriva essa análise. Nos últimos três meses, o rendimento dos papéis de dez anos do Tesouro americano caiu de 5,25% para 4,65%, bem abaixo das taxas de juros de curto prazo. Uma interpretação popular é que os investidores temem que um colapso do mercado de imóveis cause devastação na economia dos EUA. Isso poderia forçar o Fed a reduzir agressivamente as taxas de juros em 2007.
Outros mercados parecem discordar. Tomemos por exemplo o dólar. Embora a moeda deva ser sensível às expectativas quanto ao crescimento dos EUA e ao nível das taxas de juros, sua cotação se manteve, em termos gerais, estável.
As ações parecem estar ainda mais fora de sincronia. Os índices Dow Jones e S&P 500 subiram, ambos, mais de 8% desde as baixas registradas em julho.
De fato, há método por trás da aparente loucura da resposta de cada mercado. É bastante comum que papéis do Tesouro subam em valor (e caiam em termos de rendimento) quando as ações estão fortes. Afinal, o declínio nas taxas de juros dos títulos do Tesouro torna dividendos e fluxo de caixa das empresas privadas relativamente mais atraentes. Isso faz com que a reação do mercado de ações pareça menos excêntrica.
A situação parece até mais racional caso seja levado em conta o período difícil que as ações enfrentaram anteriormente no ano, mesmo que os lucros das empresas tenham continuado a subir.
Os investidores estavam preocupados com os preços elevados do petróleo, inflação e números fracos da habitação.
Mas o preço de energia caiu muito e os temores de que a inflação pudesse forçar o Fed a sufocar o crescimento econômico se transformaram em esperança de que os juros caiam -fatos positivos para as ações.
Quanto ao mercado de títulos públicos, os efeitos de uma desaceleração na habitação são claramente importantes. Mas a recente movimentação dos rendimentos não representa simplesmente o medo de uma desaceleração econômica causada por crise nos imóveis.
Os rendimentos dos papéis do Tesouro foram surpreendentemente baixos por alguns anos. Uma interpretação para a queda é que o crescimento econômico está desacelerando, já que os investidores estão convencidos de que o medo de inflação morrerá naturalmente.
Seria admissível argumentar que tanto ações como títulos públicos, em lugar de divergir, estão na verdade ambos apontando para uma aterrissagem suave na economia. Os movimentos respectivos de ambos os mercados foram exacerbados pelos grandes montantes de capital que continuam procurando por um lar, em todo o mundo. A forte liquidez foi alimentada pelo fato de que as taxas de juros continuam baixas, em termos históricos.
Talvez a lição a extrair do desempenho de bônus e ações é que trata-se mais de um lembrete de que a liquidez global se mantém forte e de que os investidores, à medida que abandonam as preocupações com a inflação, parecem estar dispostos a continuar empurrando para cima as cotações dos ativos.


Tradução de PAULO MIGLIACCI


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