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Títulos e ações entram em "luta" nos EUA
Mercados se defrontam quanto às perspectivas econômicas do país; se imóveis despencarem, Fed pode reduzir juro em 2007
Nos últimos três meses, o ganho dos papéis de dez anos do Tesouro caiu de 5,25% para 4,65%, abaixo das taxas de curto prazo
DO "FINANCIAL TIMES"
Será que Wall Street está se
preparando para um confronto
de titãs? Vem crescendo a opinião de que existe sério desacordo entre os mercados de ações e títulos quanto às perspectivas econômicas dos EUA.
Para os defensores dessa tese,
com os dois mercados se defrontando em cantos opostos
do ringue, é inevitável que um
deles saia machucado.
É fácil perceber de onde deriva essa análise. Nos últimos
três meses, o rendimento dos
papéis de dez anos do Tesouro
americano caiu de 5,25% para
4,65%, bem abaixo das taxas de
juros de curto prazo. Uma interpretação popular é que os
investidores temem que um colapso do mercado de imóveis
cause devastação na economia
dos EUA. Isso poderia forçar o
Fed a reduzir agressivamente
as taxas de juros em 2007.
Outros mercados parecem
discordar. Tomemos por exemplo o dólar. Embora a moeda
deva ser sensível às expectativas quanto ao crescimento dos
EUA e ao nível das taxas de juros, sua cotação se manteve, em
termos gerais, estável.
As ações parecem estar ainda
mais fora de sincronia. Os índices Dow Jones e S&P 500 subiram, ambos, mais de 8% desde
as baixas registradas em julho.
De fato, há método por trás
da aparente loucura da resposta de cada mercado. É bastante
comum que papéis do Tesouro
subam em valor (e caiam em
termos de rendimento) quando
as ações estão fortes. Afinal, o
declínio nas taxas de juros dos
títulos do Tesouro torna dividendos e fluxo de caixa das empresas privadas relativamente
mais atraentes. Isso faz com
que a reação do mercado de
ações pareça menos excêntrica.
A situação parece até mais
racional caso seja levado em
conta o período difícil que as
ações enfrentaram anteriormente no ano, mesmo que os
lucros das empresas tenham
continuado a subir.
Os investidores estavam
preocupados com os preços
elevados do petróleo, inflação e
números fracos da habitação.
Mas o preço de energia caiu
muito e os temores de que a inflação pudesse forçar o Fed a
sufocar o crescimento econômico se transformaram em esperança de que os juros caiam
-fatos positivos para as ações.
Quanto ao mercado de títulos públicos, os efeitos de uma
desaceleração na habitação são
claramente importantes. Mas a
recente movimentação dos
rendimentos não representa
simplesmente o medo de uma
desaceleração econômica causada por crise nos imóveis.
Os rendimentos dos papéis
do Tesouro foram surpreendentemente baixos por alguns
anos. Uma interpretação para a
queda é que o crescimento econômico está desacelerando, já
que os investidores estão convencidos de que o medo de inflação morrerá naturalmente.
Seria admissível argumentar
que tanto ações como títulos
públicos, em lugar de divergir,
estão na verdade ambos apontando para uma aterrissagem
suave na economia. Os movimentos respectivos de ambos
os mercados foram exacerbados pelos grandes montantes
de capital que continuam procurando por um lar, em todo o
mundo. A forte liquidez foi alimentada pelo fato de que as taxas de juros continuam baixas,
em termos históricos.
Talvez a lição a extrair do desempenho de bônus e ações é
que trata-se mais de um lembrete de que a liquidez global se
mantém forte e de que os investidores, à medida que abandonam as preocupações com a inflação, parecem estar dispostos
a continuar empurrando para
cima as cotações dos ativos.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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