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Senado dos EUA expande e aprova pacote
Por 74 votos a 25, Casa aprova plano de até US$ 850 bi, com US$ 150 bi adicionais em cortes de tributos para ampliar apoio
Governo muda o tom de
defesa, ao dizer que o que
está em jogo é o crédito para
a classe média; Câmara deve
votar plano até amanhã
SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON
Por 74 votos a favor e 25 contra, o Senado norte-americano
aprovou ontem à noite com folga o pacote de resgate do mercado financeiro proposto pelo
governo norte-americano, o
maior da história do país. Com
as mudanças acrescentadas pelos políticos para ajudar que a
medida passasse, o total previsto do plano pula dos US$ 700
bilhões originalmente pedidos
para US$ 850 bilhões.
Agora, deve ir à Câmara dos
Representantes (deputados federais), onde será votado amanhã. A aprovação no Senado
melhorou as perspectivas de
passagem do projeto por essa
Casa, que o rejeitou na segunda-feira, derrubando o mercado mundial. Se todos os que foram a favor então mantiverem
sua opinião na sexta, o governo
precisa virar a posição de apenas 12 congressistas.
Se aprovada, vai para sanção
do presidente George W. Bush
e vira lei. Se modificada, terá de
passar por uma comissão bipartidária das duas Casas. Se
rejeitada, o processo é reiniciado ou mesmo interrompido.
"Essa não é uma lei para a Baixa
Manhattan, mas para todo o
país", disse o líder democrata
do Senado, Harry Reid, ao
anunciar a passagem, referindo-se à localização de Wall
Street. A frase seria repetida
com variação pelo líder republicano, Mitch McConnell.
Ambos os candidatos majoritários à sucessão de Bush, o democrata Barack Obama e o republicano John McCain, voltaram a Washington apenas para
participar da sessão e votar a favor. "Não podemos correr o risco de ver as economias dos
EUA e do mundo caírem num
buraco profundo", disse Obama. A única ausência entre os
cem senadores foi de Ted Kennedy, que passa por tratamento
por um câncer.
Bush saudou o resultado:
"Com as melhorias que o Senado fez, acredito que membros
de ambos os partidos da Câmara possam apoiar a medida". A
votação é parte da manobra política do governo Bush e líderes
dos dois partidos majoritários
para aumentar a pressão sobre
a Câmara. Para tanto, foram incluídos dois itens que agradariam a republicanos conservadores e democratas progressistas, principais opositores.
Um deles é um corte generalizado nos impostos da classe
média, de pequenos empresários e de famílias vítimas de acidentes naturais, num total de
mais de 25 milhões de beneficiados, a um custo adicional de
US$ 150 bilhões na próxima década para o pacote. Nessa soma,
entram ainda incentivos fiscais
a empresas que investirem em
energia alternativa e em pesquisa e desenvolvimento.
O outro é o aumento da garantia federal de depósitos bancários individuais dos atuais
US$ 100 mil para US$ 250 mil
-e a derrubada do limite de
empréstimo que o FDIC, órgão
que garante as operações do setor bancário nos EUA, pode pedir ao Tesouro para garantir esses depósitos.
O objetivo é acalmar o cliente
e evitar não só uma corrida aos
caixas como a transferência de
depósitos de pequenas instituições para grandes, o que acabaria por quebrar as primeiras.
Era ponto de honra da poderosa associação de pequenos e
médios bancos, de grande influência sobre republicanos.
As alterações se somam às
feitas antes do envio à Câmara,
no domingo, que incluíram
parcelamento da liberação do
dinheiro, limites de pagamento
a executivos das empresas que
forem auxiliadas pelo governo,
possibilidade de participação
nessas empresas por meio de
ações e a criação de órgão subordinado ao Congresso que vigiará as ações do Tesouro.
O plano original pulou de 2,5
páginas para 110 na Câmara e as
451 de ontem no Senado -o
salto entre as Casas se deve
também ao fato de a medida ter
sido incluída como emenda de
uma legislação sobre direitos
de aposentados já votada pela
Câmara, como maneira de atravessar a burocracia.
O governo passou o dia inteiro em negociações com o Congresso, que viu o vento da pressão popular mudar de lado, de
ostensivamente contra a aprovação para parcialmente favorável à medida (leia texto ao lado). Foi auxiliado na pressão
por entidades empresariais e
de comércio e lobistas. À tarde,
pela sexta vez em seis dias,
Bush voltou ao assunto.
"É importante fazer o crédito
voltar a circular para que pequenos negócios em nossas comunidades possam financiar
suas operações", disse, "para
que pequenas municipalidades
tenham dinheiro para cuidar
da necessidade de seus cidadãos e para que Estados respondam suas necessidades."
A Casa Branca mudou o tom
de defesa de seu plano, que prevê a maior intervenção federal
no mercado financeiro da história do país. Segundo a nova
retórica oficial, em jogo agora
não estão mais as instituições
financeiras de Wall Street, mas
o crédito para o norte-americano médio, os pequenos empresários -a classe média.
A guinada veio depois da derrota de segunda-feira, em que
tanto os líderes republicanos
quanto os democratas não anteciparam o peso que a rejeição
popular ao pacote teria na decisão do baixo clero da Câmara
dos Representantes. A totalidade das cadeiras dessa Casa está
em jogo nas eleições de 4 de novembro, ante apenas um terço
das do Senado.
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