São Paulo, quinta-feira, 02 de outubro de 2008

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Mercado Aberto

GUILHERME BARROS - guilherme.barros@uol.com.br

Banco Central não descarta hipótese de baixar compulsório

Nos últimos dias, com a ampliação do aperto generalizado do crédito no Brasil, as pressões para o Banco Central baixar o compulsório têm aumentado significativamente e a medida até faz parte do elenco de alternativas que vêm sendo estudadas pelo governo para injetar mais liquidez no mercado.
O BC está monitorando com lupa o comportamento do crédito no sistema financeiro e não descarta a possibilidade de reduzir o compulsório, mas ainda quer esperar mais um pouco para não tomar uma medida tão importante como essa de forma precipitada.
O argumento é que o BC não pode fazer uma mudança de caráter estrutural no sistema financeiro, que não pode ser revista num prazo curto, tendo como fundamento o comportamento do mercado em apenas uma semana.
Se fosse agir com base nos últimos dias, o BC certamente teria baixado o compulsório. As medidas tomadas recentemente de adiamento da aplicação do compulsório sobre o leasing e mesmo a venda de dólar das reservas não foram suficientes para atender as necessidades de liquidez do mercado.
A redução do compulsório também iria contrariar a política monetária austera adotada pelo Banco Central nos últimos meses. Todas as indicações são que o BC não vai promover uma mudança de rota, ainda que, na próxima reunião do Copom, aumente em meio ponto a taxa básica de juros, em vez do 0,75 das últimas reuniões.
Apesar da desaceleração da inflação, o que pesa agora é a desvalorização do câmbio, que pode ter um impacto sobre a inflação nos próximos meses.
Na verdade, a expectativa do BC é que, caso seja aprovado, o pacote do Tesouro americano de socorro das instituições financeiras promova um alívio no mercado e possibilite o estabelecimento das linhas de financiamento externo para o Brasil. Na semana passada, com a perspectiva de aprovação do pacote, depois frustrada, as linhas quase se normalizaram.
O fato, no entanto, é que o desenho do sistema financeiro mudou bastante com a crise e o restabelecimento das linhas externas pode demorar mais do que se imagina. Instituições financeiras que tinham grandes linhas de financiamento com o Brasil, como o bancos Wachovia, comprado pelo Citigroup, e o Fortis, que foi nacionalizado, mudaram de mãos e não se sabe como eles irão atuar.
O Banco Central está consciente disso, mas prefere agir com calma, sem ansiedade. O Brasil é, até agora, um dos países que menos sofreram com a crise. A Irlanda praticamente estatizou todo o seu sistema financeiro, Hong Kong e França estão lançando um amplo pacote de resgate do setor financeiro, o Reino Unido já vem há algum tempo socorrendo o setor e o Banco Central Europeu também adotou um pacote de socorro dos bancos, numa ação conjunta com o Fed (o Federal Reserve, o BC americano).
O Brasil não passou por nada disso e foi um dos últimos países a enfrentar o problema de restrição ao crédito. A expectativa do Banco Central é que tão logo a situação se normalize o Brasil também seja um dos primeiros a ter as linhas de crédito externas restabelecidas.

CONTROLE
Na avaliação do ministro das Comunicações do Japão, Akira Terasaki, os brasileiros não devem comprar conversores para TV digital agora. "Não faz sentido comprar enquanto houver transmissão analógica simultânea", diz o ministro. O melhor, segundo Terasaki, é esperar a queda de preços dos aparelhos de TV digital.

REMOTO
Terasaki se reuniu ontem com Hélio Costa. Foi cobrado em relação à implantação da fábrica de semicondutores, suposta contrapartida à opção do Brasil pelo padrão japonês. O ministro japonês prometeu repassar às indústrias locais as melhorias feitas pelo Brasil em redução de encargos tributários e de aprimoramento de RH.

DIETA NO BOLSO
A Danone começou a vender um pacote com seis iogurtes por 1 na França, em um momento em que a estagnação salarial já ameaça o consumo, segundo a Bloomberg. O produto não tem embalagem de papelão para reduzir o preço.

INTERNAUTA
Na estréia do Wal-Mart no comércio eletrônico, o primeiro pedido fechado, no dia 30, à 0h48, foi um jogo de xadrez para PC, por R$ 32,26. Houve muita busca por tecnologia. O produto mais visitado foi o notebook com roteador de wireless.

NO COFRE
Barras de ouro representadas no museu do Banco da Inglaterra; o temor da crise global provocou uma corrida ao ouro sem precedentes; a busca frenética tem sido por barras e moedas com destino aos cofres e tem partido de investidores mais ricos; Jeremy Charles, presidente da associação do mercado de ouro de Londres, nunca viu tamanha demanda por ouro físico em toda sua carreira, segundo o "Financial Times"

DEBATE

BRASIL RECEBE CONFERÊNCIA MUNDIAL SOBRE CRÉDITO NESTE MÊS
O Brasil vai sediar, pela primeira vez , a conferência mundial de informação de crédito sobre o consumidor World Consumer Credit Reporting Conference. O evento ocorre entre os dias 19 e 21 no Rio de Janeiro. A Serasa vai receber a conferência, organizada pelas associações de crédito ACCIS (Europa) e CDIA (Estados Unidos), com apoio da Associação Latino-Americana de Credit Bureaus.

NA BAGAGEM
A Le Postiche diz que manterá investimentos em expansão mesmo com a crise na economia.
A empresa chega a 200 lojas neste ano, e a meta é abrir 120 unidades até 2012. Segundo a Le Postiche, mesmo que a crise prejudique o faturamento, há potencial no varejo, principalmente nas classes B e C e nas regiões em que a marca não é vendida. "Se o crédito ficar difÍcil, talvez tenhamos que diminuir o número de parcelas no crédito que oferecemos aos clientes, mas é cedo para prever as conseqüências da crise", diz Alessandra Restaino, diretora de marketing.

com JOANA CUNHA, VERENA FORNETTI e HUMBERTO MEDINA


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