São Paulo, domingo, 02 de novembro de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

"A crise vai durar ao menos dois anos"

DO COLUNISTA DA FOLHA

Nesta parte da entrevista, o presidente do Bradesco, Márcio Cypriano, prevê que a crise durará pelo menos dois anos.

 

FOLHA - Quais as perspectivas para a economia em 2009 e 2010?
MÁRCIO CYPRIANO -
Divulgamos nosso balanço nesta semana [passada] e apontamos projeção para 2009 de avanço de 3% do PIB, inflação de 5% e dólar a R$ 2. Para 2010, acredito que será melhor. A crise deve ser longa, mas isso, para mim, não significa que a economia mundial vai parar e se estagnar.

FOLHA - O pior já passou?
CYPRIANO -
Acredito que sim, mas a volatilidade deverá continuar. As Bolsas reagiram na semana [passada]. Até agora, os investidores diziam que os preços estavam baratos, mas não se arriscavam a comprar. Eles achavam que na semana seguinte estariam mais baratas. Na semana [passada], apareceram compradores. A volatilidade vai continuar, mas os sinais já são alentadores.

FOLHA - Quanto tempo o sr. imagina que durará a crise?
CYPRIANO -
Bem, na crise de 1929, o índice Dow Jones demorou 27 anos para voltar ao nível em que estava. Nessa atual, não vejo chances de uma estabilização antes de dois anos.

FOLHA - Há espaço para o BC baixar os juros?
CYPRIANO -
Por enquanto é melhor aguardar. Essa parada foi providencial. Daqui em diante vamos ver. O dólar subiu, mas o preço das commodities caiu. Tem gente que já defende que a inflação não é primordial. No fundo, o que não precisamos é de mais um assunto polêmico agora. Não vai ajudar em nada politizar o debate a cada véspera de Copom.

FOLHA - Como o sr. vê a tendência de estatização dos bancos no mundo?
CYPRIANO -
Não teremos uma estatização da economia. Eu entendo que o governo vai adquirir participação acionária se houver necessidade de mercado. Olha, apenas no capitalismo é que crises dessa magnitude podem ser superadas. A flexibilidade econômica, a negociação e a democracia permitem que se encontrem as saídas, fortalecendo a economia. Outros modelos não resistiram a uma primeira grande crise. Eles simplesmente acabaram.

FOLHA - Nas crises, somos todos keynesianos?
CYPRIANO -
Não sou economista. O que eu sei é o suficiente para perceber que na crise somos todos mais pragmáticos e o bom senso deve predominar. No Bradesco, aprendemos desde o início da carreira que devemos fazer as coisas de forma descomplicada. Para mim, não existe regime sem governo, pelo menos não sei de nenhum caso. E governo existe para regular. Quando surgem os grandes problemas, econômicos ou catástrofes naturais, é dever do governo cumprir seu papel de defender e zelar pelo bem-estar da sociedade e da economia.


Texto Anterior: "Não acredito que a MP 443 vá ser usada"
Próximo Texto: Frases
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.