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"A crise vai
durar ao menos dois anos"
DO COLUNISTA DA FOLHA
Nesta parte da entrevista, o presidente do Bradesco, Márcio Cypriano, prevê que a crise durará pelo
menos dois anos.
FOLHA - Quais as perspectivas para a economia em 2009
e 2010?
MÁRCIO CYPRIANO - Divulgamos nosso balanço nesta semana [passada] e
apontamos projeção para
2009 de avanço de 3% do
PIB, inflação de 5% e dólar
a R$ 2. Para 2010, acredito
que será melhor. A crise
deve ser longa, mas isso,
para mim, não significa
que a economia mundial
vai parar e se estagnar.
FOLHA - O pior já passou?
CYPRIANO - Acredito que
sim, mas a volatilidade deverá continuar. As Bolsas
reagiram na semana [passada]. Até agora, os investidores diziam que os preços estavam baratos, mas
não se arriscavam a comprar. Eles achavam que na
semana seguinte estariam
mais baratas. Na semana
[passada], apareceram
compradores. A volatilidade vai continuar, mas os sinais já são alentadores.
FOLHA - Quanto tempo o sr.
imagina que durará a crise?
CYPRIANO - Bem, na crise
de 1929, o índice Dow Jones demorou 27 anos para
voltar ao nível em que estava. Nessa atual, não vejo
chances de uma estabilização antes de dois anos.
FOLHA - Há espaço para o BC
baixar os juros?
CYPRIANO - Por enquanto é
melhor aguardar. Essa parada foi providencial. Daqui em diante vamos ver.
O dólar subiu, mas o preço
das commodities caiu.
Tem gente que já defende
que a inflação não é primordial. No fundo, o que
não precisamos é de mais
um assunto polêmico agora. Não vai ajudar em nada
politizar o debate a cada
véspera de Copom.
FOLHA - Como o sr. vê a tendência de estatização dos bancos no mundo?
CYPRIANO - Não teremos
uma estatização da economia. Eu entendo que o governo vai adquirir participação acionária se houver
necessidade de mercado.
Olha, apenas no capitalismo é que crises dessa magnitude podem ser superadas. A flexibilidade econômica, a negociação e a democracia permitem que se
encontrem as saídas, fortalecendo a economia. Outros modelos não resistiram a uma primeira grande crise. Eles simplesmente acabaram.
FOLHA - Nas crises, somos todos keynesianos?
CYPRIANO - Não sou economista. O que eu sei é o
suficiente para perceber
que na crise somos todos
mais pragmáticos e o bom
senso deve predominar.
No Bradesco, aprendemos
desde o início da carreira
que devemos fazer as coisas de forma descomplicada. Para mim, não existe
regime sem governo, pelo
menos não sei de nenhum
caso. E governo existe para regular. Quando surgem os grandes problemas, econômicos ou catástrofes naturais, é dever do
governo cumprir seu papel de defender e zelar pelo bem-estar da sociedade
e da economia.
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