São Paulo, sábado, 02 de dezembro de 2006

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Câmbio leva importações a crescimento de 26% no ano

Exportação sobe 17%, impulsionada mais pela alta de preços do que pelo volume vendido

Recorde, saldo comercial no ano já passa de US$ 41 bi, com expansão de 1,7% em relação ao desempenho de igual período de 2005


PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

O saldo da balança comercial somou US$ 3,194 bilhões em novembro e acumulou US$ 41,074 bilhões no ano -a cifra é recorde e representa expansão de 1,7% ante o desempenho registrado em igual período de 2005 (R$ 40,379 bilhões).
Em novembro, as exportações atingiram US$ 11,866 bilhões, e as importações ficaram em US$ 8,672 bilhões. No período de janeiro a novembro, as vendas ao exterior chegaram ao recorde de US$ 125,236 bilhões, mais do que os US$ 118 bilhões de todo o ano passado. A importações, por sua vez, totalizaram R$ 84,162 bilhões -também a maior da história.
No acumulado do ano, as exportações cresceram 16,6% ante o mesmo período do ano passado. Impulsionadas pelo câmbio, as importações, porém, avançaram em um ritmo mais acelerado -25,6%.
Apesar dos resultados recordes, especialistas alertam que as exportações só crescem por conta dos bons preços de commodities, já que as quantidades exportadas têm crescido muito pouco, num ritmo menor do que a média mundial.
"Não podemos viver de ilusão. Os números aparentemente são muito bons, mas, se olharmos por dentro, vamos ver que temos um crescimento de 12,5% dos preços e de apenas 3,5% da quantidade exportada, que no comércio mundial cresceu 8%. Significa que estamos crescendo menos do que o comércio mundial", disse Roberto Giannetti da Fonseca, diretor de Relações Internacionais da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo).
Segundo Fonseca, o forte saldo comercial neste ano foi "acidental". "Os preços melhoraram muito", disse.
Tal cenário, diz, é prejudicial à indústria, que não amplia sua produção (ou seja, não aumenta o nível de emprego), embora se beneficie dos preços melhores, especialmente de commodities como açúcar, produtos siderúrgicos e minério de ferro.
O pior, afirma Giannetti, é que as indicações são de preços estáveis ou em queda no próximo ano. "Se a quantidade não crescer, o desempenho de 2007 pode ser muito fraco", prevê.
O secretário de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Armando Meziat, reconhece que o crescimento das exportações tem ocorrido mais em razão dos preços do que por conta do aumento das quantidades. Diz ainda que o câmbio reduziu a competitividade de alguns setores, que diminuíram as exportações, focando as vendas em produtos mais sofisticados (de maior valor) para manter sua receita de exportação.
"Um exemplo é o setor de calçados, que não tinha preço para competir com os produtos chineses e passou a vender peças com maior valor agregado, embora tenha reduzido a produção. O que é perverso, de um certo modo, porque há redução de emprego", avalia Meziat.

"Bom perfil"
A forte expansão das importações, segundo o secretário, ocorre graças ao estímulo do câmbio e à crescente demanda por produtos importados. Ele ressalta que o "bom perfil" das importações, concentradas em matérias-primas (49,5% do total) e máquinas e equipamentos (20,5%) -itens usados na fabricação de outros produtos ou no investimento na ampliação da capacidade produtiva.
Já Giannetti recomendou o incremento das importações para conter a apreciação do real, puxada pelos fortes saldos comerciais, e favorecer, assim, a indústria. Mas diz que, para ampliar importações, é preciso mais crescimento econômico.


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