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EUA vivem recessão desde
dezembro de 07
É a primeira na maior economia do mundo desde 2001 e uma das mais longas desde o "crash" de 1929, aponta instituto
Bolsa de NY despenca 7,7%; atividade industrial cai ao menor nível desde 1982, e Fed admite cortar mais a taxa de juros, hoje em 1%
SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON
A expansão da economia
americana que se iniciou em
novembro de 2001 chegou ao
fim em dezembro do ano passado. Desde então, a atividade
econômica está oficialmente
em recessão. O que diversos índices e o dia-a-dia sugeriam nos
últimos meses foi confirmado
ontem pelo Escritório Nacional
de Pesquisa Econômica
(NBER, na sigla em inglês).
É a primeira recessão desde o
ataque terrorista de 2001 e já
uma das mais longas desde a
Crise de 1929. Ocorre no final
do segundo mandato de George
W. Bush, mais uma das heranças negativas que o republicano
entrega a Barack Obama.
"Sinto muito que [a crise econômica] esteja acontecendo, é
claro", disse Bush em entrevista à emissora ABC que iria ao ar
na noite de ontem -a conversa
foi gravada na quarta, antes do
anúncio oficial. "Obviamente,
não gosto da idéia de as pessoas
perderem empregos."
Assinado por sete economistas ligados à academia, entre
eles Robert Hall (Stanford) e
Martin Feldstein (Harvard), o
relatório aponta o desemprego
atual como fator determinante
para que o início fosse determinado em dezembro de 2007.
Nos primeiros dez meses de
2008, os EUA perderam 1,2 milhão de postos de trabalho -o
desemprego está em 6,5%.
"Recessão é um declínio significativo na atividade econômica espalhado pela economia,
que dura mais que alguns meses, é normalmente visível na
produção, no emprego, na renda pessoal e em outros indicadores", diz a declaração escrita
na sexta e divulgada ontem.
Espécie de instituto de meteorologia econômica ao contrário, pois prevê o passado, o
NBER é uma organização não-governamental que determina
quando o país entrou em recessão e, depois de encerrada, dizer qual foi a duração. Faz isso
sempre com meses de atraso.
Pois, segundo o instituto, o
período mais recente de expansão da economia americana durou 73 meses, ante 120 meses
do anterior, nos anos 1990.
Uma das definições mais comuns de recessão são dois trimestres consecutivos de queda
no PIB. Para o NBER, esse é só
um dos fatores a levar em conta, junto de desemprego, produção industrial, receita e vendas em indústria e comércio.
O anúncio da recessão oficial
ajudou as ações a desabarem
em Nova York -7,7% no índice
Dow Jones, em queda de 680
pontos, com efeito negativo nos
mercados do mundo inteiro.
Chega após o fraco fim-de-semana da "Sexta-Feira Negra", como é chamado o dia seguinte ao feriado de Ação de
Graças nos EUA, uma das datas
mais importantes do comércio
dos EUA. Nesse período, as
vendas cresceram cerca de 3%,
ante 8,3% no mesmo período
de 2007 em relação a 2006.
Também ontem, o Instituto
de Gestão de Oferta (ISM, na sigla em inglês) divulgou que em
novembro a atividade no setor
industrial dos EUA caiu ao menor nível desde maio de 1982,
para 36,2 pontos, ante 38,9 em
outubro. É o 12º mês consecutivo de redução nas encomendas
e pior que os 38 pontos previstos pelos economistas -marcas menores que 50 pontos indicam contração da economia.
A completar o dia de notícias
negativas, o Departamento do
Comércio afirmou que os gastos em construção tiveram
queda de 1,2% em outubro e
baixa de 4,6% em relação ao
mesmo mês do ano passado.
Ainda ontem, o presidente do
Federal Reserve (BC dos EUA),
Ben Bernanke disse que a economia seguirá enfraquecida e
acenou com a possibilidade de
haver novo corte de juros nos
dias 15 e 16. A taxa básica da
economia hoje é de 1% (negativa quando se compara à inflação), mas um novo corte "é certamente factível", disse ele.
O economista alertou, no entanto, de que o tradicional instrumento pode não ser suficiente para reavivar a economia do país. Mas ressaltou que
o Fed dispõe de outras ferramentas e está disposto a continuar a fazer uso delas. Entre
elas, citou a compra de "treasuries", títulos da dívida pública.
"Embora a política convencional de juros básicos seja restrita pelo fato de a taxa básica
nominal não poder cair abaixo
de zero, a segunda flecha no
coldre do Fed, a injeção de liquidez, permanece efetiva",
disse Bernanke, para então
enumerar as diversas maneiras
que o banco tem de colocar
mais dinheiro na economia.
Além disso, no final do dia, o
secretário do Tesouro, Henry
Paulson, disse que o governo
estava trabalhando em novos
programas para fortalecer o
crédito. "Quando esses programas estiverem prontos para
implantação, vamos discutir os
detalhes com o Congresso e a
próxima administração."
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