São Paulo, terça-feira, 02 de dezembro de 2008

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Banco Mundial prevê retração de 1% no comércio em 2009

Declínio das exportações chinesas deve motivar o primeiro resultado negativo nas transações internacionais desde 1982

Brasil será afetado por queda na demanda geral e no preço das matérias-primas; escassez de crédito também deve ser obstáculo


MARCELO NINIO
ENVIADO ESPECIAL A DOHA

A já esperada retração que o comércio mundial deve ter em 2009, a primeira em 27 anos, chegará a 1%. A previsão é do economista-chefe do Banco Mundial, Justin Lin, a primeira autoridade a colocar uma cifra em um recuo que deve ser puxado não apenas pela recessão nas economias desenvolvidas, mas também pela redução da atividade na China.
Segundo as estimativas de Lin, o comércio exterior chinês no próximo ano não deve passar de 3,5%, depois de ter atingido o patamar de dois dígitos em 2006 e 2007. O forte declínio das exportações da China, explicou o economista à Folha, será um dos motivos que levarão o comércio global a ter o primeiro crescimento negativo desde 1982.
Embora ainda não tenha números sobre o comércio exterior do Brasil em 2009, Lin diz que o país não escapará da queda mundial. "Mesmo com a diversificação do destino de suas exportações, o Brasil será afetado pelas quedas na demanda geral e nos preços das matérias-primas, e também pela escassez de crédito", diz Lin.
Em um estudo divulgado durante a Conferência da ONU de Financiamento para o Desenvolvimento, em Doha, o Banco Mundial prevê "uma dramática desaceleração no crescimento das exportações dos países em desenvolvimento" em razão da recessão em países ricos.
Além disso, o volume de remessas de trabalhadores no exterior para países em desenvolvimento já começou a cair, diz a instituição, lembrando que esses recursos bateram a marca de US$ 250 bilhões em 2007. Para 36 países, eles ultrapassaram o total de investimentos estrangeiros, tornando-se uma fonte vital de renda.
Justin Lin diz que "só uma ação coordenada, sistemática e decisiva" poderá reverter o ciclo de desaceleração da economia mundial, destravar o crédito e reativar a produção e o consumo. Ele acha que os pacotes apresentados até agora nos EUA e na Europa estão "na direção certa", mas não palpita sobre a duração da crise.
O Banco Mundial está "em situação muito boa" para ajudar os países em desenvolvimento a atravessar a crise, afirma Lin, com capacidade de emprestar US$ 300 bilhões em 2009. Ele concorda que isso cria o risco de países pobres voltarem a se endividar, mas diz que isso pode ser evitado se os recursos forem investidos de forma eficiente, contra "gargalos de infra-estrutura".
Primeiro economista-chefe oriundo de um país emergente na história do Banco Mundial, Lin rejeita a afirmação de que a instituição está resistindo ao clamor de reformas que ocupa o centro do debate sobre a crise. Em Doha, a ausência do presidente da instituição, Robert Zoelick, é vista como um sinal inequívoco dessa relutância.
"Criamos uma comissão para estudar essas possíveis reformas, sob a chefia do ex-presidente do México, Ernesto Zedillo, e o presidente Zoelick tem se manifestado com freqüência a favor delas", diz Lin.


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