São Paulo, terça-feira, 02 de dezembro de 2008

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Crise e chuva impedem meta de exportação

Com tensão externa e enchente em SC, governo diz que país não cumprirá objetivo de exportar US$ 202 bi em 2008

Tanto exportações como importações recuam em novembro; saldo da balança acumulado no ano é de US$ 22,43 bi, queda de 39%


IURI DANTAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A crise financeira internacional e as enchentes em Santa Catarina levaram o governo a admitir pela primeira vez ontem que o país não vai cumprir a meta de exportar US$ 202 bilhões neste ano e prever dificuldades maiores para 2009.
Os dados de novembro indicam queda de 12,5% nas exportações e de 16,5% nas importações em relação a outubro. O governo esperava crescimento de ambos. "Esperamos chegar muito próximo à meta. Caso não se atinjam os US$ 202 bilhões, devemos conseguir pelo menos US$ 200 bilhões", disse o secretário de Comércio Exterior, Welber Barral.
O superávit comercial do ano, que auxilia o governo a fechar as contas externas do país, chegou a US$ 22,43 bilhões, uma redução de 38,6% sobre os mesmos números de 2007. Os dados indicam forte desaceleração da economia brasileira, de acordo com a análise de especialistas ouvidos pela Folha.
De janeiro a novembro, as empresas brasileiras exportaram US$ 184,13 bilhões, valor 25% superior aos primeiros 11 meses do ano passado.
"As exportações caíram muito e essa queda reflete a recessão que o mundo está vivendo", afirmou o economista Rogério Cesar Souza, do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial).
As importações somaram US$ 161,69 bilhões no acumulado do ano, um crescimento de 46,3% em relação ao mesmo período de 2007. "Estou muito assustado, se [o resultado das exportações] for impacto da crise financeira, é muito maior do que todo mundo imaginava", disse José Augusto de Castro, vice-presidente da AEB (Associação de Comércio Exterior do Brasil).
A queda nas compras do exterior demonstra que a indústria brasileira está comprando menos máquinas, equipamentos e insumos lá fora, um indício de que os empresários apostam em mais dificuldades.
O problema nesse caso é também o ritmo de queda. A média diária de importação bateu em US$ 431 milhões na última semana do mês passado, contra US$ 786,6 milhões em outubro. Segundo Castro, isso pode representar dificuldades das empresas com crédito.
Para Barral, outro fator que explica a redução no comércio exterior é o comportamento do dólar, que dificulta o planejamento das empresas. "Essa instabilidade gera insegurança no mercado e afeta tanto as exportações quanto as importações."
Segundo Souza, do Iedi, os números servem de alerta para a possibilidade de recessão ou mesmo depressão econômica no país. "Os indicadores já mostram que as expectativas dos empresários foram lá para baixo, por isso uma queda tão abrupta nas importações."
Os dados do Ministério do Desenvolvimento demonstram que a queda nos preços das commodities nos últimos meses prejudicou as exportações. Carne de frango (-11,5%), carne bovina (-26,7%), milho (-36,3%) e alumínio (-54,3%) apresentaram queda nas vendas ante novembro de 2007.
Um dos principais vilões da balança foi o petróleo. A queda no preço fez o Brasil vender US$ 600 milhões a menos.


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