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IOF derruba negociação externa na Bolsa
Participação de investidor estrangeiro no total girado na Bovespa atinge o menor patamar desde dezembro de 2004
Recuo foi de 33,7% em outubro para 28,1% em novembro; fundos e pessoas físicas passam estrangeiros na movimentação do mês
FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
No primeiro mês fechado
após o início da cobrança de
IOF sobre o capital externo
destinado a operações com
ações brasileiras, a parcela dos
estrangeiros nos pregões da Bovespa desceu a seu mais baixo
patamar em quase cinco anos.
Os investidores externos responderam por 28,1% do total
movimentado na Bolsa brasileira em novembro -até o penúltimo pregão do mês. É o menor percentual desde os 27% de
dezembro de 2004. Em outubro, a categoria respondeu por
33,7% do total. O encolhimento
na movimentação externa se
refletiu no número de transações totais realizadas em pregão, que teve redução de 12,6%
de outubro para novembro.
Quando o governo anunciou
que passaria a cobrar 2% de
IOF (Imposto sobre Operações
Financeiras) do capital externo
que aplicasse em ações, na noite de 19 de outubro, o diretor-presidente da BM&FBovespa,
Edemir Pinto, reclamou que a
medida espantaria o estrangeiro e prejudicaria o mercado local. Isso porque a Bolsa tem importante renda nas taxas que
cobra nas operações.
Carlos Constantini, diretor
da Itaú Corretora, diz que,
quando foi anunciada, a medida
"parecia ser muito nociva" e
"gerou uma correção importante". Tanto que o governo
acabou anunciando a cobrança
de 1,5% de IOF de certas operações com ADRs -recebidos de
ações brasileiras negociados
em Nova York. Dessa forma,
buscou evitar que os estrangeiros trocassem as ações locais
pelos ADRs, como começou a
ocorrer, segundo operadores,
no início de novembro.
Com a diminuição da participação dos estrangeiros, categorias locais reassumiram a posição de líderes de negociação. A
pessoa física respondeu 30,9%
das operações de novembro,
enquanto o investidor institucional ficou com 28,4%.
Em tese, se a Bolsa tem uma
dependência maior do capital
externo, fica mais exposta aos
humores internacionais. No
ano passado, quando a crise
global atingiu seu auge, a fuga
de recursos externos da Bolsa
foi recorde -saíram líquidos
R$ 24,6 bilhões. E a Bovespa registrou sua mais expressiva
queda (41,22%) desde 1972.
Mudança de regras
"Um reflexo importante do
IOF, talvez mais até do que o
custo em si, é o aumento das incertezas dos investidores, por
significar mudança de regras.
Cria-se também o temor de que
novas medidas sejam adotadas
no meio do caminho. Mas esses
efeitos, desde que nada de novo
ocorra, tendem a ser temporários, por dois ou três meses",
disse Roberto Padovani, estrategista-chefe do WestLB.
O número de participantes
internacionais na Bolsa brasileira cresceu substancialmente
nos últimos anos. Segundo o diretor-presidente da BM&FBovespa, o número de clientes estrangeiros saltou de 2.000 em
2006 para cerca de 5.000 hoje.
Ao decidir criar a taxação, o
governo estava, na realidade,
preocupado com a depreciação
do dólar, e não com os movimentos da Bolsa de Valores.
Em outubro, o dólar bateu em
R$ 1,70 e aumentou a chiadeira
do setor exportador, prejudicado pelo real forte.
Desde lá, a moeda norte-americana não desceu abaixo
de R$ 1,70. Mas também não
ganhou muito fôlego, tendo encerrado ontem a R$ 1,723.
Constantini diz que já nota
um retorno mais forte dos estrangeiros. Para ele, as projeções cada vez melhores de crescimento da economia brasileira em 2010 mantêm a Bovespa
no radar do capital externo.
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