São Paulo, quarta-feira, 02 de dezembro de 2009

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IOF derruba negociação externa na Bolsa

Participação de investidor estrangeiro no total girado na Bovespa atinge o menor patamar desde dezembro de 2004

Recuo foi de 33,7% em outubro para 28,1% em novembro; fundos e pessoas físicas passam estrangeiros na movimentação do mês

FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

No primeiro mês fechado após o início da cobrança de IOF sobre o capital externo destinado a operações com ações brasileiras, a parcela dos estrangeiros nos pregões da Bovespa desceu a seu mais baixo patamar em quase cinco anos.
Os investidores externos responderam por 28,1% do total movimentado na Bolsa brasileira em novembro -até o penúltimo pregão do mês. É o menor percentual desde os 27% de dezembro de 2004. Em outubro, a categoria respondeu por 33,7% do total. O encolhimento na movimentação externa se refletiu no número de transações totais realizadas em pregão, que teve redução de 12,6% de outubro para novembro.
Quando o governo anunciou que passaria a cobrar 2% de IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) do capital externo que aplicasse em ações, na noite de 19 de outubro, o diretor-presidente da BM&FBovespa, Edemir Pinto, reclamou que a medida espantaria o estrangeiro e prejudicaria o mercado local. Isso porque a Bolsa tem importante renda nas taxas que cobra nas operações.
Carlos Constantini, diretor da Itaú Corretora, diz que, quando foi anunciada, a medida "parecia ser muito nociva" e "gerou uma correção importante". Tanto que o governo acabou anunciando a cobrança de 1,5% de IOF de certas operações com ADRs -recebidos de ações brasileiras negociados em Nova York. Dessa forma, buscou evitar que os estrangeiros trocassem as ações locais pelos ADRs, como começou a ocorrer, segundo operadores, no início de novembro.
Com a diminuição da participação dos estrangeiros, categorias locais reassumiram a posição de líderes de negociação. A pessoa física respondeu 30,9% das operações de novembro, enquanto o investidor institucional ficou com 28,4%.
Em tese, se a Bolsa tem uma dependência maior do capital externo, fica mais exposta aos humores internacionais. No ano passado, quando a crise global atingiu seu auge, a fuga de recursos externos da Bolsa foi recorde -saíram líquidos R$ 24,6 bilhões. E a Bovespa registrou sua mais expressiva queda (41,22%) desde 1972.

Mudança de regras
"Um reflexo importante do IOF, talvez mais até do que o custo em si, é o aumento das incertezas dos investidores, por significar mudança de regras. Cria-se também o temor de que novas medidas sejam adotadas no meio do caminho. Mas esses efeitos, desde que nada de novo ocorra, tendem a ser temporários, por dois ou três meses", disse Roberto Padovani, estrategista-chefe do WestLB.
O número de participantes internacionais na Bolsa brasileira cresceu substancialmente nos últimos anos. Segundo o diretor-presidente da BM&FBovespa, o número de clientes estrangeiros saltou de 2.000 em 2006 para cerca de 5.000 hoje.
Ao decidir criar a taxação, o governo estava, na realidade, preocupado com a depreciação do dólar, e não com os movimentos da Bolsa de Valores. Em outubro, o dólar bateu em R$ 1,70 e aumentou a chiadeira do setor exportador, prejudicado pelo real forte.
Desde lá, a moeda norte-americana não desceu abaixo de R$ 1,70. Mas também não ganhou muito fôlego, tendo encerrado ontem a R$ 1,723.
Constantini diz que já nota um retorno mais forte dos estrangeiros. Para ele, as projeções cada vez melhores de crescimento da economia brasileira em 2010 mantêm a Bovespa no radar do capital externo.


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