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Brasil e China viram porto seguro para investidores na crise
Após crise em Dubai, aplicadores procuram refúgio em títulos
de países emergentes, que têm situação fiscal mais saudável
Tensão sobre moratória de
emirado afeta mais nações
europeias como Irlanda
e Grécia, devido ao seu
alto grau de endividamento
DAVID OAKLEY
DO "FINANCIAL TIMES"
Grécia, Irlanda e Hungria
-países cujos níveis de endividamento são vistos como perigosamente altos e ascendentes- estiveram entre os mercados mais prejudicados pelo pânico com relação à moratória
de Dubai, devido ao medo de
contágio entre os investidores.
Mas a regra de investimento
que dispunha vender ativos de
mercados emergentes e comprar papéis dos mercados desenvolvidos, tradicionalmente
mais seguros, nos momentos
de crise parece ter sido virada
de cabeça para baixo depois do
impasse sobre a dívida do emirado do golfo Pérsico surgido
na semana passada.
Os títulos de mercados emergentes como Brasil e China registraram pesado fluxo de recursos e estão sendo tratados
como refúgios pelos investidores, devido à situação mais saudável das finanças públicas nos
dois países, enquanto os mercados de títulos de dívida da
Grécia e da Irlanda viram uma
forte onda de vendas.
Esse fator sublinha a mudança na dinâmica da economia
mundial. Os riscos do alto endividamento dos países industrializados se tornaram uma
das maiores preocupações para
os investidores.
Muitas economias emergentes, devido ao seu baixo endividamento e à gestão econômica
prudente, parecem ter sobrevivido à crise de maneira mais
efetiva que os países mais ricos.
Em 2010, a relação entre dívida pública e PIB deve subir a
111% e 80% na Grécia e na Irlanda, respectivamente. Em
contraste, as projeções para a
relação dívida/PIB na China e
no Brasil estão estáveis em 46%
e 65%, respectivamente.
Nigel Rendell, estrategista
sênior de mercados emergentes na RBC Capital Markets, diz
que "muitos dos países com as
mais altas dívidas públicas estão no grupo dos industrializados. Grécia e Irlanda têm alto
endividamento e é por isso que
seus títulos passaram a sofrer
pressões no mercado nos últimos dias".
O Japão tem a maior relação
dívida/PIB no mundo. A projeção é que ela supere os 200%
em 2010, enquanto para os
EUA e o Reino Unido a projeção é de alta para 97% e 89%,
respectivamente.
Gary Jenkins, diretor de pesquisa sobre mercados de renda
fixa na Evolution, diz que "os
governos dos países industrializados na prática se hipotecaram até o limite a fim de escapar da crise financeira. Essas
dívidas terão de ser pagas um
dia, e isso significa preocupação continuada quanto à situação delas, para os investidores,
até que o valor seja reduzido".
Muitos analistas afirmam
que o pânico quanto à moratória de Dubai deve passar logo,
porque se trata de uma economia minúscula cujos problemas ficam confinados ao emirado. Mas o impasse quanto à
sua dívida redespertou uma das
maiores preocupações dos investidores: o elevado endividamento de muitas economias.
Caso os níveis de dívida não
sejam reduzidos, economias
como as da Grécia e da Irlanda
continuarão vulneráveis a futuros choques financeiros, e é
provável que seus mercados venham a sofrer novas pressões.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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