|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
LUÍS NASSIF
O Brasil e a conferência de Kyoto
A Amazônia é o pulmão do
mundo, logo deve ser considerada patrimônio da humanidade.
A Amazônia é pulmão do mundo, logo o Brasil deve receber royalties sobre o oxigênio produzido.
Nos últimos anos, a discussão
ambiental se revestiu de inúmeros mitos, com pouco significado
prático. Nos países desenvolvidos
o chamado "efeito estufa" (efeitos da poluição sobre a camada
de ozônio da Terra) frequenta todas as projeções sobre o futuro da
economia mundial.
Muitos cientistas definem seus
cenários em "com ampliação do
efeito estufa", "com redução do
efeito estufa". Os efeitos serão
não apenas sobre o desempenho
da economia como um todo, como sobre as relações entre países
industrializados e países emergentes.
Aberta esta semana, a reunião
de Kyoto sobre meio ambiente
(chamada de "Terceira Conferência das Partes da Organização
das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas") é capítulo importante na definição da política
ambiental mundial para os próximos anos.
Do lado dos países industrializados havia (e ainda há) a tendência de tentar impor regras de
conservação dos recursos naturais do Sul, ou de encontrar tecnologias menos poluentes, que
acabam por destronar as velhas
indústrias dos países pobres.
A mudança de postura internacional teve início a partir da
consciência de que apenas as
chamadas forças de mercado não
seriam suficientes para impedir a
tragédia ambiental.
As primeiras negociações internacionais visavam fazer com que
até o ano 2000 os países desenvolvidos limitassem suas emissões de
gases de "efeito estufa" aos níveis
de 1990. Praticamente todos os
países da OCDE (o grupo dos
mais ricos) desrespeitaram o
acordo.
Nos anos seguintes, os trabalhos
científicos do IPCC -Painel Intergovernamental sobre a Mudança do Clima- ajudaram na
formação de um consenso mais
forte sobre a matéria. A partir da
compilação dos últimos estudos
internacionais, constatou-se que
o "efeito estufa" é decorrente de
abusos que começaram a ser cometidos 150 anos atrás, nos primórdios da Revolução Industrial.
Os abusos atuais só se farão sentir nos próximos 150 anos.
A partir dessa reviravolta no
estudo ambiental, houve mudança progressiva nos fóruns internacionais. Seguiram-se série de
convenções internacionais, que
acabaram fortalecendo dois conceitos-chave: os princípios do
"poluidor-pagador" e das "responsabilidades comuns, mas diferenciadas", que surgem a partir
da Declaração do Rio, de 1992 e
na Convenção Quadro do Clima.
A posição brasileira
Na Conferência do Rio, em
1992, havia razoável consenso internacional, que permitiu a assinatura da "Agenda 21" -conjunto de medidas visando a preservação do meio ambiente.
Na Primeira Conferência das
Partes (1995, em Berlim), reconheceu-se a necessidade de limitações futuras mais drásticas, à
luz das novas evidências científicas.
Na Segunda Conferência das
Partes (1996, Genebra), as Organizações Não-Governamentais e
a pressão européia ajudaram a
convencer o governo americano
da necessidade de metas mandatórias de redução de emissões, a
serem negociadas na rodada de
Kyoto.
Na Terceira Conferência irão
ser definidas metas unicamente
para os países desenvolvidos, evitando-se novos compromissos
para países em desenvolvimento.
A proposta brasileira parte do
princípio de que, se os problemas
enfrentados hoje decorrem de
abusos cometidos há 150 anos,
quem deve pagar a conta são os
industrializados.
Essa é a síntese da proposta
brasileira, a ser levada à reunião
-conforme o embaixador Antônio A. Dayreel de Lima, diretor-geral para Temas Especiais
do Ministério das Relações Exteriores (MRE).
Com base nessas constatações,
a proposta estabelece "tetos de
emissão" para a redução da influência das emissões dos países
industrializados nas mudanças
climáticas globais. Os países poderão intercambiar frações de
seus respectivos tetos, conforme o
desempenho dos seus programas
de reduções de emissões. Caso
não consigam cumprir suas metas, esses países seriam obrigados
a contribuir financeiramente para um fundo voltado para o financiamento de projetos ("climate change projects") para o
crescimento limpo nos países em
desenvolvimento.
A escolha dos projetos para financiamento seria proporcional
ao nível das emissões dos países
não-desenvolvidos.
E-mail: lnassif@uol.com.br
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|