São Paulo, sábado, 03 de janeiro de 2009

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Corte dos juros pouco ajuda os de baixa renda

DE NOVA YORK

A queda no consumo e as projeções negativas para a economia e para o emprego neste ano confirmam as expectativas de especialistas de que o corte na taxa básica de juros do Fed (o BC dos Estados Unidos) traria benefício limitado para as classes média e baixa norte-americanas -ao menos enquanto durar a pior fase da crise.
O Fed cortou em dezembro a taxa de juros de 1% para uma banda que vai de zero a 0,25% ao ano. Também anunciou novas linhas de crédito direto que chegariam mais facilmente à ponta -o consumidor. Mas, por enquanto, o balanço mensal de grande parte das famílias continua no buraco.
"O corte [dos juros] aumenta a oferta de crédito disponível, mas a questão é se os consumidores se sentem confiantes o suficiente para tomar emprestado agora", disse à Folha Jim Hanson, vice-presidente de finanças pessoais da Associação Nacional de Uniões de Crédito.
Para Guy Stuart, professor de políticas públicas da Universidade Harvard e autor de "Analisando o Risco: A Indústria de Empréstimos Imobiliários no Século 20" ("Discriminating Risk: The U.S. Mortgage Lending Industry in the Twentieth, Century"), só quem está da metade para cima da pirâmide social verá o efeito das ações do Fed. "Sou muito cético quanto aos efeitos desses cortes na população que realmente precisa de ajuda."
Stuart concorda que o corte dos juros tem efeitos imediatos para renegociações de dívidas imobiliárias e cartões de crédito, entre outros. O problema é que o alcance é limitado. "A classe média alta e quem já tem riqueza sai ganhando, porque é para eles que os bancos irão emprestar e renegociar dívidas. O resto não vai conseguir."
As classes mais baixas enfrentam três dificuldades. Primeiro, muitos proprietários hoje devem mais do que suas casas valem, e por isso, ao tentar renegociar suas dívidas, encontram portas fechadas. Segundo, há muito pessimismo quanto ao desemprego e os bancos seguem cautelosos quanto a tomadores de empréstimos. Terceiro, as instituições de crédito continuam nervosas quanto a abrir a carteira porque sua própria contabilidade ainda está desequilibrada.
Para quem tem como renegociar dívidas, em especial imobiliárias, o corte (mesmo pequeno) ajuda bastante. Stuart calcula que um corte de meio ponto percentual em um empréstimo de 30 anos para uma casa de US$ 100 mil significa US$ 31 de ganho mensal para o dono.
Em Nova York, o mercado imobiliário tenta manter o otimismo. Michael Slattery, vice-presidente do Conselho Imobiliário de Nova York, diz que ainda espera um efeito positivo do corte dos juros neste mês e em fevereiro.
"A temporada de Natal é sempre ruim para vendas. Mas no começo do ano devemos ter um movimento melhor, especialmente em pequenas propriedades." (AM)


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