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Crise financeira deu fôlego ao setor para digerir consolidação
Instituições aproveitam clima de mudança para mexer, sem grandes sobressaltos, em áreas cujas estruturas estavam defasadas em relação à concorrência
TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL
A crise financeira ajudou alguns dos principais bancos brasileiros -Santander, Real, Itaú,
Unibanco, Banco do Brasil e
Nossa Caixa- a passar sem
grandes sobressaltos por processos de reestruturação e de
fusão de equipes que poderiam
se tornar inviáveis se a expansão dos negócios seguisse o ritmo alucinante de 2008.
No processo, essas instituições tiveram de lidar com a sobreposição de equipes inteiras,
incompatibilidade tecnológica,
limitações de espaço físico para
aglutinar equipes, choques de
cultura, dificuldades para convergir marcas e tentativas nem
sempre bem-sucedidas de
transferência de profissionais.
Nas negociações com os trabalhadores, ficou acertado que
todas as equipes fundidas teriam profissionais vindos dos
dois bancos -nenhuma equipe
prevaleceria integralmente.
Tanto na integração de Itaú e
Unibanco quanto na de Santander e Real, áreas sensíveis como
a jurídica chegaram a conviver
com duplo comando.
A rede de caixas eletrônicos
da Nossa Caixa não era compatível com a do BB -os clientes
do banco federal não puderam
utilizar os terminais da instituição paulista. O vermelho do
logotipo do Santander nunca
combinou com o verde sóbrio
do antigo ABN Amro Real.
Com a fusão, os bancos aproveitaram as mudanças para
mexer em áreas cujas estruturas estavam defasadas em relação à concorrência.
No Itaú, havia três tesourarias diferentes, que foram agrupadas. Foi centralizada sob
uma mesma chefia toda a área
de investimentos, que promove
a captação de recursos para
fundos, previdência, poupança
e CDBs, como já acontecia no
Bradesco. Essas áreas costumam "concorrer" pelo dinheiro
do cliente, dificultando satisfazer o interesse do investidor.
Segundo Ricardo Marino, diretor-executivo de Pessoas do
Itaú Unibanco, a crise trouxe
um ambiente de incerteza e
tornou mais "desafiador" fazer
a fusão. "Por outro lado, foi
bem-vinda porque pudemos
focar mais nossas discussões e
nos preparar para sermos mais
competitivos depois."
"Conseguimos fazer essa fusão sem acidentes de percurso
e sem que a nossa relação com
os clientes sofresse interrupções ou percalços. O trabalho a
que nos dedicamos agora é fazer a fusão cultural. É a cultura
que move uma empresa na direção certa ou não", disse Cândido Bracher, presidente do
Itaú BBA, que reúne o atacado.
Para os executivos vindos do
Real, a maior dificuldade foi lidar com a gestão centralizadora dos espanhóis do Santander.
Já os funcionários do Santander relatam contratempos com
chefes vindos do Real, que costumam ter uma atitude despojada, mas são rigorosos com
equipe e clientes nas exigências
e na gestão de risco.
Fabio Barbosa, presidente do
Santander Brasil, reconhece
que as culturas dos bancos são
diferentes, mas afirma que isso
fez aumentar a massa crítica no
banco. "O fato de as culturas
dos dois bancos serem distintas
nunca foi um problema, mas
uma oportunidade de tornar a
instituição mais rica. O atributo mais valorizado no Santander, a inovação, e as principais
características do Real, a sustentabilidade e o relacionamento, são complementares.
Hoje, já é possível ver os funcionários do Santander familiarizados com os conceitos de sustentabilidade e os do Banco
Real trabalhando pautados pelo espírito de inovação", disse.
Apesar da promessa de evitar
ao máximo as demissões, muitos funcionários foram desligados. As áreas que mais tiveram
cortes, segundo os sindicalistas, foram as mesas de operação do mercado de capitais,
profissionais da área de investimento e promotores de crédito.
Para evitar cortes na administração, o Sindicato dos Bancários de São Paulo (ligado à
CUT) negociou a criação de
programas para a transferência
de profissionais para as agências, além da suspensão de demissões, contratações, programas de trainees e terceirização.
"Como nós já tínhamos passado por outras fusões, conseguimos criar um debate no movimento sindical para ter uma
proposta única de proteção do
emprego para os bancos", disse
Luiz Cláudio Marcolino, presidente do sindicato.
Nenhum banco diminuiu o
número de agências. Entre os
bancos que passaram por fusão,
só o Santander/ Real tem hoje
menos funcionários do que antes da fusão -passou de 55,1
mil em junho de 2008 para 50,8
mil em setembro de 2009, dado
mais recente do Banco Central.
O banco abriu um programa de
incentivo a aposentadorias que
teve adesão de 1.120 pessoas.
Tanto Itaú Unibanco quanto
BB/Nossa Caixa aumentaram o
quadro de pessoal. O Itaú Unibanco tinha em setembro 111,1
mil funcionários -um ano antes, eram 97,9 mil. No BB/Nossa Caixa, o número passou de
117,7 mil para 121,7 mil.
No Itaú, cerca de 1.500 pessoas anteciparam suas aposentadorias e outras 2.500 foram
remanejadas de área.
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