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Estado fica com 67% da alta da produção
Estudo realizado pela FGV aponta que o setor privado ficou com a menor parte do aumento do PIB desde 1991
Cálculo indica que a elevação da carga tributária inibe a realização de
investimentos no país, de acordo com especialista
JANAINA LAGE
DA SUCURSAL DO RIO
CLARICE SPITZ
DA FOLHA ONLINE, NO RIO
A tributação para o empresariado no país cresceu a um ritmo mais acelerado do que mostram os números da Receita
Federal para toda a população,
revela estudo da FGV. Segundo
cálculos do diretor da Escola de
Pós-Graduação em Economia
da FGV (EPGE-FGV), Renato
Fragelli, o Estado se apropriou
de 66,8% do aumento da produção desde 1991.
Na prática, de cada 100 unidades produzidas a mais neste
período, o Estado ficou com
66,8, e o setor privado, com o
restante. O cálculo considera a
variação absoluta do PIB (Produto Interno Bruto) e a variação da carga tributária desde
1991.
Com base nesses dados, Fragelli calculou a tributação marginal -aquela que incide diretamente sobre o aumento da
produção e afeta particularmente o empresariado. Ela
cresceu 66,8% desde 1991.
Fragelli classificou a conta
em um e-mail para outros professores como "um cálculo simplório da gula fiscal brasileira
da última década e meia".
Ainda não existem dados oficiais sobre o aumento da carga
de impostos no ano passado,
mas o estudo considera um
percentual de 37,5%. "Conclui-se que a alíquota média de tributação no Brasil está em
37,5%, mas na década e meia
compreendida entre 1991 e
2006 a alíquota marginal foi de
dois terços", diz o estudo.
Investimento
Os resultados do cálculo indicam que a elevação significativa da carga tributária inibe a
realização de investimentos no
país e o ganho de fôlego da economia, segundo o professor. "O
efeito dessa conta é que vivemos em uma sociedade em que
não há estímulo para o empreendimento. O brasileiro típico está desestimulado a trabalhar. É um país em que todo
mundo quer fazer concurso público e evitar riscos", disse.
De acordo com Fragelli, os
resultados mostram que o país
só pode voltar a crescer de forma significativa se reduzir
drasticamente a carga tributária. O corte significaria passar
da faixa de 37% para algo em
torno de 22%. "Como crescer a
5% ao ano? Pergunte ao Lula",
ironiza.
De acordo com Samuel Pessôa, professor da EPGE, o aumento da incidência de impostos explica o baixo crescimento
da economia. "Esse patamar
elevado estimula a informalidade, e o empresário repassa
esse aumento para os preços. A
sociedade paga por isso em razão do aumento de preços",
afirmou Pessoa.
Cobertura de gastos
De acordo com o secretário
da Receita, Jorge Rachid, a arrecadação é o meio necessário
para cobrir os gastos. "Se não tivéssemos o financiamento do
Estado pela via da arrecadação,
teríamos pela via do empréstimo e um dia teríamos que pagar. Outra opção seria por via
de emissão de moeda e experimentamos isso com inflação",
afirmou Rachid.
Para o secretário, a preocupação com a contenção de gastos, aliada à perspectiva de aumento dos investimentos, permitirá ao governo repensar a
arrecadação. "Não é só cortar
por cortar. Ao cortar, quebramos o Estado, e isso não é bom
para ninguém. Ou você quebra,
ou pega dinheiro emprestado,
ou emite moeda", disse.
O secretário da Receita destacou que o aumento da arrecadação pelas vias de melhora no
controle da administração tributária e de combate à evasão
de divisas e à sonegação permitiu ao governo adotar as medidas de desoneração previstas
no PAC (Programa de Aceleração do Crescimento).
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