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Ativos financeiros crescem bem mais que "economia real"
Para economistas, esse descolamento é uma das causas para
recentes crises financeiras e fortes oscilações nos mercados
Ativos como ações e títulos
no mundo aumentaram
17% em volume em 2006;
PIB global cresceu 8%
nesse mesmo período
CRISTIANE BARBIERI
DA REPORTAGEM LOCAL
Os ativos financeiros -ações,
debêntures, títulos públicos e
depósitos bancários- estão cada vez maiores e mais distantes
da chamada economia real. É o
que mostra levantamento
anual do McKinsey Global Institute, instituto de pesquisa da
consultoria McKinsey, que acaba de ser publicado.
Segundo o estudo, os ativos
financeiros têm crescido mais
nos últimos anos do que na média histórica. Em 2006, o volume de ativos financeiros aumentou 17% em todo o mundo,
atingindo US$ 167 trilhões. A
tendência no ano passado continuou em alta. No início da década, os mesmos ativos beiravam os US$ 90 trilhões e, em
1980, eram de US$ 12 trilhões.
O PIB dos países também
cresceu, porém a proporção foi
bem menor. Em 2006, o crescimento dos bens e serviços produzidos em todo o mundo foi
de quase 8% comparado a 2005
e alcançou US$ 48,3 trilhões.
No início da década de 90, o
PIB mundial girava em torno
dos US$ 20 trilhões e, em 1980,
era de US$ 10 trilhões.
Para economistas, o descolamento entre os ativos financeiros e a economia real foi uma
das principais causas das recentes crises financeiras e das
fortes oscilações nos mercados.
"Essa liqüidez fantástica viabilizou o mercado produtivo e
fez explodir os investimentos
diretos estrangeiros, os avanços tecnológicos e o comércio
internacional", afirma Antonio
Corrêa de Lacerda, professor
do departamento de economia
da PUC-SP. "O lado ruim, no
entanto, é a volatilidade."
Isso porque aumentou o peso
relativo das transações financeiras na economia. De acordo
com o instituto McKinsey, o
peso entre os ativos financeiros
e a economia real se equivaliam
em 1980. Em 2000, ele já era o
triplo do PIB e, em 2006, ficou
em 3,5 vezes.
"É um crescimento irracional, e a idéia de que haverá apenas uma correção não faz sentido", diz Reinaldo Gonçalves,
professor de economia internacional da UFRJ. "Não haverá
parada suave para um mercado
que vinha a 250 km/h."
Maior peso
O relatório do McKinsey
alerta que o maior peso financeiro pode levar a "correções
dolorosas", caso a alta seja causada por uma elevação irreal
das ações ou pelo endividamento público excessivo.
"O mundo está mais alavancado", afirma William Eid Júnior, coordenador do centro de
estudos em finanças da FGV
(Fundação Getulio Vargas).
"Isso significa que, numa crise,
os impactos serão maiores."
Não há um consenso, no entanto, sobre se a crise detonada
pelos "subprime", os empréstimos imobiliários de alto risco
dos Estados Unidos, reduzirá o
descolamento entre o mundo
financeiro e o mundo real. Desde 1980, o único ano no qual os
ativos financeiros encolheram
foi 2001, com o estouro da bolha da internet, os ataques do 11
de Setembro e os escândalos
contábeis nos Estados Unidos.
"A não ser que seja uma crise
muito duradoura, dificilmente
haverá uma mudança de tendência", afirma Eid Júnior.
Isso porque, dizem os economistas, as medidas adotadas
pelas autoridades dos EUA seguem a cartilha que ajudou os
mercados a saírem de crises variadas: corte nos juros, incentivos fiscais e maior liqüidez.
"Na verdade, a disponibilização desse dinheiro fácil e barato depois da crise de 2001 estimulou as aplicações nos mercados de risco e a bolha do mercado imobiliário", diz Lacerda. "A
decorrência seria a correção no
preço dos ativos."
Outra discussão diz respeito
ao tamanho da ajuda e se ela
não teria chegado muito tarde.
Eficazes ou não, para alguns especialistas, tais medidas seriam
apenas paliativos.
"As autoridades monetárias
vão repetir o erro de 2001 e
2002", diz Gonçalves. "Elas
suavizarão o impacto da crise
financeira, porém não corrigirão o grande problema, que é a
desregulamentação dos mercados: faltam regras, as operações
financeiras carregam riscos cada vez mais altos e ninguém sabe qual o tamanho do buraco."
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