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BASTIDORES
Boatos no mercado sobre vazamento da desvalorização do real também abalaram credibilidade do BC
Governo quis adiar sabatina de Lopes
FERNANDO RODRIGUES
da Sucursal de Brasília
O governo estava descontente com Francisco Lopes desde a
sua nomeação e
tentou adiar a
sabatina do então presidente
interino do BC no Senado.
No dia 25 de janeiro, o ministro
Pedro Malan achou que seria inconveniente submeter Lopes a
uma sabatina na CAE (Comissão
de Assuntos Econômicos) do Senado, para depois eventualmente
ter de demiti-lo.
O problema é que o Senado já havia marcado a sabatina de Lopes
para o dia 26 de janeiro, uma terça-feira. A proposta de Malan não foi
aceita. Lopes foi sabatinado naquela data pela CAE. Em seguida,
foi aprovado pelo plenário do Senado no dia 28 do mês passado.
O descontentamento do governo
com Lopes passou a existir minutos depois do anúncio da nomeação do economista para a presidência do Banco Central, em 13 de
janeiro. Nessa data foi adotado um
sistema de banda mais larga para a
flutuação do dólar.
A banda fracassou imediatamente. Na avaliação do governo, isso
foi o menos grave. O que irritou o
presidente Fernando Henrique
Cardoso e aliados no Congresso
foram diversos boatos sobre vazamento de informações do BC. E
uma postura considerada leniente
em relação a especuladores.
Pedido de informações
Os boatos foram tantos que um
deputado, Arnaldo Faria de Sá
(PPB-SP), fez um requerimento de
informações constrangedor no dia
19 de janeiro.
Todos os parlamentares têm o
direito de requerer informações de
qualquer órgão do governo. Faria
de Sá pediu ao Ministério da Fazenda que forneça os seguintes dados do Banco Central e da Comissão de Valores Mobiliários:
"Todas as operações de contrato
de dólar futuro na primeira quinzena do corrente ano, com detalhamento do valor da operação,
nome do comprador, vendedor,
corretora, taxa de câmbio acordada e data de vencimento da opção
do contrato, realizadas na Bolsa de
Mercadorias & Futuros".
Segundo o deputado Faria de Sá,
"foram generalizados os boatos
após a desvalorização do real". Por
isso, disse ele, resolveu fazer o requerimento de informações.
"Se alguém foi informado sobre
a mudança do câmbio com antecedência pode ter ganhado muito dinheiro. Eu não sei se isso é verdade, mas é necessário investigar. Alguém que comprou US$ 100 milhões com a taxa em R$ 1,21 em 11
de janeiro pode ter vendido a R$ 2
na sexta-feira passada", afirma o
deputado Faria de Sá.
Dentro do governo, ninguém fala em público sobre a hipótese de
vazamento de informações do BC
sobre o câmbio.
A situação de Francisco Lopes se
agravou por causa da ação de especuladores na semana passada. O
ápice foi a sexta-feira, quando a
cotação do dólar disparou.
Segundo a Folha apurou, o governo já tem a informação sobre
quem seriam alguns dos autores
dos boatos da sexta-feira. Há pouco a fazer agora, após o estrago.
FHC e o ministro Pedro Malan
participaram várias vezes de programas de TV para tentar acalmar
a população na sexta-feira.
Francisco Lopes também deu algumas entrevistas para jornais.
Mas sua atuação num momento de
crise foi considerada tímida por
FHC. Malan também considerou
insuficiente a reação do BC.
A partir de agora, o governo e
seus aliados no Congresso esperam que o BC tenha alguma atuação efetiva contra especuladores.
Não se sabe exatamente o que poderá ser feito, mas isso será cobrado de Armínio Fraga.
Uma ação contra especuladores
é esperada como forma de responder aos ataques que Armínio Fraga
recebeu ontem de políticos de
oposição. Seria uma maneira de
ele afastar suspeitas sobre como
será sua atuação no governo.
Quanto ao pedido de informações feito por Arnaldo Faria de Sá,
segundo a Folha apurou, é improvável que o deputado receba o que
solicitou. O Ministério da Fazenda
deve indeferir o requerimento alegando que estaria quebrando o sigilo bancário ao revelar as operações de câmbio.
Ainda assim, o governo tem interesse em saber exatamente quem
ganhou dinheiro com a mudança
da política de câmbio, na primeira
quinzena de janeiro.
Uma vez obtidas, essas informações não deverão ser divulgadas.
Servirão apenas para que o BC observe mais de perto a atuação das
instituições que ganharam dinheiro especulando contra o real.
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