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ENERGIA
Chuva alaga São Paulo, mas não cai em região relevante para usinas; sem chuvas normais este mês, pode haver racionamento
Águas de março definem se falta luz este ano
GUILHERME BARROS
EDITOR DO PAINEL S/A
HUMBERTO MEDINA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
"Se não chover em março, já a
partir de maio é possível que o governo seja obrigado a adotar um
controle no consumo de energia."
O alerta é de Mário Santos, presidente do Operador Nacional do
Sistema Elétrico (ONS, empresa
privada que supervisiona o fluxo
de energia no país). "A situação é
preocupante. O racionamento é
uma possibilidade que não se pode eliminar agora."
Como medida emergencial, o
ONS determinou, desde janeiro,
que as usinas termelétricas a óleo
combustível gerem mais energia
para poupar os reservatórios de
água das hidrelétricas.
A insuficiência de chuvas nas
regiões Sudeste e Nordeste em janeiro e especialmente em fevereiro reduziu a níveis críticos os reservatórios das hidrelétricas, responsáveis pelo fornecimento de
90% da energia elétrica no país.
Segundo Santos, tal situação será amenizada apenas caso chova
neste mês o equivalente a 90% da
média histórica de chuvas em
março (calculada pelas medidas
dos últimos 68 anos) na região Sudeste e Nordeste.
Em fevereiro, as chuvas atingiram apenas 40% da média histórica dos últimos 68 anos.
Técnicos ouvidos pela Folha
avaliam que, caso chova pelo menos a média do período até abril,
será possível atravessar a época de
seca (maio a setembro), mesmo
que nesses meses chova apenas
75% da média.
Apesar de temporais como os
que têm alagado a cidade de São
Paulo, é preciso que chova especificamente nas regiões sul e centro-oeste do Estado de Minas Gerais, onde ficam os reservatórios
de Furnas, geradora estatal de
energia elétrica para o Sudeste e o
Centro-Oeste.
Abaixo da crítica
O nível dos reservatórios nas regiões Sudeste e Centro-Oeste está
em 33,3%, quando a média de segurança do sistema para atravessar o período de seca é de 50%.
Em 2000, no mesmo período, os
reservatórios das regiões Sudeste
e Centro-Oeste estavam com 45%
de suas capacidades. A falta de
chuvas na região preocupa porque o Sudeste consome aproximadamente 60% da energia e é
responsável por cerca de 68% da
capacidade de armazenamento.
As usinas termelétricas do sistema interligado estavam gerando
aproximadamente 2.000 gigawatts-hora em fevereiro. No mesmo período do ano passado, essas
usinas estavam produzindo aproximadamente 1.800 gigawatts-hora. As termelétricas que foram
acionadas em janeiro ficam no
Rio de Janeiro, São Paulo, Minas
Gerais e Mato Grosso.
A Folha apurou ainda que o
ONS pediu à empresa responsável
pela construção de mais um trecho de linha entre Ivaiporã (PR) e
São Paulo -para transmissão da
energia que vem de Itaipu- que
termine a obra até abril.
A situação dos reservatórios só é
confortável nas regiões Norte e
Sul do país. Nessas duas regiões, o
nível de água é superior ao que foi
registrado no mesmo período do
ano passado. No Rio Grande do
Sul, os reservatórios chegam a
97,3% de sua capacidade.
O grande problema está localizado no Sudeste. A bacia do Paranaíba, cujos reservatórios armazenam o equivalente a 39% do Sudeste, só está com 23,8% de sua
capacidade. A bacia do rio Grande, com 31% da capacidade de armazenamento do Sudeste e do
Centro-Oeste, hoje, está com 28%
da sua capacidade.
A bacia do São Francisco, que
armazena a maior parte de energia do Nordeste, está com 28% de
sua capacidade.
Indústria
As grandes indústrias temem
que a escassez de chuvas nas regiões Centro-Oeste e Sudeste neste início de ano possa comprometer o fornecimento de energia elétrica em 2001.
"A situação é mais preocupante
do que em 2000", disse Paulo
Ludmer, diretor da Abrace, associação formada por 52 grandes
empresas, que respondem por
35% de todo o consumo industrial de energia elétrica do país.
O nível das chuvas em março
deve definir como será o fornecimento de energia ao longo do
ano. A Abrace avalia que será necessário, para essas regiões, que a
quantidade de chuvas neste mês
supere 75% da média registrada
no período dos últimos 68 anos.
Colaborou Leonardo Souza,
da Reportagem Local
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