São Paulo, sábado, 03 de março de 2001

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ENERGIA

Chuva alaga São Paulo, mas não cai em região relevante para usinas; sem chuvas normais este mês, pode haver racionamento

Águas de março definem se falta luz este ano

GUILHERME BARROS
EDITOR DO PAINEL S/A

HUMBERTO MEDINA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

"Se não chover em março, já a partir de maio é possível que o governo seja obrigado a adotar um controle no consumo de energia."
O alerta é de Mário Santos, presidente do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS, empresa privada que supervisiona o fluxo de energia no país). "A situação é preocupante. O racionamento é uma possibilidade que não se pode eliminar agora."
Como medida emergencial, o ONS determinou, desde janeiro, que as usinas termelétricas a óleo combustível gerem mais energia para poupar os reservatórios de água das hidrelétricas.
A insuficiência de chuvas nas regiões Sudeste e Nordeste em janeiro e especialmente em fevereiro reduziu a níveis críticos os reservatórios das hidrelétricas, responsáveis pelo fornecimento de 90% da energia elétrica no país.
Segundo Santos, tal situação será amenizada apenas caso chova neste mês o equivalente a 90% da média histórica de chuvas em março (calculada pelas medidas dos últimos 68 anos) na região Sudeste e Nordeste.
Em fevereiro, as chuvas atingiram apenas 40% da média histórica dos últimos 68 anos.
Técnicos ouvidos pela Folha avaliam que, caso chova pelo menos a média do período até abril, será possível atravessar a época de seca (maio a setembro), mesmo que nesses meses chova apenas 75% da média.
Apesar de temporais como os que têm alagado a cidade de São Paulo, é preciso que chova especificamente nas regiões sul e centro-oeste do Estado de Minas Gerais, onde ficam os reservatórios de Furnas, geradora estatal de energia elétrica para o Sudeste e o Centro-Oeste.

Abaixo da crítica
O nível dos reservatórios nas regiões Sudeste e Centro-Oeste está em 33,3%, quando a média de segurança do sistema para atravessar o período de seca é de 50%.
Em 2000, no mesmo período, os reservatórios das regiões Sudeste e Centro-Oeste estavam com 45% de suas capacidades. A falta de chuvas na região preocupa porque o Sudeste consome aproximadamente 60% da energia e é responsável por cerca de 68% da capacidade de armazenamento.
As usinas termelétricas do sistema interligado estavam gerando aproximadamente 2.000 gigawatts-hora em fevereiro. No mesmo período do ano passado, essas usinas estavam produzindo aproximadamente 1.800 gigawatts-hora. As termelétricas que foram acionadas em janeiro ficam no Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais e Mato Grosso.
A Folha apurou ainda que o ONS pediu à empresa responsável pela construção de mais um trecho de linha entre Ivaiporã (PR) e São Paulo -para transmissão da energia que vem de Itaipu- que termine a obra até abril.
A situação dos reservatórios só é confortável nas regiões Norte e Sul do país. Nessas duas regiões, o nível de água é superior ao que foi registrado no mesmo período do ano passado. No Rio Grande do Sul, os reservatórios chegam a 97,3% de sua capacidade.
O grande problema está localizado no Sudeste. A bacia do Paranaíba, cujos reservatórios armazenam o equivalente a 39% do Sudeste, só está com 23,8% de sua capacidade. A bacia do rio Grande, com 31% da capacidade de armazenamento do Sudeste e do Centro-Oeste, hoje, está com 28% da sua capacidade.
A bacia do São Francisco, que armazena a maior parte de energia do Nordeste, está com 28% de sua capacidade.

Indústria
As grandes indústrias temem que a escassez de chuvas nas regiões Centro-Oeste e Sudeste neste início de ano possa comprometer o fornecimento de energia elétrica em 2001.
"A situação é mais preocupante do que em 2000", disse Paulo Ludmer, diretor da Abrace, associação formada por 52 grandes empresas, que respondem por 35% de todo o consumo industrial de energia elétrica do país.
O nível das chuvas em março deve definir como será o fornecimento de energia ao longo do ano. A Abrace avalia que será necessário, para essas regiões, que a quantidade de chuvas neste mês supere 75% da média registrada no período dos últimos 68 anos.


Colaborou Leonardo Souza, da Reportagem Local

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