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ARTIGO
O grande colapso do mercado de 2007
Economista faz artigo como se já estivesse em 2008, argumentando que a atual crise começou antes mesmo desta semana
Para Krugman, turbulência não pode ser atribuída a Greenspan ou à China, mas ao fato de que investidores ignoraram riscos
PAUL KRUGMAN
DO "NEW YORK TIMES"
2 7.fev.08 - O grande colapso
do mercado em 2007 começou
há um ano, com uma queda de
9% na Bolsa de Xangai, seguida
por uma perda de 416 pontos
no índice Dow Jones. Mas, como na crise financeira mundial
anterior, iniciada com a desvalorização da moeda tailandesa
em 1997, foram precisos muitos meses para que as pessoas
compreendessem até que ponto os danos se espalhariam.
No começo, explicações implausíveis de muitos matizes
foram oferecidas para a queda
nos preços das ações americanas. Alguns diziam que era tudo
culpa de Alan Greenspan, ex-Fed (BC dos Estados Unidos),
como se o fato de que ele tivesse
declarado o óbvio -que a queda no mercado da habitação poderia causar recessão- fosse
novidade para alguém.
Até mesmo culpar os eventos
em Xangai pelo que viria a
acontecer em Nova York era tolice, em termos gerais, se excluirmos do cômputo o fato de
que a queda na China -cujos
mercados de ações combinados
movimentam apenas 5% do total de capital movimentado pelos mercados norte-americanos- talvez tenha servido como alerta aos investidores.
Os analistas mais sábios relembram o clássico estudo de
Robert Shiller, da Universidade
Yale, sobre o "crash" do mercado de ações em 19 de outubro
de 1987. A conclusão do estudioso? "Nenhuma notícia ou
boato que tenha surgido no dia
19 ou no final de semana precedente foi responsável." Em
2007, como em 1987, os investidores correram para a saída
não devido a eventos externos,
mas porque viram outros investidores fazendo o mesmo.
O que tornou o mercado tão
vulnerável ao pânico? Não era
exatamente um caso de exuberância irracional -embora isso
com certeza existisse em abundância-, mas sim uma questão
de complacência irracional.
Depois que o estouro da "bolha" da tecnologia dos anos 90
fracassou em produzir um desastre mundial, os investidores
começaram a agir como se nada
de mau pudesse acontecer. O
ágio por risco -o retorno adicional que as pessoas exigem
quando emprestam dinheiro a
tomadores de crédito menos
que completamente confiáveis- praticamente sumiu.
Por exemplo, nos anos iniciais da década, os títulos empresariais de alto rendimento
(anteriormente conhecidos como "junk bonds") só conseguiam atrair investidores por
meio de oferta de ágios entre
8% e 10% com relação ao rendimento dos títulos do Tesouro
norte-americano. No começo
de 2007, esse ágio se havia reduzido a pouco mais de 2%.
Por algum tempo, a complacência crescente se tornou uma
espécie de profecia, que, por ser
feita, garante o próprio cumprimento. Enquanto a atitude de
que não havia motivo para
preocupação se espalhava pelos mercados, tornou-se mais
fácil aos devedores menos confiáveis promover a rolagem de
dívidas, de modo que o índice
de inadimplência se reduziu.
Mais cedo ou mais tarde, porém, a realidade decerto se faria sentir. No começo de 2007,
o colapso do boom da habitação
nos Estados Unidos causara
inadimplência generalizada no
mercado de hipotecas "subprime" -empréstimos aos compradores de residências que
não conseguem atender aos
mais severos requisitos de crédito. Os emprestadores insistiram em que esse era um problema isolado, que não contagiaria o resto do mercado ou a
economia real. Mas foi isso o
que aconteceu.
Por um ou dois meses depois
do choque de 27 de fevereiro, os
mercados oscilaram loucamente, disparando diante dos menores indícios de notícias aparentemente boas e depois voltando a cair. Mas, ao final do segundo trimestre, estava claro
que o ciclo de complacência auto-induzida havia sido substituído por um ciclo de ansiedade
igualmente auto-induzida.
Continuava a existir grande
incógnita. Será que os protagonistas do mercado, especialmente os fundos de hedge, haviam se alavancado -tomando
empréstimos para adquirir ativos de risco- a ponto de a queda nos preços servir como gatilho para uma reação em cadeia
de inadimplência e quebras?
Agora, diante das ruínas que
ocupam o terreno da recessão
mundial, sabemos a resposta.
Em retrospecto, a complacência dos investidores nos
dias que antecederam a crise
parece intrigante. Por que eles
não perceberam os riscos?
Bem, as coisas parecem mais
claras em retrospecto. Na época, até mesmo os pessimistas
estavam incertos. Paul Krugman, por exemplo, em coluna
em 2 de março de 2007, na qual
descrevia como um colapso financeiro poderia acontecer,
decidiu concluir com uma salvaguarda, declarando que "não
estou dizendo que as coisas vão
transcorrer dessa maneira.
Mas, se uma crise vai acontecer, é assim que virá".
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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