São Paulo, segunda-feira, 03 de março de 2008

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Contra taxas, Bom Retiro boicota cartões

Comerciantes do bairro de SP deixam de aceitar dinheiro de plástico ou fixam alto valor mínimo para compra

Julia Moraes/Folha Imagem
Loja do Bom Retiro (SP) que não aceita cartões de crédito


DENYSE GODOY
DA REPORTAGEM LOCAL

Silenciosamente, os comerciantes do Bom Retiro, popular endereço da moda feminina na região central de São Paulo, realizam uma cruzada contra os cartões de crédito e débito.
Muitas lojas nunca aceitaram esse meio de pagamento; porém, de cerca de seis meses pra cá, ele se tornou mais malvisto: estabelecimentos que antes acolhiam o dinheiro de plástico baniram-no de vez e os empresários que ainda o recebem estabeleceram elevados valores mínimos para a sua utilização (em média, R$ 50 no débito e R$ 100 no crédito).
Os clientes sofrem. "Em pouquíssimas lojas conseguimos usar cartão", queixa-se Julieta Mendonça, manauara que vai à famosa rua José Paulino sempre que visita São Paulo. "Nos shoppings, ao contrário, há parcelamento em até quatro vezes sem juros." Izelte Borges, com a filha, Bárbara, corria para uma agência de banco a fim de sacar dinheiro.
"Viemos do ABC para comprar um vestido de festa, mas, apesar do alto preço, R$ 200, não pudemos pagar com cartão. Absurdo, ninguém sai com bastante dinheiro na carteira hoje em dia", afirma Izelte.
Os empresários não comentam o assunto. Na loja Malagueta, grandes placas alertam o consumidor -"Não aceitamos MAIS cartões. Favor não insistir"- e a dona, ao caixa, desconversa quando questionada sobre o motivo. São os funcionários dos estabelecimentos que falam, com a condição de não terem os nomes publicados.
"As taxas cobradas pelas operadoras dos cartões são caras. Quando chega a época de liquidação, deixamos de pegar, porque a maioria das peças é vendida a R$ 20, e alguns comerciantes a partir daí param de vez. Depois que um faz isso, os vizinhos vão atrás", explica uma gerente.

Cheque com valor
Com isso, o desprestigiado cheque voltou a circular. Também sobre ele foram pendurados avisos nas paredes ("Aqui, o seu cheque tem valor"). Máquinas preenchem o documento e verificam a sua autenticidade. Exige-se cadastro, conferem-se informações pessoais com os terminais dos serviços de proteção ao crédito. "Estamos protegidos", comenta um dono de loja, que diz não se assustar com a inadimplência.
Segundo a Serasa, em 2007, de cada 1.000 cheques compensados, 19,5 foram devolvidos por falta de fundos, número 5,8% menor do que em 2006.
"Sempre há muita reclamação quanto às taxas, que giram em torno de 4% a 5%, dependendo do segmento. O problema atinge mais os pequenos, que não possuem poder de barganha para negociar. Periodicamente, aparecem movimentos de protesto localizados, os quais não conseguem resistir por muito tempo por causa da concorrência", afirma Marcel Domingos Solimeo, economista da ACSP (Associação Comercial de São Paulo).
A MasterCard não responde às críticas, e a Visa só diz que as porcentagens são compatíveis com os serviços prestados.
Vitor Kwon, proprietário da Jinane, sabe que clientes preferem a sua loja porque aceita cartões. No entanto, ele tem intenção de deixar de recebê-los em breve. "Fica difícil, a margem não suporta."


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