São Paulo, Quarta-feira, 03 de Março de 1999
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POLÍTICA MONETÁRIA
BC eleva compulsório de 20% para 30% dos depósitos a prazo; objetivo é conter especulação com dólar
Governo aperta ainda mais o crédito

da Sucursal de Brasília

O Banco Central baixou ontem medida que obriga os bancos a comprarem mais títulos públicos. Segundo o BC, o objetivo da medida é dificultar a especulação no câmbio.
A norma, que retira dinheiro que circula na economia, eleva de 20% para 30% o percentual que os bancos devem recolher compulsoriamente ao BC sobre os depósitos a prazo, como os CDBs (Certificados de Depósito à Prazo).
O BC estima que a alta do compulsório vá retirar entre R$ 5 bilhões e R$ 6 bilhões em circulação na economia.
A demanda por títulos públicos irá aumentar nesse mesmo montante, ampliando o mercado cativo para os papéis do governo.
Obrigando os bancos a comprar mais títulos, o BC também espera redução da pressão sobre o mercado de dólar. Haverá menos dinheiro nos bancos para comprar a moeda norte-americana.
O compulsório subirá aos poucos. Na próxima sexta-feira, um dia depois da posse prevista de Armínio Fraga no BC, irá para 26,5%. Em 12 de março, o percentual atingirá 30%.
Com a medida, o BC está obrigando os bancos a comprarem mais papéis do governo, pois esse depósito compulsório é feito em títulos públicos.
Funciona assim: um banco recebe, por exemplo, R$ 100 milhões em depósitos de CDB de seus clientes. Pelas novas regras, esse banco deverá reservar R$ 30 milhões para comprar títulos públicos, que ficarão retidos no BC.
O aumento do percentual de recolhimento compulsório diminui o dinheiro em circulação na economia, pois os bancos ficam com parcela menor para emprestar.
Pela regra antiga, os bancos deixavam retidos no BC 20% dos depósitos a prazo que recebiam de seus clientes e ficavam com 80% para emprestar.
Agora, os bancos vão deixar retidos 30% dos depósitos a prazo e vão ficar com apenas 70% para emprestar.
Teoricamente, como os bancos têm menos recursos para emprestar, as taxas de juros dos empréstimos bancários tendem a subir. No entanto, o BC minimiza esse efeito, argumentando que o mercado de crédito está praticamente parado.
A taxa de juros guarda relação com o volume de dinheiro. Quando há mais dinheiro na economia, os juros caem -e vice-versa.
Na prática, entretanto, a taxa não deverá sofrer grande alta, pois os bancos já estão com excesso de dinheiro em caixa.
A sobra de dinheiro no mercado é estimada em R$ 25 bilhões, o que obriga os bancos a negociarem diariamente os recursos, em operações de curtíssimo prazo de compra e venda de títulos com a mesa de operações no BC.
Efeito significativo será sentido na ampliação do mercado cativo de títulos públicos federais. Com isso, o BC terá menos dificuldade para rolar a dívida interna que vence em março.
A Fiesp acha que a decisão vai na contramão do desejo do setor produtivo porque aumenta as pressões para a manutenção do nível elevado das taxas de juros.
Clarice Seibel, diretora do Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), disse que a indústria já trabalhava com a desconfiança de que uma política monetária conservadora viesse a ser adotada.
"A atividade industrial continua precisando de taxas juros competitivas, portanto muito mais baixas do que as que estão no mercado e, sobretudo, de condições mais favoráveis de financiamento."
Clarice Seibel disse "da mesma forma como o Banco Central optou por uma política conservadora quando da implantação do Plano Real em 94, ele agora na implantação do novo regime cambial está de novo apontando na direção do conservadorismo."
Ela reconhece que a diminuição da liquidez terá "um certo impacto na fome por dólares", mas lamentou outros efeitos da medida.


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