São Paulo, Quarta-feira, 03 de Março de 1999
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Dólar bate novo recorde apesar da atuação conjunta do BC e BB

CRISTIANE PERINI LUCCHESI
da Reportagem Local

Pelo segundo dia consecutivo, o dólar bateu novos recordes contra o real. Chegou a R$ 2,23, seu maior valor desde a criação do real. Após a intervenção conjunta do Banco Central e do Banco do Brasil no mercado à vista e futuro, terminou o dia na cotação recorde de fechamento: R$ 2,16.
A desvalorização do real foi de 0,46% ontem e de 5,56% desde sexta-feira. Nessa conta, foi considerada a cotação de mercado no último negócio de cada dia, segundo a NGO Corretora de Câmbio. Desde o final do ano passado, o real perdeu 44% de seu valor contra a moeda dos EUA.
"Preocupa o fato de o dólar ter sido negociado, durante muito tempo, em torno dos R$ 2,15. Seria negativo para o país se a moeda dos Estados Unidos se estabilizasse nesse novo patamar", diz o chefe de mesa de interbancário de câmbio do Bicbanco, Marco Antônio Dias.
A média ponderada divulgada pelo Banco Central mostra que na maior parte dos negócios, de cerca de US$ 2,5 bilhões, o dólar ficou próximo dos R$ 2,1308. A desvalorização do real contra a média de anteontem foi de 4,81%.
"Mesmo determinado por um movimento muito pequeno, o fortalecimento do dólar é terrível porque mexe com as expectativas", diz Luiz Rabi, economista do Bicbanco. Ele projeta inflação acumulada, medida pelo IGP-M, de 11% para fevereiro, março e abril se o dólar cair na metade deste mês para patamares entre R$ 1,80 e R$ 1,90.
A queda no dólar só aconteceria, no entender de investidores, com intervenções menos tímidas do que as realizadas ontem pelo BC, que teria gasto no máximo US$ 40 milhões. Seriam necessários no mínimo US$ 300 milhões por dia para suprir a demanda de um mercado pressionado pelo vencimento de dívidas externas.
Ontem, por exemplo, o Unibanco teria comprado US$ 70 milhões de US$ 130 milhões vencendo no dia 5. Hoje, compraria os outros US$ 60 milhões.
Segundo rumores, o BC teria sido autorizado pelo Fundo Monetário Internacional a gastar mais no mercado de câmbio a partir de hoje. No entender de especialista de um banco estrangeiro, essa seria a melhor forma de impedir um repique inflacionário, apesar de representar uma perda maior de reservas internacionais, o caixa em moeda forte no país.
Subir os juros na reunião do Comitê de Política Monetária, amanhã, e depois no mercado por um dia, o over, diz o especialista, teria o efeito perverso de aumentar mais a dívida pública mobiliária. Cerca de 70% dessa dívida é indexada aos juros do over.
No mercado futuro, os juros explodiram. As taxas projetadas para maio passaram de 50,60% ao ano anteontem para 54,90% ao ano ontem. No over, o BC atuou e manteve os juros a 39% ao ano até o dia 8.


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