São Paulo, Quarta-feira, 03 de Março de 1999
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CRÉDITO ESCASSO
Instabilidade da economia dificulta financiamentos
Empresas tentam rolar dívida externa dando mais garantias

RICARDO GRINBAUM
da Reportagem Local

Empresas brasileiras com dívida no exterior estão tentando rolar seus débitos oferecendo novas garantias e contratando seguros para tranquilizar os credores. Mas nem o esforço dos devedores está sendo suficiente para quebrar a resistência ao risco de aplicar no Brasil.
"Mesmo com novos seguros e garantias, está muito difícil negociar a rolagem de dívida porque, nesse momento, a maioria dos investidores não está interessada no Brasil", diz Felipe Pontual, da corretora do BBA, em Nova York.
Como a desconfiança sobre a economia brasileira é muito grande, os investidores esperam o vencimento das dívidas para receber o acertado, sem negociar a renovação dos contratos.
Existem algumas tentativas de renegociação em andamento. São exceções e incluem termos de negociação rigorosos, como na década de 80, quando a imagem do país no exterior era muito ruim.
O BankBoston está negociando a rolagem de dívidas de cinco empresas, com valores que vão de US$ 50 milhões a US$ 1 bilhão.
Em cada caso, está acertada uma estratégia diferente. Uma das formas mais comuns é contratar um seguro que cubra eventuais perdas com "risco político", como a adoção de um limite para retirada de dólares do país ou uma moratória.
"As negociações são mais fáceis no caso de multinacionais ou de empresas com sócios estrangeiros", diz Claudio Citrin, diretor do BankBoston.
As matrizes dessas empresas têm oferecido as chamadas "linhas de liquidez". Trata-se de uma garantia de que se a filial não puder pagar o que deve, a matriz terá verba assegurada para cobrir a dívida.
Também há opção de diluir o risco. Os credores rolam apenas parte da dívida, como ocorreu com a VBC Energia, que renovou US$ 200 milhões de um débito de US$ 400 milhões, no final de 98. A Elektro rolou um débito de US$ 500 milhões contratando um seguro contra o "risco político" do país.
A estratégia de dar mais concessões tem seus limites. É difícil levantar junto às seguradoras cobertura total para os débitos da empresa. Além disso, só um grupo muito restrito de companhias consegue renegociar com os credores.
Empresas brasileiras que não têm sócios fora do Brasil não têm atraído o interesse dos investidores. Só resta a alternativa de quitar o débito no exterior.
Segundo Alfred Dangoor, diretor do Citibank, a situação pode ser inverter nos próximos meses. O Citibank está renegociando dívidas dos clientes no valor de US$ 2 bilhões, que vencem nos próximos cinco meses.
"Boa parte dos clientes está preferindo quitar as dívidas. Quem quiser rolar os débitos terá boa chance de dar certo", diz Dangoor. A expectativa é que, na medida em que a economia se estabilize, a oferta de crédito volte.


Texto Anterior: Reservas externas caem para US$ 35,6 bilhões em fevereiro
Próximo Texto: Confaz não aprova redução de imposto
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.