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INTEGRAÇÃO EM RISCO
Para ministro, é difícil a Argentina dizer não a tratado de livre-comércio com os norte-americanos
Cavallo diz que aceita acordo só com EUA
DO ENVIADO ESPECIAL A BUENOS AIRES
O novo homem-forte da Argentina, o ministro da Economia, Domingo Cavallo, já avisou ao governo brasileiro: se os Estados
Unidos apresentarem à Argentina
uma proposta de negociação bilateral para a formação de uma área
de livre-comércio, "será muito difícil resistir a ela".
Por enquanto, Cavallo continua
achando que o melhor mesmo é
negociar a Alca (Área de Livre Comércio das Américas) em conjunto com o Brasil e demais membros do Mercosul (Paraguai e
Uruguai).
Mas, segundo o ministro, a
pressão da opinião pública argentina seria irresistível, se houvesse
um aceno norte-americano para
uma negociação direta.
Do outro lado do rio da Prata,
no Uruguai, o chanceler Didier
Opertti manifesta opinião semelhante, em entrevista ao jornal local "El Observador".
As posições dos dois altos funcionários é a mais cristalina evidência de que o Mercosul, a menina-dos-olhos da diplomacia brasileira, entra dividido e na sua
maior crise desde a criação há 10
anos exatamente na negociação
mais complexa de sua agenda.
De todo modo, na superfície, tudo parece na mais perfeita ordem.
Ontem, mal desembarcou em
Buenos Aires para a série de reuniões do CNC (Comitê de Negociações Comerciais, principal
grupo técnico da Alca), o chefe da
delegação brasileira, embaixador
José Alfredo Graça Lima, se reuniu com seus pares do Mercosul.
Diz ter encontrado a mesma
predisposição de negociar em
bloco e dentro dos prazos que o
Brasil defende.
"O espírito continua o mesmo
de Miami", avalia Graça Lima, em
alusão ao fato de que, na Cúpula
de 1994, naquela cidade norte-americana, havia ficado decidido
que as negociações seriam concluídas até 2005, prazo que o Brasil continua defendendo.
A impressão de Graça Lima pode até ser correta, porque os negociadores argentinos pertencem ao
Ministério de Relações Exteriores,
sob o comando de Adalberto Rodríguez Giavarini, defensor do
Mercosul.
O Ministério da Economia, chefiado por Cavallo, é que tem sérias
dúvidas em relação ao bloco, o
que justifica sua pressa em negociar diretamente com os Estados
Unidos.
Mas Graça Lima acredita que o
interesse da Argentina é manter-se colada ao Brasil na negociação
com os norte-americanos, no que
seria a melhor maneira de sair lucrando algo com a Alca.
Déficit comercial
É uma visão compartilhada por
um especialista argentino, Jorge
Carrera (Universidade Nacional
de La Plata). Ele mostra que, nos
últimos 30 anos, a Argentina teve
déficit comercial com os EUA
(mais importou do que exportou).
"A Argentina é um dos poucos
países do mundo que têm forte
déficit com os EUA. Não conseguimos, em nove anos, ser suficientemente competitivos, apesar
de uma impressionante bateria de
reformas estruturais", escreve o
especialista.
Mais: "Não seria fácil para o setor industrial sobreviver como algo minimamente articulado a
uma abertura rápida e generalizada com os EUA".
Tudo somado, Carrera defende
um "Mercosul consolidado" como o melhor caminho para a Argentina. "Teremos um mercado
grande para nos inserirmos competitivamente no comércio internacional e uma plataforma para
negociar de forma mais equilibrada a Alca", conclui o especialista.
Até sexta-feira, quando se encerram as reuniões do CNC, e no
sábado, quando se reúnem os ministros de Relações Exteriores e
Comércio da Alca, ficará ao menos um pouco mais claro se o
Mercosul continuará sendo "uma
plataforma" para negociar a Alca
ou se entra em crise terminal.
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