São Paulo, sábado, 03 de abril de 2004

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ARTIGO

Crescimento do emprego gera alívio na Casa Branca

ANDREW BALLS

DO "FINANCIAL TIMES", EM WASHINGTON

O forte crescimento no emprego em março dá ao governo do presidente George W. Bush as boas notícias pelas quais este vinha esperando. Em um ano eleitoral no qual o fraco crescimento do emprego se tornou um tema crucial, o fato de que a economia norte-americana tenha criado 308 mil novos postos de trabalho no mês passado gerou alívio na Casa Branca.
Para os investidores e para o Federal Reserve (Fed, banco central dos Estados Unidos), o forte crescimento em março muda tudo e ao mesmo tempo muda nada.
Da mesma forma que os números mais fortes para as folhas de pagamentos podem alterar o debate político, podem também mudar a maneira pela qual os analistas e as autoridades encaram a recuperação econômica.
No entanto, uma melhora sustentada no crescimento do emprego serve basicamente para confirmar que os demais indicadores que apontam uma recuperação saudável em curso merecem confiança. Nos últimos meses, diversos indicadores econômicos apontaram que o consumo e a produção industrial estavam fortes. As empresas interromperam suas demissões em larga escala. A peça que faltava era uma recuperação no crescimento do nível de emprego.
Economistas de Wall Street, como seus colegas em Washington, previram repetidamente que uma melhora nos números do emprego estava a caminho. Decepcionaram-se repetidas vezes. Um crescimento notavelmente forte da produtividade implicou que as empresas conseguissem atender à procura elevada dos consumidores sem aumentar em muito suas folhas de pagamento.
Além dos 308 mil empregos criados em março, mais que o dobro do número que Wall Street esperava, o Departamento do Trabalho revisou os números de janeiro e fevereiro e os elevou em 87 mil postos de trabalho abertos.
A média de 171 mil postos de trabalho mensais abertos desde o começo do ano fica bem abaixo do nível de 200 mil a 250 mil que se poderia antecipar com base em experiências passadas. Mas, se a tendência se mantiver, ela marcaria uma virada decisiva, depois de meses de decepção. Gregory Mankiw, presidente do Conselho de Assessores Econômicos da Casa Branca, disse que os números de março sobre o emprego e as revisões quanto aos meses anteriores confirmam as demais estatísticas: a economia está nos trilhos para uma recuperação robusta.
Desde agosto, a economia dos EUA criou quase 760 mil novas vagas, e até agora foram registrados sete meses consecutivos de aumentos no nível de emprego.
"A economia sempre se recupera aos solavancos, e esses solavancos podem desconcertar as pessoas. Mas, ao que parece, a economia reverteu sua queda mais ou menos na metade de 2003. Continua a haver muita capacidade ociosa e número excessivo de pessoas à procura de emprego. Mas a economia está nos trilhos", disse Mankiw. O Fed apontou para a baixa inflação, o crescimento fraco do emprego e a frouxidão da economia como motivo para manter a taxa básica de juros americana em 1% e sinalizou que não tem pressa de elevar os juros.
Um crescimento mais forte no emprego mudará a forma pela qual os investidores e os dirigentes do Fed encaram a economia, na opinião de Mickey Levy, economista-chefe do Bank of America. "É um marco histórico."
"Minha perspectiva econômica mudou? Não, continuo esperando crescimento sólido. A percepção do mercado mudou? Sim, inequivocamente. O mercado e o Fed talvez comecem a encarar os dados econômicos sob uma luz diferente", afirma.
Os dirigentes do Federal Reserve sinalizaram que as taxas de juros não podem ser mantidas em 1% indefinidamente, em discursos de executivos da instituição e por meio de alterações no comunicado de política monetária do comitê federal de open market.
No entanto, os economistas dizem que os números fracos sobre o mercado de trabalho em fevereiro impediram o banco central de tomar providências concretas em sua última reunião.
Em pronunciamento feito nesta semana, Donald Kohn, presidente de uma das divisões regionais do Fed, disse que "alguns analistas sugerem que os rendimentos dos papéis do Tesouro deveriam estar um pouco mais altos, e não podemos descartar a possibilidade de aumento nos juros de longo prazo assim que os mercados de trabalho começarem a ganhar força de modo convincente".


Tradução de Paulo Migliacci


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