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Para conter BC, Fazenda quer conter gasto
Corte inicial de R$ 20 bi no Orçamento pode chegar a R$ 30 bi para sinalizar ao mercado prudência fiscal do governo
Lula, Mantega e Meirelles se reúnem para discutir tema; desoneração da política industrial também pressiona o Orçamento
VALDO CRUZ
SHEILA D'AMORIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A crise internacional e a sinalização do Banco Central de
que pode subir os juros para
conter o consumo e a alta da inflação levaram a equipe econômica a aumentar o tamanho do
corte no Orçamento deste ano.
Inicialmente previsto em R$
20 bilhões, o corte agora pode
ficar na casa dos R$ 30 bilhões
para sinalizar ao mercado financeiro que o governo será
mais prudente na área fiscal e
cumprirá sua meta de superávit primário (economia feita
para pagamento de juros) de
3,8% do PIB.
Além dos R$ 12,5 bilhões já
cortados pelo Congresso na votação do Orçamento, o presidente Lula analisa três propostas de cortes adicionais: de R$
14,5 bilhões, R$ 16,5 bilhões ou
de R$ 19,5 bilhões.
Enquanto o Ministério do
Planejamento avalia ser possível cumprir a meta de superávit
com a adoção da primeira proposta, o Ministério da Fazenda
defende que o momento exige
um redução maior nos gastos,
sobretudo diante das expectativas do mercado financeiro e
dos empresários de alta da inflação com as incertezas internacionais e o aquecimento da
demanda interna. Assim, o corte de gastos auxiliaria o BC a
manter as expectativas de inflação no centro da meta (4,5%)
e, espera a Fazenda, conter aumento dos juros.
Segundo a Folha apurou, Lula tende a optar pelo valor intermediário visando preservar
os gastos sociais e verbas do
PAC (Programa de Aceleração
do Crescimento). Com isso, o
Tesouro poderá reter neste início de ano R$ 29 bilhões dos recursos do Orçamento como
forma de compensar a perda de
receita de cerca de R$ 39 bilhões com o fim da CPMF.
Durante reunião no Palácio
do Planalto com Lula e o presidente do BC, Henrique Meirelles, o ministro Guido Mantega
(Fazenda) defendeu o terceiro
cenário, de um corte adicional
perto de R$ 20 bilhões, para
tentar evitar que o BC concretize suas ameaças de elevar os
juros na próxima reunião do
Copom, nos dias 15 e 16 deste
mês.
Ontem, o secretário do Tesouro, Arno Augustin, disse
que o governo trabalha com
um contingenciamento de R$
20 bilhões de verbas do Orçamento e que esse nível de corte
de gasto é "um sinalizador significativo de controle fiscal".
Os três cenários de cortes foram elaborados para contemplar previsões otimistas e conservadoras sobre o comportamento da arrecadação neste
ano, além de abrir espaço para
medidas como a redução de
impostos da futura política industrial, a ser anunciada ainda
neste mês, e aumento de verbas para a saúde.
O governo analisa uma desoneração tributária na política
industrial de R$ 4 bilhões a R$
10 bilhões. A expectativa é que,
quanto maior ela for, maior terá de ser o tamanho do corte no
Orçamento para atender às
medidas, que visam principalmente estimular as empresas
exportadoras e os investimentos. Tudo para garantir que o
crescimento da economia continue nos próximos anos.
A decisão de aumentar o valor dos cortes no Orçamento
não significa uma mudança da
meta de superávit primário
deste ano, de 3,8% do PIB, segundo a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO). Ontem, o
próprio presidente Lula disse
que ela não será alterada de
"forma nenhuma". O secretário do Tesouro também reafirmou que trabalha "com o superávit previsto na LDO".
A idéia é fazer uma retenção
maior no início do ano até que
se tenha uma previsão mais segura sobre a evolução do aumento das receitas em 2008,
que vêm subindo mesmo com o
fim da CPMF.
O ministro Paulo Bernardo
(Planejamento) disse que a
orientação do presidente é
"cumprir a meta atual de superávit", mas lembrou que, como
em anos anteriores, o resultado
pode "ficar um pouco acima".
A margem de ajuste deverá
ser os R$ 13,1 bilhões do PPI
(Programa Piloto de Investimento), gastos que não são
contabilizados como despesas
para efeito de cálculo do superávit primário. No PPI, estão
obras prioritárias do governo,
como rodovias, ferrovias e portos. Os recursos para elas equivalem a 0,45% do PIB.
Com isso, na prática, a decisão deverá levar a um superávit
maior, mesmo sem mexer na
meta. Como o o governo pode
abater da economia registrada
no ano os gastos do PPI, há
margem para fazer um superávit primário maior e sustentar
o discurso de que ele não foi
maior.
Colaborou LUCIANA OTONI, da Sucursal de Brasília
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