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Gargalos e ágio rondam setor industrial em 2008
Problema já afeta prazos de entrega, dizem empresas
AGNALDO BRITO
DA REPORTAGEM LOCAL
A indústria brasileira começa
a enfrentar os primeiros efeitos
colaterais da forte demanda no
mercado interno. A falta de insumos e de matérias-primas
não é generalizada, mas, mesmo localizada, já tem obrigado
algumas indústrias a pagar ágio
para ter itens nos prazos convencionais. Outra opção tem sido a de rever os contratos e
alongar os prazos de entrega.
"Há gargalos ainda pontuais,
mas há. E isso já começa a alimentar a prática de ágio. Nós
vamos observar o crescimento
do ágio neste ano", pondera Julio Gomes de Almeida, consultor do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento
Industrial).
A situação não é pior devido à
importação, que neste momento exerce duas funções: assegura o abastecimento da indústria
e barra o repasse automático do
aumento de custo com insumos e matérias-primas.
A Dedini S.A. Indústrias de
Base, maior indústria de bens
de capital para o setor sucroalcooleiro do mundo, enfrenta
neste momento atrasos na entrega de componentes usados
em equipamentos como as caldeiras. Grande consumidora de
aço carbono e aço inoxidável, a
Dedini afirma que tem conseguido comprar os 6.000 toneladas mensais dos dois tipos de
aço no mercado, mas parte da
demanda já é abastecida com
importação.
"Estamos estudando ampliar
as importações de aço no segundo semestre, quando imaginamos que a demanda estará
ainda maior", explica José Luiz
Olivério, vice-presidente de
operações da empresa.
Mas o problema mais sério
está em alguns componentes
que ela considera críticos, como válvulas, bombas e ventiladores. A estimativa da empresa
é que o custo desses itens subiu
15%. "Há reflexos nos custos e
nos prazos de entrega para alguns clientes. O tempo de montagem de uma caldeira, que antes era de 12 meses, passou para
15 meses", diz Olivério.
Indústria de base
O IBS (Instituto Brasileiro de
Siderurgia) afirmou ao ministro da Fazenda, Guido Mantega, na semana passada, que a
indústria do aço vai assegurar o
abastecimento, mas avisou que
irá passar adiante a alta do custo do minério de ferro e do carvão. Variaram conforme o produto, mas já houve reajustes de
pelo menos 6% e até 13,5% do
aço no primeiro trimestre. Haverá outros.
Embora o IBS tenha afastado
a hipótese de crise no abastecimento, o fato é que o setor siderúrgico só mantém o pleno
abastecimento porque cortou a
exportação.
A capacidade de produção de
aços planos da Usiminas e da
CSN está no limite. Na Usiminas, as vendas atingiram 7,9
milhões de toneladas no ano
passado. A capacidade atual da
companhia é de 8,1 milhões de
toneladas de laminados. A expansão da unidade de Ipatinga
em 3,2 milhões de toneladas só
acontecerá em 2011 ou 2012.
Na CSN, a produção atingiu
5,3 milhões de toneladas, e o limite está em 5,6 milhões de toneladas. O governo está preocupado com a redução das exportações de aço para atender
ao mercado local, mas se convenceu na semana passada de
que não há muito o que fazer
até que os investimentos em
curso ampliem a capacidade.
A indústria do plástico não
dispõe de maior folga. O consumo aparente em 2007 (soma da
demanda interna mais importação) atingiu os 4,9 milhões de
toneladas, e a previsão é que os
pedidos ao longo deste ano
cresçam 10%, o dobro do PIB.
Segundo Nelson Pereira dos
Reis, vice-presidente da Abiquim (Associação Brasileira da
Indústria Química), o setor
também está cortando exportação para atender o país. No
ano passado, a importação
cresceu 10%. As exportações,
apenas 1,6%. Nesse ritmo, o
Brasil deixará de ser exportador líquido para ser importador
líquido. O gargalo do setor está
no acesso a matéria-prima barata. A maior parte da produção
de plástico começa com o processamento da nafta, como a
gasolina, um derivado obtido a
partir do refino do petróleo.
Hoje, 30% da nafta processada
nas três centrais petroquímicas
brasileiras é importada.
O setor entregou ao governo
um estudo em que pede um
plano para garantir suprimento ao setor a partir de 2015.
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