São Paulo, quinta-feira, 03 de abril de 2008

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Pela primeira vez, Bernanke admite recessão nos EUA

Presidente do BC dos EUA diz que o PIB poderá ter leve contração no semestre

Em discurso, Bernanke defendeu ainda a ação do Federal Reserve para evitar o colapso do banco de investimentos Bear Stearns

Jonathan Ernst/Reuters
O presidente do Fed, Ben Bernanke, apresenta avaliação sobre a economia dos EUA durante audiência com congressistas ontem

DO "NEW YORK TIMES"

O chairman do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos), Ben Bernanke, apresentou sua mais sombria avaliação sobre a economia dos Estados Unidos na manhã de ontem, alertando um comitê do Congresso de que era provável que surgisse uma estagnação do crescimento econômico, ou uma possível contração, no primeiro semestre deste ano.
Em seu primeiro pronunciamento público depois de o Fed ter orquestrado uma operação sem precedentes de resgate ao banco de investimento Bear Stearns, Bernanke defendeu as ações do banco central contra as acusações de "risco moral", e reconheceu que a economia mais ampla enfrenta problemas consideráveis.
O presidente do Fed também disse que as medidas tomadas pela instituição para restaurar a confiança nos mercados de crédito haviam "ajudado a estabilizar a situação, de alguma maneira" e provavelmente estimulariam uma recuperação econômica, depois do verão.
Mas ele advertiu que as atuais turbulências tornavam difícil prever as perspectivas econômicas.
"A incerteza que cerca essa previsão é bastante elevada, e os riscos continuam a ser de queda", disse Bernanke ontem em depoimento ao Comitê Econômico Conjunto do Congresso.
Em termos gerais, disse Bernanke, "parece agora que o PIB (Produto Interno Bruto) real não crescerá muito, se é que o fará, no primeiro semestre de 2008, e poderia até mesmo se contrair ligeiramente".
As declarações de Bernanke tiveram repercussão negativa nas bolsas norte-americanas ontem, revertendo a onda de otimismo registrada no dia anterior. O índice Dow Jones recuou 0,38% e a Nasdaq, 0,06%.
Pela primeira vez em meses, Bernanke omitiu sugestões de que o Fed estaria pronto a prolongar sua série de cortes acentuados nas taxas de juros. Ele afirmou que a inflação continuava a ser um problema sério, capaz de reduzir a flexibilidade do banco central no que tange a reduzir juros.
"Esperamos que a inflação se modere nos próximos trimestres", ele disse, mas acrescentou que "a incerteza quanto às perspectivas inflacionárias se agravou. Será necessário que continuemos a monitorar os desdobramentos inflacionários nos próximos meses".
No depoimento, Bernanke apresentou uma lista das atuais preocupações econômicas.
Afirmou que antecipava uma alta no índice de desemprego, uma queda nas folhas de pagamento e uma contração no setor de construção residencial.
Mesmo depois de semanas de esforço para reforçar a confiança dos mercados de crédito, ele reconheceu que bancos e outras instituições financeiras continuam hesitando em emprestar, o que causa problemas à economia mais ampla.
"Os mercados financeiros continuam sob estresse considerável", disse Bernanke. "A capacidade e a disposição de algumas grandes instituições quanto a conceder novos créditos continua limitada".
Ele mencionou desgaste em diversos mercados de crédito, entre os quais o de títulos empresariais, o de obrigações municipais, o de crédito estudantil e o de hipotecas garantidas pelo governo, mas acrescentou que estava "confiante nas perspectivas econômicas de nosso país em longo prazo".
Na audiência de ontem, os parlamentares fizeram inúmeras perguntas a Bernanke sobre as implicações legais e regulatórias do resgate ao Bear Stearns. Em seu depoimento, o chairman do Fed defendeu as ações da instituições contra acusações de "risco moral", invocadas por alguns críticos, para os quais o correto seria deixar que o banco pagasse as conseqüências de suas apostas insensatas em títulos vinculados a hipotecas de alto risco (o chamado "subprime").
"Não resgatamos o Bear Stearns", disse Bernanke, em resposta a perguntas dos parlamentares. "Os acionistas do Bear Stearns sofreram prejuízos significativos. Uma empresa criada 85 anos atrás perdeu sua independência e foi adquirida por outra companhia.
Muitos funcionários do Bear Stearns, como os senhores sabem, estão preocupados com seus empregos".
Ele disse que as conseqüências de permitir o colapso do Bear Stearns teriam levado a problemas mais amplos nos mercados de crédito e a uma crise na confiança econômica.
"O dano causado em caso de insolvência do Bear Stearns teria sido severo e extremamente difícil de limitar", afirmou Bernanke. Mais tarde, ele disse que "fizemos o que fizemos porque sentimos que era necessário para sustentar a viabilidade do sistema financeiro".
O chairman disse que o Fed não havia sido informado sobre a severidade da escassez de capital do Bear Stearns até 24 horas antes do quase-colapso do banco. A consultoria de investimento BlackRock foi contratada para avaliar os ativos do Bear Stearns, por honorários não especificados, comunicou o chairman.
De acordo com Bernanke, a BlackRock afirma que os ativos do banco poderão ser vendidos pelo valor pleno se "isso for feito de maneira ordenada". Bernanke também não chegou a expressar apoio ao plano anunciado pelo governo Bush para reformar a infra-estrutura de regulamentação financeira dos Estados Unidos.
"O plano do Tesouro é um primeiro passo útil e interessante", declarou. "Creio que todos concordamos em que será necessário discutir e analisar muito antes que estejamos prontos a promover grandes mudanças em nossa estrutura regulatória".


Tradução de PAULO MIGLIACCI

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