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Pela primeira vez, Bernanke admite recessão nos EUA
Presidente do BC dos EUA diz que o PIB poderá ter leve contração no semestre
Em discurso, Bernanke defendeu ainda a ação do Federal Reserve para evitar o colapso do banco de investimentos Bear Stearns
Jonathan Ernst/Reuters
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O presidente do Fed, Ben Bernanke, apresenta avaliação sobre a economia dos EUA durante audiência com congressistas ontem
DO "NEW YORK TIMES"
O chairman do Federal Reserve (Fed, o banco central dos
Estados Unidos), Ben Bernanke, apresentou sua mais sombria avaliação sobre a economia dos Estados Unidos na manhã de ontem, alertando um
comitê do Congresso de que era
provável que surgisse uma estagnação do crescimento econômico, ou uma possível contração, no primeiro semestre
deste ano.
Em seu primeiro pronunciamento público depois de o Fed
ter orquestrado uma operação
sem precedentes de resgate ao
banco de investimento Bear
Stearns, Bernanke defendeu as
ações do banco central contra
as acusações de "risco moral", e
reconheceu que a economia
mais ampla enfrenta problemas consideráveis.
O presidente do Fed também
disse que as medidas tomadas
pela instituição para restaurar
a confiança nos mercados de
crédito haviam "ajudado a estabilizar a situação, de alguma
maneira" e provavelmente estimulariam uma recuperação
econômica, depois do verão.
Mas ele advertiu que as atuais
turbulências tornavam difícil
prever as perspectivas econômicas.
"A incerteza que cerca essa
previsão é bastante elevada, e
os riscos continuam a ser de
queda", disse Bernanke ontem
em depoimento ao Comitê
Econômico Conjunto do Congresso.
Em termos gerais, disse Bernanke, "parece agora que o PIB
(Produto Interno Bruto) real
não crescerá muito, se é que o
fará, no primeiro semestre de
2008, e poderia até mesmo se
contrair ligeiramente".
As declarações de Bernanke
tiveram repercussão negativa
nas bolsas norte-americanas
ontem, revertendo a onda de
otimismo registrada no dia anterior. O índice Dow Jones recuou 0,38% e a Nasdaq, 0,06%.
Pela primeira vez em meses,
Bernanke omitiu sugestões de
que o Fed estaria pronto a prolongar sua série de cortes acentuados nas taxas de juros. Ele
afirmou que a inflação continuava a ser um problema sério,
capaz de reduzir a flexibilidade
do banco central no que tange a
reduzir juros.
"Esperamos que a inflação se
modere nos próximos trimestres", ele disse, mas acrescentou que "a incerteza quanto às
perspectivas inflacionárias se
agravou. Será necessário que
continuemos a monitorar os
desdobramentos inflacionários
nos próximos meses".
No depoimento, Bernanke
apresentou uma lista das atuais
preocupações econômicas.
Afirmou que antecipava uma
alta no índice de desemprego,
uma queda nas folhas de pagamento e uma contração no setor de construção residencial.
Mesmo depois de semanas
de esforço para reforçar a confiança dos mercados de crédito,
ele reconheceu que bancos e
outras instituições financeiras
continuam hesitando em emprestar, o que causa problemas
à economia mais ampla.
"Os mercados financeiros
continuam sob estresse considerável", disse Bernanke. "A
capacidade e a disposição de algumas grandes instituições
quanto a conceder novos créditos continua limitada".
Ele mencionou desgaste em
diversos mercados de crédito,
entre os quais o de títulos empresariais, o de obrigações municipais, o de crédito estudantil
e o de hipotecas garantidas pelo
governo, mas acrescentou que
estava "confiante nas perspectivas econômicas de nosso país
em longo prazo".
Na audiência de ontem, os
parlamentares fizeram inúmeras perguntas a Bernanke sobre
as implicações legais e regulatórias do resgate ao Bear
Stearns. Em seu depoimento, o
chairman do Fed defendeu as
ações da instituições contra
acusações de "risco moral", invocadas por alguns críticos, para os quais o correto seria deixar que o banco pagasse as conseqüências de suas apostas insensatas em títulos vinculados
a hipotecas de alto risco (o chamado "subprime").
"Não resgatamos o Bear
Stearns", disse Bernanke, em
resposta a perguntas dos parlamentares. "Os acionistas do
Bear Stearns sofreram prejuízos significativos. Uma empresa criada 85 anos atrás perdeu
sua independência e foi adquirida por outra companhia.
Muitos funcionários do Bear
Stearns, como os senhores sabem, estão preocupados com
seus empregos".
Ele disse que as conseqüências de permitir o colapso do
Bear Stearns teriam levado a
problemas mais amplos nos
mercados de crédito e a uma
crise na confiança econômica.
"O dano causado em caso de
insolvência do Bear Stearns teria sido severo e extremamente
difícil de limitar", afirmou Bernanke. Mais tarde, ele disse que
"fizemos o que fizemos porque
sentimos que era necessário
para sustentar a viabilidade do
sistema financeiro".
O chairman disse que o Fed
não havia sido informado sobre
a severidade da escassez de capital do Bear Stearns até 24 horas antes do quase-colapso do
banco. A consultoria de investimento BlackRock foi contratada para avaliar os ativos do Bear
Stearns, por honorários não especificados, comunicou o
chairman.
De acordo com Bernanke, a
BlackRock afirma que os ativos
do banco poderão ser vendidos
pelo valor pleno se "isso for feito de maneira ordenada".
Bernanke também não chegou a expressar apoio ao plano
anunciado pelo governo Bush
para reformar a infra-estrutura
de regulamentação financeira
dos Estados Unidos.
"O plano do Tesouro é um
primeiro passo útil e interessante", declarou. "Creio que todos concordamos em que será
necessário discutir e analisar
muito antes que estejamos
prontos a promover grandes
mudanças em nossa estrutura
regulatória".
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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