São Paulo, sábado, 03 de abril de 2010

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Colômbia "impediu solução discreta", diz Nogueira Batista

Colombiana foi demitida por não ter qualificações técnicas, diz diretor do FMI

ANDREA MURTA
DE WASHINGTON

No centro de uma polêmica bilateral por ter demitido sua vice colombiana no FMI, Paulo Nogueira Batista Jr., diretor-executivo no órgão pelo Brasil e mais oito países, defendeu a decisão à Folha e afirmou que a forte reação da Colômbia impediu "uma solução discreta" para a contenda. "Tentei viajar a Bogotá para tratar do assunto face a face, mas recusaram minha visita", diz, no relato mais detalhado à imprensa sobre o caso até agora.
A Colômbia anunciou que o Brasil não fala mais pelo país no FMI e enviou o gerente técnico do Banco da República (banco central colombiano) Hernando Vargas para substituir a demitida María Inés Agudelo em reuniões iminentes no órgão.
O posto antes ocupado por Agudelo segue vazio -a indicação, pelo acordo entre os nove países que constituem o grupo, cabe à Colômbia, segunda após o Brasil em número de votos. Mas a prerrogativa de nomear e demitir o vice-diretor é exclusiva do diretor-executivo. Leia a seguir a entrevista que Batista Jr. concedeu à Folha, por e-mail, da China.

 

FOLHA - A saída de Agudelo gerou bastante polêmica. Em que circunstâncias se deu a demissão?
PAULO NOGUEIRA BATISTA JR. - O assunto não merece o destaque que tem recebido. Minha intenção era tratar tudo com o máximo de reserva, mas a reação da Colômbia não permitiu uma solução discreta. O problema é que a funcionária colombiana não tinha as qualificações técnicas e profissionais necessárias para o cargo e não se destacava pela lealdade e pelo respeito à hierarquia. Pedi à Colômbia que indicasse um substituto. Fiz o possível para explicar a situação antes de tomar a decisão de demitir. Enviei correspondências que ficaram sem resposta. Tentei viajar a Bogotá para tratar do assunto face a face, mas recusaram minha visita. A intensidade da reação [da Colômbia] é difícil de explicar. A posição de vice diretor somente pode ser ocupada por pessoa tecnicamente capacitada, que tenha conhecimento dos assuntos do fundo, ou capacidade de adquiri-los. Além disso, precisa ter o domínio da língua inglesa.

FOLHA - O senhor considera a Colômbia fora do grupo?
BATISTA JR. - A Colômbia continua no grupo, mas talvez esteja se comportando como se quisesse sair mais à frente. Espero que isso não aconteça, pois Brasil e Colômbia são países amigos, que não têm divergências importantes em matéria de FMI. Mas, claro, a Colômbia é soberana.

FOLHA - A Colômbia ameaça retirar o apoio a uma eventual reeleição sua. O sr. crê que o episódio prejudicará seu trabalho?
BATISTA JR. - Obviamente, não fico contente em perder o apoio da Colômbia. Mas não acredito que uma eventual saída afete o trabalho da nossa cadeira. A influência do Brasil no FMI e em outros fóruns está crescendo -e vai continuar crescendo.

FOLHA - Sobre a China, o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, disse estar mais preocupado com a crise na Grécia do que com efeitos no Brasil da desvalorização do yuan. O sr. concorda?
BATISTA JR. - Sim. A crise na Grécia e em outros países da zona do euro é provavelmente a ameaça mais importante à estabilidade da economia internacional no momento. Mas parece claro que a política cambial da China tem efeitos adversos sobre a taxa efetiva de câmbio do real, contribuindo para a perda de competitividade da economia brasileira.

FOLHA - Como o sr. vê as discussões que levaram à inclusão de crédito do FMI para o pacote de ajuda à Grécia?
BATISTA JR. - No meu entender, a crise não está sendo bem administrada pelos europeus. Houve muitas divergências não só entre os países mas dentro dos países. Os europeus demoraram muito a aceitar o caminho que parece mais razoável: combinar um programa do FMI com apoio financeiro europeu. Ainda estão tentando evitar esse desfecho.
[Mas] a Grécia é apenas a ponta de um iceberg. A Europa passa por uma crise grave e deve continuar perdendo importância relativa no mundo. O euro vai sobreviver, mas haverá turbulências.


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