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Colômbia "impediu solução discreta", diz Nogueira Batista
Colombiana foi demitida por não ter qualificações técnicas, diz diretor do FMI
ANDREA MURTA
DE WASHINGTON
No centro de uma polêmica
bilateral por ter demitido sua
vice colombiana no FMI, Paulo
Nogueira Batista Jr., diretor-executivo no órgão pelo Brasil e
mais oito países, defendeu a decisão à Folha e afirmou que a
forte reação da Colômbia impediu "uma solução discreta"
para a contenda. "Tentei viajar
a Bogotá para tratar do assunto
face a face, mas recusaram minha visita", diz, no relato mais
detalhado à imprensa sobre o
caso até agora.
A Colômbia anunciou que o
Brasil não fala mais pelo país
no FMI e enviou o gerente técnico do Banco da República
(banco central colombiano)
Hernando Vargas para substituir a demitida María Inés
Agudelo em reuniões iminentes no órgão.
O posto antes ocupado por
Agudelo segue vazio -a indicação, pelo acordo entre os nove
países que constituem o grupo,
cabe à Colômbia, segunda após
o Brasil em número de votos.
Mas a prerrogativa de nomear
e demitir o vice-diretor é exclusiva do diretor-executivo.
Leia a seguir a entrevista que
Batista Jr. concedeu à Folha,
por e-mail, da China.
FOLHA - A saída de Agudelo gerou
bastante polêmica. Em que circunstâncias se deu a demissão?
PAULO NOGUEIRA BATISTA JR. - O assunto não merece o destaque
que tem recebido. Minha intenção era tratar tudo com o
máximo de reserva, mas a reação da Colômbia não permitiu
uma solução discreta. O problema é que a funcionária colombiana não tinha as qualificações
técnicas e profissionais necessárias para o cargo e não se destacava pela lealdade e pelo respeito à hierarquia.
Pedi à Colômbia que indicasse um substituto. Fiz o possível
para explicar a situação antes
de tomar a decisão de demitir.
Enviei correspondências que
ficaram sem resposta. Tentei
viajar a Bogotá para tratar do
assunto face a face, mas recusaram minha visita. A intensidade da reação [da Colômbia] é
difícil de explicar.
A posição de vice diretor somente pode ser ocupada por
pessoa tecnicamente capacitada, que tenha conhecimento
dos assuntos do fundo, ou capacidade de adquiri-los. Além disso, precisa ter o domínio da língua inglesa.
FOLHA - O senhor considera a Colômbia fora do grupo?
BATISTA JR. - A Colômbia continua no grupo, mas talvez esteja
se comportando como se quisesse sair mais à frente. Espero
que isso não aconteça, pois Brasil e Colômbia são países amigos, que não têm divergências
importantes em matéria de
FMI. Mas, claro, a Colômbia é
soberana.
FOLHA - A Colômbia ameaça retirar
o apoio a uma eventual reeleição
sua. O sr. crê que o episódio prejudicará seu trabalho?
BATISTA JR. - Obviamente, não
fico contente em perder o apoio
da Colômbia. Mas não acredito
que uma eventual saída afete o
trabalho da nossa cadeira. A influência do Brasil no FMI e em
outros fóruns está crescendo
-e vai continuar crescendo.
FOLHA - Sobre a China, o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, disse estar mais preocupado
com a crise na Grécia do que com
efeitos no Brasil da desvalorização
do yuan. O sr. concorda?
BATISTA JR. - Sim. A crise na Grécia e em outros países da zona
do euro é provavelmente a
ameaça mais importante à estabilidade da economia internacional no momento. Mas parece claro que a política cambial da China tem efeitos adversos sobre a taxa efetiva de câmbio do real, contribuindo para a
perda de competitividade da
economia brasileira.
FOLHA - Como o sr. vê as discussões
que levaram à inclusão de crédito do
FMI para o pacote de ajuda à Grécia?
BATISTA JR. - No meu entender,
a crise não está sendo bem administrada pelos europeus.
Houve muitas divergências não
só entre os países mas dentro
dos países. Os europeus demoraram muito a aceitar o caminho que parece mais razoável:
combinar um programa do
FMI com apoio financeiro europeu. Ainda estão tentando
evitar esse desfecho.
[Mas] a Grécia é apenas a
ponta de um iceberg. A Europa
passa por uma crise grave e deve continuar perdendo importância relativa no mundo. O euro vai sobreviver, mas haverá
turbulências.
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