São Paulo, sexta-feira, 03 de maio de 2002

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MERCADO TENSO

Pesquisa eleitoral, instabilidade da América Latina e más notícias econômicas também pressionam risco-país

Onda pessimista puxa dólar e derruba Bolsa

ANA PAULA RAGAZZI
DA REPORTAGEM LOCAL

Uma onda de pessimismo atingiu os investidores estrangeiros em relação ao Brasil. Esse fato, aliado a instabilidades na América Latina e às más notícias pontuais no cenário econômico interno (inflação fora da meta, pífio resultado das contas públicas e parada na queda das taxas de juros), elevou o risco-país brasileiro.
Além disso, a questão eleitoral contribuiu para azedar os ânimos dos investidores e gerar desconfiança dos mercados.
Essa avaliação foi intensificada ontem, quando um analista do ABN Amro afirmou que o banco reduzia sua recomendação de compra para papéis brasileiros.
O motivo apontado foi a melhora no desempenho do pré-candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas pesquisas de intenção de voto. Essa justificativa já havia sido usada pelos bancos de investimento Merrill Lynch e Morgan Stanley, que tomaram a mesma decisão, no início desta semana.
No meio da tarde, o presidente do ABN Amro no Brasil, Fábio Barbosa, divulgou nota afirmando que a direção da instituição não compartilhava com a avaliação presente no relatório e a atribuía à opinião isolada de analistas. "Esses relatórios são rotineiros e os analistas têm independência para fazerem suas recomendações", diz o texto.
Mas o mercado manteve a interpretação de que se trata de uma avaliação do banco. Os C-Bonds, títulos da dívida externa brasileira, caíram 1,76%. Estão cotados a US$ 0,7706 de seu valor de face -o menor valor desde fevereiro.
O risco-país do Brasil, medido pelo índice Embi+, do JP Morgan, subiu mais 3,4%, para 883 pontos. É o maior desde fevereiro e supera o da Venezuela. Está atrás apenas de Argentina, Equador e Nigéria. A Bolsa caiu 4,17% e o dólar subiu 1,48%. Há um mês, boa parte das instituições dava quase que como certo que o atual governo conseguiria eleger seu candidato nesta eleição.

"O preferido"
A partir dos resultados de recentes pesquisas, tiveram de traçar novos cenários, que incluem uma possível vitória de um candidato desconhecido para o mercado -seja Lula, Anthony Garotinho (PSB) ou Ciro Gomes (PPS). O pré-candidato José Serra (PSDB) é o preferido do mercado porque representa a continuidade da atual política econômica.
Pedro Thomazoni, do banco Lloyds TSB, afirma que essa instabilidade nos mercados é natural num período pré-eleitoral.
"As instituições estão atrasadas. Acordaram de repente e perceberam que teremos eleições daqui a cinco meses. Agora tentam se ajustar a este cenário."
Esse ajuste incluiu ontem uma procura por "hedge" (proteção cambial), que contribuiu para a alta do dólar. Com essas operações, os investidores querem impedir que suas dívidas em dólar disparem ou seu patrimônio em dólar seja depreciado por conta da alta da moeda americana.
O mau humor em relação ao Brasil apenas cresceu nesta semana. O rebaixamento das recomendações de compra de títulos pelos bancos estrangeiros intensificou a deterioração do C-Bond e do risco-país. Mas a piora no desempenho dos dois indicadores se iniciou há cerca de 15 dias.
Nesse período, no cenário externo, houve as turbulências políticas na Venezuela e a renúncia do ministro da Economia da Argentina. À nova crise no país vizinho seguiram-se declarações do presidente do Banco Central, Armínio Fraga, de que discordava da tese de que as economias dois dois países estavam descoladas.
"Internamente, o resultado fiscal brasileiro foi ruim em março, o que acabou comendo as sobras dos outros meses", afirma o economista-chefe do banco Fibra, Guilherme da Nóbrega.
"Além disso, há a demora na aprovação da CPMF e a inflação ainda acima da meta."



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