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MERCADO TENSO
Pesquisa eleitoral, instabilidade da América Latina e más notícias econômicas também pressionam risco-país
Onda pessimista puxa dólar e derruba Bolsa
ANA PAULA RAGAZZI
DA REPORTAGEM LOCAL
Uma onda de pessimismo atingiu os investidores estrangeiros
em relação ao Brasil. Esse fato,
aliado a instabilidades na América Latina e às más notícias pontuais no cenário econômico interno (inflação fora da meta, pífio resultado das contas públicas e parada na queda das taxas de juros),
elevou o risco-país brasileiro.
Além disso, a questão eleitoral
contribuiu para azedar os ânimos
dos investidores e gerar desconfiança dos mercados.
Essa avaliação foi intensificada
ontem, quando um analista do
ABN Amro afirmou que o banco
reduzia sua recomendação de
compra para papéis brasileiros.
O motivo apontado foi a melhora no desempenho do pré-candidato Luiz Inácio Lula da Silva
(PT) nas pesquisas de intenção de
voto. Essa justificativa já havia sido usada pelos bancos de investimento Merrill Lynch e Morgan
Stanley, que tomaram a mesma
decisão, no início desta semana.
No meio da tarde, o presidente
do ABN Amro no Brasil, Fábio
Barbosa, divulgou nota afirmando que a direção da instituição
não compartilhava com a avaliação presente no relatório e a atribuía à opinião isolada de analistas. "Esses relatórios são rotineiros e os analistas têm independência para fazerem suas recomendações", diz o texto.
Mas o mercado manteve a interpretação de que se trata de uma
avaliação do banco. Os C-Bonds,
títulos da dívida externa brasileira, caíram 1,76%. Estão cotados a
US$ 0,7706 de seu valor de face
-o menor valor desde fevereiro.
O risco-país do Brasil, medido
pelo índice Embi+, do JP Morgan,
subiu mais 3,4%, para 883 pontos.
É o maior desde fevereiro e supera
o da Venezuela. Está atrás apenas
de Argentina, Equador e Nigéria.
A Bolsa caiu 4,17% e o dólar subiu
1,48%. Há um mês, boa parte das
instituições dava quase que como
certo que o atual governo conseguiria eleger seu candidato nesta
eleição.
"O preferido"
A partir dos resultados de recentes pesquisas, tiveram de traçar novos cenários, que incluem
uma possível vitória de um candidato desconhecido para o mercado -seja Lula, Anthony Garotinho (PSB) ou Ciro Gomes (PPS).
O pré-candidato José Serra
(PSDB) é o preferido do mercado
porque representa a continuidade
da atual política econômica.
Pedro Thomazoni, do banco
Lloyds TSB, afirma que essa instabilidade nos mercados é natural
num período pré-eleitoral.
"As instituições estão atrasadas.
Acordaram de repente e perceberam que teremos eleições daqui a
cinco meses. Agora tentam se
ajustar a este cenário."
Esse ajuste incluiu ontem uma
procura por "hedge" (proteção
cambial), que contribuiu para a
alta do dólar. Com essas operações, os investidores querem impedir que suas dívidas em dólar
disparem ou seu patrimônio em
dólar seja depreciado por conta
da alta da moeda americana.
O mau humor em relação ao
Brasil apenas cresceu nesta semana. O rebaixamento das recomendações de compra de títulos pelos
bancos estrangeiros intensificou a
deterioração do C-Bond e do risco-país. Mas a piora no desempenho dos dois indicadores se iniciou há cerca de 15 dias.
Nesse período, no cenário externo, houve as turbulências políticas na Venezuela e a renúncia do
ministro da Economia da Argentina. À nova crise no país vizinho
seguiram-se declarações do presidente do Banco Central, Armínio
Fraga, de que discordava da tese
de que as economias dois dois
países estavam descoladas.
"Internamente, o resultado fiscal brasileiro foi ruim em março,
o que acabou comendo as sobras
dos outros meses", afirma o economista-chefe do banco Fibra,
Guilherme da Nóbrega.
"Além disso, há a demora na
aprovação da CPMF e a inflação
ainda acima da meta."
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