São Paulo, sexta-feira, 03 de maio de 2002

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FIM DA LINHA

"País virou um martírio para nós", afirma diretor da empresa

Sadia fecha as portas na Argentina

ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

A maior fabricante nacional de alimentos do país, a Sadia, vai fechar sua empresa na Argentina. A companhia perdeu US$ 4,8 milhões no país, as vendas devem cair de US$ 33 milhões no ano passado para não mais do que US$ 3 milhões neste ano -um tombo de 90%. E os funcionários serão dispensados. Devem restar só dez empregados até junho. Em dezembro, eram 50.
A decisão foi anunciada ontem, após várias tentativas frustradas de manter a estrutura atual em operação. "Não é mais possível fazer negócios lá. A Argentina virou um martírio para nós. Recebemos até patacones deles, dinheiro que uso para brincar de Banco Imobiliário (um jogo) com minha filha", disse o diretor de relações com investidores, Luiz Murat.
As vendas no mercado argentino, que já chegaram a US$ 50 milhões em 1999, recuaram para US$ 33 milhões em 2001 e não devem passar de US$ 3 milhões neste ano. Dos 157 empregados que chegaram a ter, em 1999, no centro de distribuição, localizado na Grande Buenos Aires, restarão dez pessoas. Eles farão trabalhos administrativos, basicamente.
Na estrutura antiga, a Sadia exportava para a Argentina, recebia em moeda local e convertia a receita em dólares. O pagamento era feito a cada 90 dias. Com a crise e a fabricação de moedas (bônus) pelas províncias, o negócio virou um verdadeiro mico.
"Resistimos bravamente porque não queríamos aceitar os patacones. E os supermercados só queriam pagar dessa forma. Acabamos utilizando o papel para pagar impostos", afirmou.
A empresa teve uma perda total de US$ 4,8 milhões com a crise argentina. Desse total, US$ 1,8 milhão foram registrados no balanço de 31 de dezembro de 2001. No balanço do primeiro trimestre, foram registrados mais US$ 3 milhões como despesas financeiras.
A Sadia apresentou ontem o seu balanço do trimestre com um lucro líquido de R$ 27,9 milhões, 215,2% superior ao apurado em mesmo período do ano passado
Os indicadores não tão positivos, na visão dos analistas, foram a margem bruta (receita menos custos totais) da empresa, o lucro operacional (lucro obtido com a operação de venda). A margem bruta no primeiro trimestre deste ano caiu de 1,7% sobre 2001.
O lucro operacional, de R$ 83 milhões, foi 6,2% inferior ao do primeiro trimestre de 2001. "Aconteceram aumentos nos custos. Além disso, o mercado externo registrou elevada oferta, tornando a competição acirrada", disse Daniel Pascoali, da corretora Fator Doria-Atherino.



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