São Paulo, quarta-feira, 03 de maio de 2006

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LUÍS NASSIF

Trechos de um depoimento

As seguintes informações foram obtidas de dois depoimentos de Octavio Frias de Oliveira, e de outras fontes, e integram o capítulo sobre a formação do mercado de capitais brasileiro, na biografia de Walther Moreira Salles, em preparação.
Nos anos 40, Octavio Frias de Oliveira foi sócio minoritário do mais inovador banco brasileiro da época, o BNI (Banco Nacional Imobiliário), de Orozimbo Roxo Loureiro. Foi o primeiro banco a trabalhar com o conceito de poupança imobiliária. Lançou o "Kanguru-Mirim", a Conta de Economia Programada e outras realizações que inovaram o mercado imobiliário e de capitais da época. Eram sócios, também, Benedito Ferri de Barros e Carlos Caldeira Filho.
Entre as inúmeras inovações, o BNI havia constituído aquele que provavelmente foi o primeiro fundo de investimento brasileiro. Seus advogados foram desenterrar do Código Comercial Brasileiro, de 1850, uma certa Conta de Participação, que ajudou a dar forma jurídica ao Fundo de Investimento e Participação.
No final dos anos 40, o governo resolveu licitar a concessão de refinarias. Um dos grupos vencedores foi a família Soares Sampaio, do Rio de Janeiro. Sem capital, os Soares Sampaio foram convencidos por Alcântara Machado a contratar o BNI para organizar um lançamento de ações no mercado.
Acertado o projeto de capitalização da futura Refinaria União, seus analistas levantaram estudos acerca de fundos estrangeiros e acabaram se baseando no modelo do "Investment Fund for Capital Apreciation and Dividends", um fundo de investimento com valorização diária, dividido em quotas de participação de Cr$ 50 mil, vendidas à vista ou a prazo de dois anos.
Orozimbo solicitou três meses para planejar o lançamento, preparar equipes de venda e efetuar pesquisas de mercado. Encerrado o prazo de estudos, foi assinado o contrato, fixando prazo de seis meses para as vendas. A agência de publicidade Arco-Artusi preparou a campanha.
Nas semanas seguintes, houve palestras na Federação das Indústrias, na Associação Comercial, no Clube de Engenharia. O lema exposto em todas as campanhas era "Precisamos construir a independência econômica do Brasil e auferir para os brasileiros os formidáveis lucros da refinação de petróleo".
A campanha chegou a merecer uma reportagem da "Time", referindo-se a ela como algo similar a "tirando dinheiro debaixo do colchão". Conseguiram 13 mil acionistas. Tempos depois, Roxo Loureiro meteu-se na política, os sócios deixaram o banco. Depois, uma crise de liquidez fez com que fosse adquirido pelo Bradesco.
Frias ficou algum tempo parado, pensando no que fazer, quando foi procurado pelos controladores da Mesbla e do Mappin querendo um plano de capitalização similar ao montado para a Refinaria União. Como era muito trabalhoso, Frias pediu uma comissão altíssima -30% sobre a captação. Para sua surpresa, a proposta foi aceita. Nos anos seguintes, montou um escritório que chegou a contar com mais de cem vendedores porta a porta. Foi o capital acumulado nesse período que permitiu, mais tarde, que adquirisse a empresa Folha da Manhã.


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