São Paulo, quarta-feira, 03 de maio de 2006

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TENSÃO ENTRE VIZINHOS

Vice-presidente diz que exportação ao Brasil e à Argentina não será afetada com nacionalização

Bolívia garante gás, mas quer cobrar mais

FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A SANTA CRUZ DE LA SIERRA

Um dia depois de invadir um campo da Petrobras para assinar um decreto que aumenta os impostos e tira o controle acionário de duas refinarias dessa empresa, o presidente Evo Morales assegurou ontem que o Brasil não terá problemas de abastecimento de gás natural e atribuiu a crise entre os dois países à imprensa.
"Asseguro que existem meios de comunicação que tentam que nos enfrentemos [com Brasil e Argentina], que nos isolemos, que chamam a uma confrontação, mas isso não ocorrerá", disse Morales à tarde, em entrevista à TV Telesur, após conversar por telefone com o colega brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva.
Morales disse que o diálogo "sempre estará aberto, mas o decreto não será modificado" e voltou a advertir que as empresas que discordarem terão de deixar o país depois do período de 180 dias de transição. "As empresas que não se adequarem deverão sair da Bolívia."
Além de Morales, outros membros do governo passaram o dia tentando explicar o decreto da nacionalização e rebatendo críticas da comunidade internacional.
O ministro de Hidrocarbonetos, Andrés Soliz, tido como um dos mais radicais do governo Morales e crítico histórico da Petrobras, disse, também ao Telesur (sediado em Caracas), que todos os contratos existentes "estão total e definitivamente anulados. A partir de agora, há um período de seis meses de renegociação dos contratos."
"Mais de 80% do gás que permite o funcionamento desse monstro industrial que é São Paulo é boliviano, ou seja, se alguém não vai fechar as válvulas será a Petrobras, porque afetaria diretamente o principal centro industrial do Brasil", disse Soliz. Segundo a Petrobras, 74% do gás usado em São Paulo vem da Bolívia.
A Bolívia, por outro lado, teria imensas dificuldades em exportar o seu produto. Sem acesso ao mar, tem na Argentina e no Brasil seus únicos grandes mercados a curto prazo. Além disso, a Petrobras ocupa um espaço enorme na economia do país -sozinha, contribui com 20% da arrecadação de impostos bolivianos.
Soliz descartou a possibilidade de arbitragens internacionais porque, segundo ele, a decisão, mesmo favorável às empresas, demoraria anos. No entanto nem a Petrobras nem a espanhola Repsol-YPF, as duas principais multinacionais no país, descartaram o uso desse recurso.
O Brasil, principal comprador do gás boliviano, importa cerca de 25 milhões de metros cúbicos por dia. O volume enviado à Argentina é de 5 milhões de metros cúbicos diários.

Gás mais caro
Tido como um dos homens fortes do governo Evo Morales, o vice-presidente Alvaro García Linera disse que o país continuará a negociar um aumento de "no mínimo US$ 2" sobre o valor cobrado do Brasil, em torno de US$ 3,20 por 1 milhão de BTUs (unidade térmica britânica).


Com agências internacionais


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