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TENSÃO ENTRE VIZINHOS
Vice-presidente diz que exportação ao Brasil e à Argentina não será afetada com nacionalização
Bolívia garante gás, mas quer cobrar mais
FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A SANTA CRUZ DE LA SIERRA
Um dia depois de invadir um
campo da Petrobras para assinar
um decreto que aumenta os impostos e tira o controle acionário
de duas refinarias dessa empresa,
o presidente Evo Morales assegurou ontem que o Brasil não terá
problemas de abastecimento de
gás natural e atribuiu a crise entre
os dois países à imprensa.
"Asseguro que existem meios
de comunicação que tentam que
nos enfrentemos [com Brasil e
Argentina], que nos isolemos, que
chamam a uma confrontação,
mas isso não ocorrerá", disse Morales à tarde, em entrevista à TV
Telesur, após conversar por telefone com o colega brasileiro, Luiz
Inácio Lula da Silva.
Morales disse que o diálogo
"sempre estará aberto, mas o decreto não será modificado" e voltou a advertir que as empresas
que discordarem terão de deixar o
país depois do período de 180 dias
de transição. "As empresas que
não se adequarem deverão sair da
Bolívia."
Além de Morales, outros membros do governo passaram o dia
tentando explicar o decreto da nacionalização e rebatendo críticas
da comunidade internacional.
O ministro de Hidrocarbonetos,
Andrés Soliz, tido como um dos
mais radicais do governo Morales
e crítico histórico da Petrobras,
disse, também ao Telesur (sediado em Caracas), que todos os contratos existentes "estão total e definitivamente anulados. A partir
de agora, há um período de seis
meses de renegociação dos contratos."
"Mais de 80% do gás que permite o funcionamento desse monstro industrial que é São Paulo é
boliviano, ou seja, se alguém não
vai fechar as válvulas será a Petrobras, porque afetaria diretamente
o principal centro industrial do
Brasil", disse Soliz. Segundo a Petrobras, 74% do gás usado em São
Paulo vem da Bolívia.
A Bolívia, por outro lado, teria
imensas dificuldades em exportar
o seu produto. Sem acesso ao
mar, tem na Argentina e no Brasil
seus únicos grandes mercados a
curto prazo. Além disso, a Petrobras ocupa um espaço enorme na
economia do país -sozinha,
contribui com 20% da arrecadação de impostos bolivianos.
Soliz descartou a possibilidade
de arbitragens internacionais
porque, segundo ele, a decisão,
mesmo favorável às empresas, demoraria anos. No entanto nem a
Petrobras nem a espanhola Repsol-YPF, as duas principais multinacionais no país, descartaram o
uso desse recurso.
O Brasil, principal comprador
do gás boliviano, importa cerca de
25 milhões de metros cúbicos por
dia. O volume enviado à Argentina é de 5 milhões de metros cúbicos diários.
Gás mais caro
Tido como um dos homens fortes do governo Evo Morales, o vice-presidente Alvaro García Linera disse que o país continuará a
negociar um aumento de "no mínimo US$ 2" sobre o valor cobrado do Brasil, em torno de US$
3,20 por 1 milhão de BTUs (unidade térmica britânica).
Com agências internacionais
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