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TENSÃO ENTRE VIZINHOS
Tabaré Vázquez ameniza discurso sobre saída do Mercosul
Uruguai vai assinar acordo
bilateral com americanos
DE BUENOS AIRES
DE WASHINGTON
Em mais um movimento americano para avançar sobre o Mercosul, os Estados Unidos anunciarão amanhã a assinatura de um
tratado comercial bilateral que
aumentará o acesso do Uruguai
ao mercado do país, informou
ontem um integrante da comitiva
do presidente Tabaré Vázquez em
Washington.
"Não vai ser um tratado de livre
comércio (TLC). Mas será um
acordo importante, que derruba
barreiras a nossos produtos", disse à Folha o funcionário uruguaio. Vázquez terá uma reunião
com George W. Bush à tarde, e o
anúncio será feito conjuntamente
nos jardins da Casa Branca.
Embora não seja um TLC nos
moldes do tratado assinado recentemente com a Colômbia, por
exemplo -que inclui abertura
aos Estados Unidos do mercado
de serviços e regras sobre propriedade intelectual-, trata-se de
uma concessão americana estratégica ao sócio menor do Mercosul, em um momento de duras
críticas do Uruguai ao bloco.
Ontem, um dia depois de ter dito a uma emissora de TV de Montevidéu que seu país deixaria o
Mercosul, o presidente uruguaio
amenizou parcialmente seu discurso. "Não consideramos essa situação em nenhum momento",
disse Tabaré Vázquez, para ressalvar: "A não ser que surjam condições que nos impeçam de avançar no trabalho de nova inserção
do Uruguai no mundo".
A princípio, disse a fonte uruguaia, o acordo assinado não entrará em conflito com as regras do
Mercosul. Mas, se houver reação
negativa, o país defenderá o acordo. Será um aprofundamento da
relação bilateral, impulsionada
pela aprovação, no final do ano
passado, de um acordo de proteção de investimentos dos EUA no
país vizinho. Os americanos são
hoje os principais compradores
dos uruguaios (respondem por
22,3% das exportações; o Brasil
compra 13,6%).
No mesmo tom do Uruguai, ontem a chancelaria paraguaia defendeu uma flexibilização das regras do Mercosul que permitam
avançar em negociações bilaterais
-não no modelo atual 4 + 1 (os
sócios negociam em conjunto).
Os EUA também negociam com o
Paraguai vantagens comerciais
em troca da instalação de uma base militar no país.
Anteontem, Vázquez afirmara
que seu país se propunha a quebrar o pacto firmado no tratado
do Mercosul para que o país deixe
de ser membro pleno do bloco para ser apenas associado. Ontem,
desmentiu, mas voltou à carga:
"O Mercosul não é uma gaiola de
ouro nem um clube em que há sócios de primeira e de segunda categorias". "Não quero dizer que
devemos romper, mas sim que
melhorá-lo."
Decepção com o Brasil
A irritação de Vázquez, e ameaça de rompimento, tem como pano de fundo o conflito do país
com os argentinos, que se opõem
à instalação de duas multinacionais do papel em território uruguaio. Segundo um integrante da
comitiva, o Uruguai está "decepcionado" com a atuação do Brasil
na crise. Na versão uruguaia, há
um apoio brasileiro ao governo
uruguaio nos bastidores e reuniões internas, mas demonstrações públicas interpretadas como
favoráveis à Argentina.
O ápice do mal-estar foi a reunião entre os presidentes Néstor
Kirchner e Luiz Inácio Lula da Silva na semana passada -com
posteriores declarações do assessor da Presidência Marco Aurélio
Garcia de que a chamada "guerra
das papeleiras" é um tema bilateral, como quer a Argentina.
"A chancelaria uruguaia ainda
espera uma declaração formal do
Brasil", disse a fonte. Após 80 dias
de bloqueio, a passagem entre os
dois países foi aberta ontem.
(FLÁVIA MARREIRO e SÉRGIO DÁVILA)
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