São Paulo, quarta-feira, 03 de maio de 2006

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TENSÃO ENTRE VIZINHOS

Tabaré Vázquez ameniza discurso sobre saída do Mercosul

Uruguai vai assinar acordo bilateral com americanos

DE BUENOS AIRES
DE WASHINGTON

Em mais um movimento americano para avançar sobre o Mercosul, os Estados Unidos anunciarão amanhã a assinatura de um tratado comercial bilateral que aumentará o acesso do Uruguai ao mercado do país, informou ontem um integrante da comitiva do presidente Tabaré Vázquez em Washington.
"Não vai ser um tratado de livre comércio (TLC). Mas será um acordo importante, que derruba barreiras a nossos produtos", disse à Folha o funcionário uruguaio. Vázquez terá uma reunião com George W. Bush à tarde, e o anúncio será feito conjuntamente nos jardins da Casa Branca.
Embora não seja um TLC nos moldes do tratado assinado recentemente com a Colômbia, por exemplo -que inclui abertura aos Estados Unidos do mercado de serviços e regras sobre propriedade intelectual-, trata-se de uma concessão americana estratégica ao sócio menor do Mercosul, em um momento de duras críticas do Uruguai ao bloco.
Ontem, um dia depois de ter dito a uma emissora de TV de Montevidéu que seu país deixaria o Mercosul, o presidente uruguaio amenizou parcialmente seu discurso. "Não consideramos essa situação em nenhum momento", disse Tabaré Vázquez, para ressalvar: "A não ser que surjam condições que nos impeçam de avançar no trabalho de nova inserção do Uruguai no mundo".
A princípio, disse a fonte uruguaia, o acordo assinado não entrará em conflito com as regras do Mercosul. Mas, se houver reação negativa, o país defenderá o acordo. Será um aprofundamento da relação bilateral, impulsionada pela aprovação, no final do ano passado, de um acordo de proteção de investimentos dos EUA no país vizinho. Os americanos são hoje os principais compradores dos uruguaios (respondem por 22,3% das exportações; o Brasil compra 13,6%).
No mesmo tom do Uruguai, ontem a chancelaria paraguaia defendeu uma flexibilização das regras do Mercosul que permitam avançar em negociações bilaterais -não no modelo atual 4 + 1 (os sócios negociam em conjunto). Os EUA também negociam com o Paraguai vantagens comerciais em troca da instalação de uma base militar no país.
Anteontem, Vázquez afirmara que seu país se propunha a quebrar o pacto firmado no tratado do Mercosul para que o país deixe de ser membro pleno do bloco para ser apenas associado. Ontem, desmentiu, mas voltou à carga: "O Mercosul não é uma gaiola de ouro nem um clube em que há sócios de primeira e de segunda categorias". "Não quero dizer que devemos romper, mas sim que melhorá-lo."

Decepção com o Brasil
A irritação de Vázquez, e ameaça de rompimento, tem como pano de fundo o conflito do país com os argentinos, que se opõem à instalação de duas multinacionais do papel em território uruguaio. Segundo um integrante da comitiva, o Uruguai está "decepcionado" com a atuação do Brasil na crise. Na versão uruguaia, há um apoio brasileiro ao governo uruguaio nos bastidores e reuniões internas, mas demonstrações públicas interpretadas como favoráveis à Argentina.
O ápice do mal-estar foi a reunião entre os presidentes Néstor Kirchner e Luiz Inácio Lula da Silva na semana passada -com posteriores declarações do assessor da Presidência Marco Aurélio Garcia de que a chamada "guerra das papeleiras" é um tema bilateral, como quer a Argentina.
"A chancelaria uruguaia ainda espera uma declaração formal do Brasil", disse a fonte. Após 80 dias de bloqueio, a passagem entre os dois países foi aberta ontem. (FLÁVIA MARREIRO e SÉRGIO DÁVILA)


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