São Paulo, quinta-feira, 03 de maio de 2007

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Compra de dólar já equivale a total de 2006

BC adquiriu US$ 33,9 bi até abril, contra US$ 34,3 bi ao longo de todo o ano passado, mas moeda dos EUA segue caindo

Recordes se acumulam no ano, com abril registrando compras de US$ 12 bi e reservas internacionais atingindo US$ 122 bi


NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O Banco Central comprou um volume recorde de dólares no mercado no mês passado, embora as operações não tenham sido suficientes para conter a valorização do real. Em abril, o BC adquiriu cerca de US$ 12 bilhões, maior volume registrado num mês. O dólar caiu 1,12% nesse período.
Desde janeiro, o BC tem intensificado sua atuação no câmbio. Naquele mês, as intervenções no mercado somaram US$ 4,8 bilhões, maior valor já registrado até então. Só entre janeiro e abril, as compras somaram US$ 33,9 bilhões, número muito próximo aos US$ 34,3 bilhões adquiridos em todo o ano passado.
Na comparação com os US$ 10,1 bilhões comprados nos primeiros quatro meses de 2006, o crescimento deste ano foi de 236%. Em outras palavras, entre janeiro e abril o BC comprou mais de três vezes o valor comprado no mesmo período de 2006. No mês passado, o BC chegou a comprar US$ 1,6 bilhão num único dia -normalmente, a média diária fica em torno de US$ 200 milhões.
Ainda assim, essas operações não têm sido suficientes para impedir que a cotação do dólar se aproxime dos R$ 2.
Para analistas, o comportamento da taxa de câmbio reflete o forte ingresso de capital externo que o Brasil tem recebido nos últimos meses. Em abril, esse fluxo de divisas chegou a US$ 10,728 bilhões, maior valor já registrado pela série estatística do BC, iniciada em 1982.
"Se não fosse a ação do BC, o dólar já teria caído para baixo de R$ 2. [O BC] não consegue mudar essa tendência porque estamos vendo um fluxo gigante de recursos para o Brasil", diz a economista-chefe do Banco Fibra, Maristela Ansanelli.
Entre janeiro e abril, o país recebeu US$ 28,122 bilhões do exterior, graças, principalmente, às exportações, que em abril somaram US$ 12,4 bilhões, segundo informou ontem o Ministério do Desenvolvimento.
Houve ainda cerca de US$ 5 bilhões que foram vendidos pelos bancos no primeiro quadrimestre. Diante da tendência de alta do real, os bancos têm optado por reduzir o tamanho de suas carteiras de câmbio.
Para o gerente de câmbio do banco Prosper, Jorge Knauer, o crescimento das exportações brasileiras, o aumento no fluxo de investimentos estrangeiros e os juros altos praticados no Brasil devem continuar favorecendo a valorização do real.
"Quem tem dólar para vender, continua vendendo. E os valores [das compras de dólares do BC] são tímidos perto do volume de entrada [de capital externo]", afirma.
Os dólares comprados pelo BC são depositados nas reservas em moeda estrangeira do país, que chegou a US$ 121,8 bilhões no final do mês passado -também valor recorde.
Alguns economistas chamam a atenção para o custo de manutenção dessas reservas num nível tão elevado.
Isso porque, para comprar os dólares, o BC consegue reais por meio da venda de títulos públicos ao mercado. Os dólares adquiridos, por sua vez, são aplicados, em sua maioria, em títulos do governo dos Estados Unidos. Como os juros pagos pelos papéis brasileiros são muito mais elevados, acaba havendo um custo alto para que essa política seja mantida.
Para Ansanelli, porém, vale a pena arcar com esse custo. "O que se ganha com essas compras de dólares em termos de redução da vulnerabilidade externa compensa os custos de manutenção das reservas", diz. Em tese, reservas maiores são um sinal de solidez da economia, o que ajuda o país a ganhar a confiança de investidores.


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