São Paulo, domingo, 03 de maio de 2009

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Após perdas, Buffett enfrenta investidores

Encontro anual de investidores em fundo do bilionário americano é marcado por preocupação devido a perdas com a crise

Fundo do segundo homem mais rico do mundo perdeu dinheiro pela primeira vez em 44 anos e o triplo AAA dado por agências de risco

FERNANDO CANZIAN
ENVIADO ESPECIAL A OMAHA

A versão 2009 do "Woodstock do capitalismo" não teve jogo de beisebol, celebridades como Paris Hilton ou outras atrações que marcam há anos os encontros anuais dos investidores do fundo Berkshire Hathaway, do bilionário Warren Buffett, 78, segundo homem mais rico do planeta.
Ao contrário. O clima da tradicional reunião em Omaha (Nebraska), neste ano, é de apreensão e desapontamento. E de muitos questionamentos dirigidos a Buffett e a seu braço direito, Charles Munger, 85, sobre o desempenho do fundo -com patrimônio em títulos, ações e dinheiro vivo estimado em US$ 122 bilhões.
"Tivemos um ano extraordinário em 2008, no qual pessoas que compraram títulos do governo dos EUA obtiveram rendimentos muito melhores que o do Berkshire", disse Buffett ontem. O encontro reúne até hoje cerca de 35.000 mil investidores do fundo em um complexo esportivo e centro de convenções em Omaha.
Pela primeira vez em 44 anos, o Berkshire, com investimentos em centenas de empresas e setores nos EUA e ao redor do mundo, vem ganhando menos. E não é pouco.
As ações do tipo Classe A do fundo perderam 32% de seu valor em 2008, e o Berkshire teve sua nota rebaixada recentemente por duas agências de classificação de risco, a Moody's e a Fitch.
Mesmo assim, o desemprenho em 2008 foi um pouco melhor do que o do conjunto das 500 ações do S&P 500 na Bolsa de Nova York, que perdeu 37% no ano passado. No primeiro trimestre de 2009 (Buffett revelou ontem) os ganhos do fundo somaram US$ 1,7 bilhão, ante US$ 1,9 bilhão no mesmo período de 2008.
O fundo registrou cinco quedas consecutivas de rentabilidade nos últimos trimestres.
Em 2008, o Berkshire amargou redução de 62% nos seus lucros, para US$ 5 bilhões. Principalmente por perdas estimadas em quase US$ 8 bilhões com apostas nos mercados de derivativos. Essas mesmas operações chegaram a ser batizadas no passado pelo próprio Buffett como "armas de destruição em massa".
O resultado de o fundo ter operado sem sucesso essas "armas" subtraiu em mais de 60% os dividendos pagos aos acionistas. No total, o Berkshire Hathaway tem cerca de US$ 37 bilhões "amarrados" por anos no mercado de derivativos.
Questionado sobre o futuro desses investimentos, Buffett afirmou que eles só trarão prejuízo se os mercados estiverem em um patamar menor que o atual daqui a 15 anos. "Algo que considero impossível", disse. Buffett afirmou, no entanto, que os EUA passarão por "um período de tempo considerável" até sair da atual crise.
O encontro do Berkshire Hathaway é chamado de "Woodstock do capitalismo" em alusão ao famoso festival de música de agosto de 1969 nos EUA que reuniu milhares de jovens em uma pequena cidade de Nova York. Em Omaha, porém, o público predominante é mais velho, e bem mais rico.
Desta vez, ele não veio tão disposto a jogos de "bridge" com o próprio Buffett (que compara o evento a um "Carnaval") ou para a tradicional compra de diamantes em lojas locais no domingo de manhã.
"Não há nada de muito divertido agora. Venho há oito anos para o encontro, principalmente para rever amigos. Desta vez, queremos perguntar e ouvir boas explicações sobre maus resultados", disse James Wortham, 68, aposentado do Estado de Nova York .
Além do futuro de sua poupança, o público mostrou muito interesse sobre os planos de Buffett e Munger para sua sucessão, já que ambos estão em idade bastante avançada.
Buffett garantiu que já há uma lista interna de sete candidatos a CEO e a chefe da área de investimento, cargos que ele hoje acumula e que pretende separar após sua saída.
"Estamos prontos e confortáveis em relação a esse aspecto [a sucessão]. Bem, na verdade, nem tão confortáveis assim", disse Buffett, provocando gargalhadas na plateia.


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