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Após perdas, Buffett enfrenta investidores
Encontro anual de investidores em fundo do bilionário americano é marcado por preocupação devido a perdas com a crise
Fundo do segundo homem mais rico do mundo perdeu dinheiro pela primeira vez em 44 anos e o triplo AAA dado por agências de risco
FERNANDO CANZIAN
ENVIADO ESPECIAL A OMAHA
A versão 2009 do "Woodstock do capitalismo" não teve
jogo de beisebol, celebridades
como Paris Hilton ou outras
atrações que marcam há anos
os encontros anuais dos investidores do fundo Berkshire Hathaway, do bilionário Warren
Buffett, 78, segundo homem
mais rico do planeta.
Ao contrário. O clima da tradicional reunião em Omaha
(Nebraska), neste ano, é de
apreensão e desapontamento.
E de muitos questionamentos
dirigidos a Buffett e a seu braço
direito, Charles Munger, 85, sobre o desempenho do fundo
-com patrimônio em títulos,
ações e dinheiro vivo estimado
em US$ 122 bilhões.
"Tivemos um ano extraordinário em 2008, no qual pessoas
que compraram títulos do governo dos EUA obtiveram rendimentos muito melhores que
o do Berkshire", disse Buffett
ontem. O encontro reúne até
hoje cerca de 35.000 mil investidores do fundo em um complexo esportivo e centro de
convenções em Omaha.
Pela primeira vez em 44
anos, o Berkshire, com investimentos em centenas de empresas e setores nos EUA e ao redor do mundo, vem ganhando
menos. E não é pouco.
As ações do tipo Classe A do
fundo perderam 32% de seu valor em 2008, e o Berkshire teve
sua nota rebaixada recentemente por duas agências de
classificação de risco, a
Moody's e a Fitch.
Mesmo assim, o desemprenho em 2008 foi um pouco melhor do que o do conjunto das
500 ações do S&P 500 na Bolsa
de Nova York, que perdeu 37%
no ano passado. No primeiro
trimestre de 2009 (Buffett revelou ontem) os ganhos do fundo somaram US$ 1,7 bilhão, ante US$ 1,9 bilhão no mesmo período de 2008.
O fundo registrou cinco quedas consecutivas de rentabilidade nos últimos trimestres.
Em 2008, o Berkshire amargou redução de 62% nos seus
lucros, para US$ 5 bilhões.
Principalmente por perdas estimadas em quase US$ 8 bilhões com apostas nos mercados de derivativos. Essas mesmas operações chegaram a ser
batizadas no passado pelo próprio Buffett como "armas de
destruição em massa".
O resultado de o fundo ter
operado sem sucesso essas "armas" subtraiu em mais de 60%
os dividendos pagos aos acionistas. No total, o Berkshire
Hathaway tem cerca de US$ 37
bilhões "amarrados" por anos
no mercado de derivativos.
Questionado sobre o futuro
desses investimentos, Buffett
afirmou que eles só trarão prejuízo se os mercados estiverem
em um patamar menor que o
atual daqui a 15 anos. "Algo que
considero impossível", disse.
Buffett afirmou, no entanto,
que os EUA passarão por "um
período de tempo considerável" até sair da atual crise.
O encontro do Berkshire Hathaway é chamado de "Woodstock do capitalismo" em alusão
ao famoso festival de música de
agosto de 1969 nos EUA que
reuniu milhares de jovens em
uma pequena cidade de Nova
York. Em Omaha, porém, o público predominante é mais velho, e bem mais rico.
Desta vez, ele não veio tão
disposto a jogos de "bridge"
com o próprio Buffett (que
compara o evento a um "Carnaval") ou para a tradicional compra de diamantes em lojas locais no domingo de manhã.
"Não há nada de muito divertido agora. Venho há oito anos
para o encontro, principalmente para rever amigos. Desta vez,
queremos perguntar e ouvir
boas explicações sobre maus
resultados", disse James Wortham, 68, aposentado do Estado de Nova York .
Além do futuro de sua poupança, o público mostrou muito interesse sobre os planos de
Buffett e Munger para sua sucessão, já que ambos estão em
idade bastante avançada.
Buffett garantiu que já há
uma lista interna de sete candidatos a CEO e a chefe da área de
investimento, cargos que ele
hoje acumula e que pretende
separar após sua saída.
"Estamos prontos e confortáveis em relação a esse aspecto
[a sucessão]. Bem, na verdade,
nem tão confortáveis assim",
disse Buffett, provocando gargalhadas na plateia.
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