São Paulo, sábado, 03 de junho de 2006

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"Por que só a Daslu?", pergunta dona da loja

Eliana Tranchesi nega supostas irregularidades fiscais e diz que comércio está "todo abastecido de mercadoria importada"

Empresária afirma não ver sentido na prisão do irmão, que estaria "fragilizado" emocionalmente por causa da "injustiça" cometida


Joao Sal - 6.abr.06/Folha Imagem
Eliana Tranchesi, da Daslu


CLAUDIA ROLLI
FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL

Eliana Tranchesi, dona da Daslu, diz que está muito triste com a prisão de seu irmão, Antonio Carlos Piva de Albuquerque, e nega que a butique tenha praticado qualquer irregularidade na importação de mercadorias. "Por que eu? Por que só a Daslu não pode trazer importados para o país? Tem importados em todas as lojas do país. Só na minha não", afirma. Leia a seguir trechos da entrevista com Tranchesi.  

FOLHA - O que você sentiu quando soube da prisão do seu irmão? ELIANA TRANCHESI - Fiquei muito triste. Conheço meu irmão. Sei o quanto ele está fragilizado. Ele teve aquela Síndrome Pós-Trauma (SPT), quando fomos presos. A sensação é horrorosa de você ser levado assim [pelos policiais]. Você não sabe o que vai acontecer amanhã. E o Antonio Carlos ficou muito deprimido com o que aconteceu. Ele ficou muito perturbado emocionalmente. Além da SPT, teve síndrome do pânico. Tanto que, em janeiro, parou de trabalhar e se afastou da Daslu. Esse episódio todo foi muito pior para ele do que para mim. Por temperamento, cada pessoa reage de um jeito. Ontem, fiquei muito triste, porque soube que as meninas [filhas de Piva de Albuquerque] tinham prova [na escola] e saíram chorando. Isso é virar a vida de uma pessoa. É uma injustiça.

FOLHA - Por que houve injustiça? TRANCHESI - Ele está numa cela, num presídio, e acredito que injustamente. Fiquei muito triste porque a colocação do pedido de prisão era por três motivos. Primeiro, por causa de [apreensão de mercadorias] em Itajaí. E dá para provar, nesse caso, que é uma coisa técnica que dá para provar tecnicamente... [que ele é inocente]. Depois, porque ele estaria obstruindo a Justiça.

FOLHA - Ele teve esse comportamento durante o processo? TRANCHESI - Ele teve uma crise depressiva há um mês e meio. Foi internado no hospital Albert Einstein e tratado pelo vice-presidente de lá. Não foi tratado por um médico boliviano, que ninguém sabe o nome. Esse laudo foi levado pelo advogado à Justiça. A juíza o anexou ao processo e tinha conhecimento que ele estava em tratamento psiquiátrico. Após sair do Einstein, ficou dez dias internado em uma clínica. A pessoa tem direito de ficar doente e não ir a uma audiência, não? Se ele levou o laudo, pronto, acabou.

FOLHA - E as intimações que o MPF alega que não foram entregues porque ele não foi encontrado? TRANCHESI - Antonio Carlos teve depressão, saiu da Daslu e viajou para o interior. Ficou quatro dias fora. Foi procurado pelo oficial de Justiça e estava fora. Mas, em nenhum momento, as pessoas de casa disseram que estava em destino ignorado. Sabiam onde ele estava. Era só mandar o oficial lá que ele seria localizado. Ele não é obrigado a ficar sentado na casa dele esperando o oficial chegar. Em uma outra vez, havia sido no dia ou um dia após a morte do papai. Ou ele estava no cemitério ou tinha ido resolver alguma questão de inventário.

FOLHA - Você tem notícias do seu irmão, de como ele está? TRANCHESI - Sei que ele está naquele presídio em Guarulhos e posso imaginar como está porque saiu da clínica há uma semana. Ainda está fragilizado. Imagine passar por aquela agressão de ser levado outra vez, por tempo indeterminado. Porque, da outra vez, ele havia sido levado por cinco dias. Imagine como está a cabeça dele.

FOLHA - E as acusações de prática irregular de importação pela Daslu? TRANCHESI - Há um erro de interpretação. A importação foi feita pela Columbia [Trading], que fechou o câmbio.

FOLHA - O que a Daslu pretende fazer para ter produtos importados? TRANCHESI - Pedimos o Radar [registro da Receita para importar e exportar] para fazermos tudo por conta própria. Uma coisa para qual nós não estávamos preparados, mas estamos nos estruturando. Isso é uma distorção do nosso negócio. Estamos solicitando em função de toda essa confusão.

FOLHA - O seu passaporte e do seu irmão foram apreendidos. TRANCHESI - Eu viajaria para Milão e Nova York na próxima semana para trabalhar. Também não pude ir outras vezes neste ano. Viajo porque tenho de ver tendências. Mandei meu advogado mandar meu passaporte para Guarulhos antes que mandem policiais na minha casa, tenho criança em casa.

FOLHA - O MPF diz que a sra. tem contato com as grifes... TRANCHESI - Se não sou eu quem faço o contato com a Channel, por exemplo, outros vão fazer, ou o brasileiro ficou burro? [...] O que eu quero é poder trabalhar, comprar mercadoria nacionalizada, abastecer a minha loja. O comércio brasileiro está todo abastecido de importados, menos eu. Marcas que tenho em minha loja têm em outras lojas. Por que lá tem e na minha loja não? Se Deus quiser, vou estar autorizada a importar.


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