São Paulo, domingo, 03 de junho de 2007

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Contrabando cria rota alternativa

Com fiscalização maior na fronteira paraguaia, produtos ilegais são trazidos agora pela região do lago de Itaipu

Migração também chegou à divisa terrestre entre o país vizinho e Mato Grosso do Sul, área que antes era usada no tráfico de drogas

JOSÉ MASCHIO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM GUAÍRA

A costa oeste do Paraná é a nova rota do contrabando paraguaio para o Brasil. Relatório do serviço de inteligência da Polícia Federal, obtido pela Folha, mostra que essa migração aconteceu após a criação da Aduana 100% em Foz do Iguaçu. A fronteira terrestre entre Mato Grosso do Sul e o Paraguai, antes usada para o tráfico de drogas internacional, também virou rota alternativa a Foz para os contrabandistas.
A Aduana 100%, instalada no ano passado em Foz do Iguaçu pela Receita Federal, foi acompanhada de um aumento no efetivo e nas operações da Polícia Federal. Com isso, as quadrilhas organizadas migraram para a região do lago da usina binacional de Itaipu, cooptando proprietários rurais, pescadores e trabalhadores temporários para o serviço de transporte e armazenamento do contrabando paraguaio.
Na última semana, a Folha visitou vários portos clandestinos nos municípios de Santa Helena, Entre Rios do Oeste, Pato Bragado e Guaíra e pôde comprovar essa migração do crime organizado da tríplice fronteira (Brasil-Paraguai-Argentina) para a costa oeste paranaense. Essa migração foi facilitada pela falta de estrutura da PF na região e por obras viárias no lado paraguaio.
Do lado brasileiro, existe apenas uma delegacia da Polícia Federal, em Guaíra, com 34 policiais federais, incluído nesse efetivo cinco delegados. A delegacia da Polícia Federal em Cascavel, que poderia auxiliar no trabalho de combate ao contrabando, foi inaugurada no final do ano passado e possui pouca estrutura para apoio.
No porto internacional de Santa Helena, que liga o Brasil ao Paraguai por balsa, a Receita Federal trabalha com auditores, desarmados, na fiscalização. Nos casos de flagrante para contrabando, é necessário solicitar apoio às PF de Foz (120 km ao sul) ou de Guaíra (126 km ao norte).

Salto
A situação na aduana internacional de Mundo Novo (MS) não é diferente. Lá a Receita Federal só pode contar com o apoio da PF de Naviraí (120 km ao norte). Sem a presença da PF, os fiscais da Receita Federal em Mundo Novo viram o trânsito na fronteira com Salto del Guairá (Paraguai) passar de uma média diária de 800 veículos para 2.500 nos primeiros cinco meses deste ano.
A PF em Guaíra, que abriu 428 inquéritos durante todo o ano passado, já contabiliza 315 só até o final de maio deste ano. "A situação é caótica, já que aqui a ação é puramente de crime organizado, em um perfil diferente de Foz, onde existe a figura do sacoleiro", afirma o delegado-chefe da PF de Guaíra, Érico Saconatto.
O Paraguai asfaltou a ligação entre os municípios de Hernadaryas (cidade vizinha a Ciudad del Este) e Salto del Guairá. A chamada "supercarretera" facilitou o transporte de mercadorias de Ciudad del Este a Salto del Guairá e viabilizou o contrabando nos mais de 250 km do lago de Itaipu e rio Paraná.
No transporte pelo lago, os contrabandistas utilizam batelões (barcos rápidos, movidos com motores de veículos a gasolina) e barcos de pescadores tradicionais cooptados para o contrabando. Na última semana, em uma tentativa de diminuir o acesso aos portos clandestinos, a Itaipu Binacional tem montado bloqueios de terra nas estradas vicinais que chegam ao lago. O problema é que a binacional só pode fazer essas obras de bloqueio no trecho de mata ciliar que protege o lago, com cerca de 200 metros.

Escoamento
Em um destes portos, o Tigre, em Guaíra, a estrada de terra, no lado paraguaio, onde é transportado o contrabando, passa dentro do quartel da Armada (Marinha) paraguaia.
Para vencer essas barreiras, as mercadorias contrabandeadas são levadas por carregadores até as estradas ou escoam seus contrabandos em municípios como Guaíra, cidade que margeia o lago. Em Guaíra, a PF já identificou vários pontos de escoamento de contrabando.
Nessa cidade, a PF identificou o cigarro como o principal produto das quadrilhas de contrabandistas. A movimentação de cigarros paraguaios para o Brasil pode ser avaliada por dados da Associação Brasileira de Combate à Falsificação. No ano passado, para um consumo de 3 bilhões de maços, o Paraguai produziu 40 bilhões de maços.
Além de cigarros, as principais mercadorias contrabandeadas na costa oeste são agrotóxicos (a maioria proibidos no Brasil), armas, munições, produtos eletrônicos e pneus.


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