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Cesta básica sobe até 46% em 1 ano e ameaça consumo
Capitais acumulam aumento de no mínimo 24% na cesta nos últimos 12 meses
Para analistas, alta nos preços de alimentos representa ameaça principalmente para o consumidor da classe C
PAULO DE ARAUJO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
O aumento nos custos agrícolas e a pressão da demanda
por alimentos fizeram o preço
da cesta básica disparar muito
acima da inflação nos últimos
12 meses, segundo pesquisa
mensal do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos) em 16 capitais brasileiras.
O levantamento divulgado
ontem mostra que a alta acumulada nas capitais no período
encerrado em maio variou de
24,22%, em Goiânia, a 46,55%,
em Recife. Enquanto isso, o
INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor) avançou
5,9% na taxa anualizada em
abril. Entre as capitais que tiveram avanço mais expressivo no
custo da cesta básica, estão Natal (40,75%) e Florianópolis
(34,76%). São Paulo ficou em
posição intermediária, com incremento de 26,49%. A capital
paulista, no entanto, ainda tem
a segunda cesta básica mais cara do país (R$ 233,92), atrás de
Porto Alegre (R$ 236,58).
A disparada no preço da cesta
básica ameaça o "fenômeno" de
consumo das camadas de renda
mais baixa, especialmente a
classe C, afirma José Márcio
Camargo, sócio da Tendências
Consultoria e professor da
PUC-RJ. "Em 2007 e 2008, vimos a inclusão de um grande
volume de famílias no mercado
de consumo, mas já é possível
que o rendimento nessa faixa
tenha começado a cair em razão da alta dos alimentos. Isso
pode levar a uma diminuição
do consumo de outros itens."
Em algumas faixas, lembra
Camargo, os alimentos respondem por até 40% dos gastos.
Assim, há cada vez menos sobra
para o consumo.
Como aponta o economista
do Dieese José Maurício Soares, sete produtos aumentaram
em todas as capitais entre maio
de 2007 e maio de 2008: carne,
leite, tomate, feijão, pão, banana e óleo de soja. Para ele, já há
retenção de alguns itens por
parte dos produtores, que esperam por preços mais elevados.
"Eles seguram para esperar [o
preço] subir mais no mercado."
Segundo Soares, fatores climáticos, como a seca que se
prolongou de maio a outubro
do ano passado em uma faixa
que pegou Estados como São
Paulo, Paraná e Mato Grosso,
além do aumento nos custos de
adubos e fertilizantes e da pressão internacional por alimentos, foram os principais responsáveis pela disparada nos preços da cesta básica.
Para ele, não é possível antever o comportamento dos preços para o próximo semestre. O
feijão, por exemplo, atingiu em
12 meses um pico de mais de
100% em todas as capitais, exceto João Pessoa (94,97%).
Mas no mês passado já começou a cair em 14 capitais.
Isenções
De acordo com a economista
Ana Maria Castelo, da FGV
Projetos, os governos federal e
estaduais deveriam oferecer
isenções fiscais sobre os preços
dos alimentos no sentido de estancar a alta. "Agora que a reforma tributária está em discussão, seria o momento ideal
para propor a desoneração de
itens da cesta básica, porque o
aumento nos alimentos provoca um empobrecimento das famílias de renda mais baixa."
Para Camargo, da Tendências, quando os alimentos aumentam, há maior pressão por
reajustes salariais. "Isso é um
problema adicional, porque faz
a inflação se espalhar."
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