São Paulo, terça-feira, 03 de junho de 2008

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Cesta básica sobe até 46% em 1 ano e ameaça consumo

Capitais acumulam aumento de no mínimo 24% na cesta nos últimos 12 meses

Para analistas, alta nos preços de alimentos representa ameaça principalmente para o consumidor da classe C


PAULO DE ARAUJO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

O aumento nos custos agrícolas e a pressão da demanda por alimentos fizeram o preço da cesta básica disparar muito acima da inflação nos últimos 12 meses, segundo pesquisa mensal do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos) em 16 capitais brasileiras.
O levantamento divulgado ontem mostra que a alta acumulada nas capitais no período encerrado em maio variou de 24,22%, em Goiânia, a 46,55%, em Recife. Enquanto isso, o INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor) avançou 5,9% na taxa anualizada em abril. Entre as capitais que tiveram avanço mais expressivo no custo da cesta básica, estão Natal (40,75%) e Florianópolis (34,76%). São Paulo ficou em posição intermediária, com incremento de 26,49%. A capital paulista, no entanto, ainda tem a segunda cesta básica mais cara do país (R$ 233,92), atrás de Porto Alegre (R$ 236,58).
A disparada no preço da cesta básica ameaça o "fenômeno" de consumo das camadas de renda mais baixa, especialmente a classe C, afirma José Márcio Camargo, sócio da Tendências Consultoria e professor da PUC-RJ. "Em 2007 e 2008, vimos a inclusão de um grande volume de famílias no mercado de consumo, mas já é possível que o rendimento nessa faixa tenha começado a cair em razão da alta dos alimentos. Isso pode levar a uma diminuição do consumo de outros itens."
Em algumas faixas, lembra Camargo, os alimentos respondem por até 40% dos gastos. Assim, há cada vez menos sobra para o consumo.
Como aponta o economista do Dieese José Maurício Soares, sete produtos aumentaram em todas as capitais entre maio de 2007 e maio de 2008: carne, leite, tomate, feijão, pão, banana e óleo de soja. Para ele, já há retenção de alguns itens por parte dos produtores, que esperam por preços mais elevados. "Eles seguram para esperar [o preço] subir mais no mercado."
Segundo Soares, fatores climáticos, como a seca que se prolongou de maio a outubro do ano passado em uma faixa que pegou Estados como São Paulo, Paraná e Mato Grosso, além do aumento nos custos de adubos e fertilizantes e da pressão internacional por alimentos, foram os principais responsáveis pela disparada nos preços da cesta básica.
Para ele, não é possível antever o comportamento dos preços para o próximo semestre. O feijão, por exemplo, atingiu em 12 meses um pico de mais de 100% em todas as capitais, exceto João Pessoa (94,97%). Mas no mês passado já começou a cair em 14 capitais.

Isenções
De acordo com a economista Ana Maria Castelo, da FGV Projetos, os governos federal e estaduais deveriam oferecer isenções fiscais sobre os preços dos alimentos no sentido de estancar a alta. "Agora que a reforma tributária está em discussão, seria o momento ideal para propor a desoneração de itens da cesta básica, porque o aumento nos alimentos provoca um empobrecimento das famílias de renda mais baixa."
Para Camargo, da Tendências, quando os alimentos aumentam, há maior pressão por reajustes salariais. "Isso é um problema adicional, porque faz a inflação se espalhar."


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