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China quer corte de 45% no preço do minério de ferro brasileiro
Negociação se arrasta desde janeiro, com impacto na Vale e na balança comercial
RAUL JUSTE LORES
DE PEQUIM
A China está irredutível na
exigência de corte de 40% a
50% no preço do minério de
ferro que importa do Brasil. A
decisão deve sair neste mês.
A negociação para o preço do
minério entre 2009 e 2010 se
arrasta desde janeiro, com forte impacto no faturamento da
Vale e da balança comercial do
Brasil. Ferro e alguns derivados
representam 33% das exportações brasileiras para a China. É
o principal produto da pauta,
depois da soja.
Especialistas ouvidos pela
Folha afirmam que as exportações de ferro para a China terão
seu ritmo reduzido até o acordo
do novo preço.
"As siderúrgicas chinesas estão com enorme poder de barganha e não vão aceitar valor
maior que esse", disse Chen
Hong, analista-sênior de matérias-primas da consultoria
JLMcGregor, de Pequim.
"Grandes importadoras e
distribuidores estão por trás
das compras de ferro no primeiro trimestre, a demanda
ainda não é das siderúrgicas. O
estoque está alto, não há pressa", diz a economista.
As exportações brasileiras
em maio somaram US$ 11,9 bilhões, queda de 2,7% ante abril.
As vendas de minério de ferro
para a China caíram 41,2% -de
US$ 817 milhões em abril para
US$ 480 milhões em maio.
A Associação Chinesa de Ferro e Aço recusou seguir o corte
de 33% dos preços decidido na
semana passada entre a gigante
anglo-australiana Rio Tinto e a
Nippon Steel, do Japão.
"A redução não reflete a real
situação de oferta e demanda
internacionais, que levaria a
perdas generalizadas para as
companhias chinesas", anunciou a associação em nota.
A associação quer que os preços voltem aos níveis de 2007
-corte de 45%, em média.
Em fevereiro, o diretor da Associação, Shen Wenrong, disse
à Folha que a negociação seria
"dura e demorada". Shen, que é
diretor da Sha Steel, maior siderúrgica privada do país, já insistia então em que os preços
deveriam cair até 50%.
De acordo com a consultoria
MySteel, especializada em ferro e aço, o estoque de minério
de ferro nos 19 principais portos chineses chegou a 70,49 milhões de toneladas em abril,
13% a mais que em março. Para
a analista-sênior da consultoria Umetal, Du Wei, a indústria
não precisa de tanto volume.
Momento errado
A Vale tem oferecido descontos de 20% no ferro exportado
para a China. A relação da multinacional brasileira com os
chineses piorou em setembro,
quando a Vale tentou aumentar
o preço do minério em 11%.
Quebrou assim um acordo
tácito de dois aumentos em um
mesmo ano (já tinha subido em
65% no início do ano passado).
A crise mundial, que teve seu
estopim em setembro, e a desaceleração da economia chinesa,
puxada pela crise imobiliária e
pela queda de exportações, enterraram a possibilidade de
reajuste. Cerca de 49% do ferro
é consumido pela construção
civil, e a venda de apartamentos
no país despencou pela primeira vez em dez anos em 2008.
A China produz dois quintos
do aço do mundo e consome
um terço de toda a produção.
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