São Paulo, quarta-feira, 03 de junho de 2009

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China quer corte de 45% no preço do minério de ferro brasileiro

Negociação se arrasta desde janeiro, com impacto na Vale e na balança comercial

RAUL JUSTE LORES
DE PEQUIM

A China está irredutível na exigência de corte de 40% a 50% no preço do minério de ferro que importa do Brasil. A decisão deve sair neste mês.
A negociação para o preço do minério entre 2009 e 2010 se arrasta desde janeiro, com forte impacto no faturamento da Vale e da balança comercial do Brasil. Ferro e alguns derivados representam 33% das exportações brasileiras para a China. É o principal produto da pauta, depois da soja.
Especialistas ouvidos pela Folha afirmam que as exportações de ferro para a China terão seu ritmo reduzido até o acordo do novo preço.
"As siderúrgicas chinesas estão com enorme poder de barganha e não vão aceitar valor maior que esse", disse Chen Hong, analista-sênior de matérias-primas da consultoria JLMcGregor, de Pequim.
"Grandes importadoras e distribuidores estão por trás das compras de ferro no primeiro trimestre, a demanda ainda não é das siderúrgicas. O estoque está alto, não há pressa", diz a economista.
As exportações brasileiras em maio somaram US$ 11,9 bilhões, queda de 2,7% ante abril. As vendas de minério de ferro para a China caíram 41,2% -de US$ 817 milhões em abril para US$ 480 milhões em maio.
A Associação Chinesa de Ferro e Aço recusou seguir o corte de 33% dos preços decidido na semana passada entre a gigante anglo-australiana Rio Tinto e a Nippon Steel, do Japão.
"A redução não reflete a real situação de oferta e demanda internacionais, que levaria a perdas generalizadas para as companhias chinesas", anunciou a associação em nota.
A associação quer que os preços voltem aos níveis de 2007 -corte de 45%, em média.
Em fevereiro, o diretor da Associação, Shen Wenrong, disse à Folha que a negociação seria "dura e demorada". Shen, que é diretor da Sha Steel, maior siderúrgica privada do país, já insistia então em que os preços deveriam cair até 50%.
De acordo com a consultoria MySteel, especializada em ferro e aço, o estoque de minério de ferro nos 19 principais portos chineses chegou a 70,49 milhões de toneladas em abril, 13% a mais que em março. Para a analista-sênior da consultoria Umetal, Du Wei, a indústria não precisa de tanto volume.

Momento errado
A Vale tem oferecido descontos de 20% no ferro exportado para a China. A relação da multinacional brasileira com os chineses piorou em setembro, quando a Vale tentou aumentar o preço do minério em 11%.
Quebrou assim um acordo tácito de dois aumentos em um mesmo ano (já tinha subido em 65% no início do ano passado).
A crise mundial, que teve seu estopim em setembro, e a desaceleração da economia chinesa, puxada pela crise imobiliária e pela queda de exportações, enterraram a possibilidade de reajuste. Cerca de 49% do ferro é consumido pela construção civil, e a venda de apartamentos no país despencou pela primeira vez em dez anos em 2008.
A China produz dois quintos do aço do mundo e consome um terço de toda a produção.


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