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Ação dos BCs alimentará crise, diz Merkel
Chanceler da Alemanha condena exagero na atuação dos bancos centrais e prega retorno a políticas monetárias "sensatas"
Banco Central Europeu detalha nesta semana plano de comprar 60 bi em ativos privados com lastro em empréstimos ou hipotecas
BERTRAND BENOIT
RALPH ATKINS
DO "FINANCIAL TIMES"
Angela Merkel, a chanceler
[primeira-ministra] da Alemanha, criticou os principais bancos centrais do planeta de maneira inesperadamente vigorosa, sugerindo que suas políticas
monetárias não convencionais
podem alimentar a crise econômica em lugar de combatê-la.
O ataque ao Federal Reserve
(Fed, o banco central dos Estados Unidos), ao Banco da Inglaterra e ao BCE (Banco Central
Europeu) é notável, vindo de
uma líder que até o momento
vinha respeitando escrupulosamente a tradição de não comentar política monetária, que
sempre foi seguida pelo governo de seu país.
"O que outros bancos centrais vêm fazendo deve parar
agora. Estou muita cética quanto à extensão das ações do Fed e
à maneira pela qual o Banco da
Inglaterra instituiu sua linha
na Europa", disse, durante uma
conferência em Berlim.
"Até mesmo o Banco Central
Europeu de certa forma se curvou à pressão internacional,
com sua aquisição de títulos cobertos", afirmou. "Devemos retornar às políticas monetárias
independentes e sensatas ou
nos veremos repetindo essa
mesma situação em dez anos."
A decisão de Merkel de ignorar uma das normas centrais da
política alemã, de não comentar a política monetária, sugere
que o governo está muito mais
preocupado do que se imaginava quanto às ações do BCE.
Os alemães estão apreensivos com a maneira pela qual os
bancos centrais terão de reabsorver o excedente de liquidez
que estão injetando no mercado e sobre o potencial inflacionário de longo prazo de políticas monetárias muito frouxas.
Os esforços do BCE se concentraram em injetar liquidez
ilimitada no sistema bancário
da zona do euro, por períodos
cada vez mais longos. Mas, em
maio, a instituição seguiu o
exemplo do Fed e do Banco da
Inglaterra e anunciou um programa de aquisição de ativos
para ajudar no retorno a condições de mercado mais normais.
O BCE anunciou que havia
concordado em princípio em
adquirir 60 bilhões em "títulos cobertos", ou seja, papéis
emitidos pelos bancos, mas lastreados por empréstimos do
setor público ou hipotecas.
As aquisições de títulos cobertos, porém, só foram aceitas
depois de longas discussões entre os 22 integrantes do conselho diretor do BCE. De acordo
com uma versão sobre a reunião de maio, o conselho chegou a discutir um programa de
aquisição de ativos de 125 bilhões que teria incluído outros
ativos do setor privado.
Axel Weber, membro do
conselho do BCE e presidente
do Bundesbank, o banco central alemão, está entre os líderes que expressaram ceticismo
com relação a uma intervenção
direta nos mercados financeiros. Em entrevista ao "Financial Times" em abril, ele expressou uma "clara preferência
por manter o nosso foco e nossa atenção no canal de financiamento bancário".
Weber também esteve entre
os mais ativos dos conselheiros
no que tange a alertar de que o
estímulo monetário terá de ser
reduzido ou até revertido assim que a economia melhorar.
Detalhes sobre o programa
de aquisição de títulos cobertos
serão revelados pelo BCE na
quinta. Uma hipótese é que o
pacote seja dividido de acordo
com as cotas dos países no capital do BCE, o que resultaria
em a Alemanha responder por
25% do programa. Enquanto
isso, a expectativa generalizada
é que o BCE mantenha sua
principal taxa de juros em 1%,
marca mais baixa da história.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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