São Paulo, quarta-feira, 03 de junho de 2009

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Ação dos BCs alimentará crise, diz Merkel

Chanceler da Alemanha condena exagero na atuação dos bancos centrais e prega retorno a políticas monetárias "sensatas"

Banco Central Europeu detalha nesta semana plano de comprar 60 bi em ativos privados com lastro em empréstimos ou hipotecas

BERTRAND BENOIT
RALPH ATKINS
DO "FINANCIAL TIMES"

Angela Merkel, a chanceler [primeira-ministra] da Alemanha, criticou os principais bancos centrais do planeta de maneira inesperadamente vigorosa, sugerindo que suas políticas monetárias não convencionais podem alimentar a crise econômica em lugar de combatê-la.
O ataque ao Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos), ao Banco da Inglaterra e ao BCE (Banco Central Europeu) é notável, vindo de uma líder que até o momento vinha respeitando escrupulosamente a tradição de não comentar política monetária, que sempre foi seguida pelo governo de seu país.
"O que outros bancos centrais vêm fazendo deve parar agora. Estou muita cética quanto à extensão das ações do Fed e à maneira pela qual o Banco da Inglaterra instituiu sua linha na Europa", disse, durante uma conferência em Berlim.
"Até mesmo o Banco Central Europeu de certa forma se curvou à pressão internacional, com sua aquisição de títulos cobertos", afirmou. "Devemos retornar às políticas monetárias independentes e sensatas ou nos veremos repetindo essa mesma situação em dez anos."
A decisão de Merkel de ignorar uma das normas centrais da política alemã, de não comentar a política monetária, sugere que o governo está muito mais preocupado do que se imaginava quanto às ações do BCE.
Os alemães estão apreensivos com a maneira pela qual os bancos centrais terão de reabsorver o excedente de liquidez que estão injetando no mercado e sobre o potencial inflacionário de longo prazo de políticas monetárias muito frouxas.
Os esforços do BCE se concentraram em injetar liquidez ilimitada no sistema bancário da zona do euro, por períodos cada vez mais longos. Mas, em maio, a instituição seguiu o exemplo do Fed e do Banco da Inglaterra e anunciou um programa de aquisição de ativos para ajudar no retorno a condições de mercado mais normais.
O BCE anunciou que havia concordado em princípio em adquirir 60 bilhões em "títulos cobertos", ou seja, papéis emitidos pelos bancos, mas lastreados por empréstimos do setor público ou hipotecas.
As aquisições de títulos cobertos, porém, só foram aceitas depois de longas discussões entre os 22 integrantes do conselho diretor do BCE. De acordo com uma versão sobre a reunião de maio, o conselho chegou a discutir um programa de aquisição de ativos de 125 bilhões que teria incluído outros ativos do setor privado.
Axel Weber, membro do conselho do BCE e presidente do Bundesbank, o banco central alemão, está entre os líderes que expressaram ceticismo com relação a uma intervenção direta nos mercados financeiros. Em entrevista ao "Financial Times" em abril, ele expressou uma "clara preferência por manter o nosso foco e nossa atenção no canal de financiamento bancário".
Weber também esteve entre os mais ativos dos conselheiros no que tange a alertar de que o estímulo monetário terá de ser reduzido ou até revertido assim que a economia melhorar.
Detalhes sobre o programa de aquisição de títulos cobertos serão revelados pelo BCE na quinta. Uma hipótese é que o pacote seja dividido de acordo com as cotas dos países no capital do BCE, o que resultaria em a Alemanha responder por 25% do programa. Enquanto isso, a expectativa generalizada é que o BCE mantenha sua principal taxa de juros em 1%, marca mais baixa da história.


Tradução de PAULO MIGLIACCI


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