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CONTAGEM REGRESSIVA
Fiesp cobra dólar barato, senão vai "estrilar'; presidente do BC diz que Brasil "não é a bola da vez"
Armínio dá prazo para país abandonar risco
FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
O presidente do Banco Central, Armínio Fraga, estipulou um prazo de 30 meses para o Brasil passar a ser considerado um país de
investimento seguro pelo mercado internacional. Ter sua nota aumentada para "investment grade" por uma agência de classificação
de risco internacional significa
para um país maior facilidade e
menor custo para conseguir crédito no exterior.
"Acredito ser possível, apesar
da conjuntura atual, tirar o país
da categoria de alto risco e colocar
o Brasil em uma categoria de baixo risco. É um projeto perfeitamente factível, as bases estão lançadas. Se formos disciplinados,
podemos obter isso. Mas não podemos acreditar em soluções milagrosas", afirmou Fraga.
O país é considerado atualmente como de alto risco para investimentos pelas três principais agências internacionais -Standard &
Poor's, Moody's e Fitch Rating's- que fazem esse tipo de
classificação.
Sobre a atual turbulência no
mercado, Fraga disse que é incorreto colocar "o Brasil na berlinda
e dizer que se trata da bola da
vez", pois tem de se considerar
que há problemas atualmente em
várias partes do mundo, incluindo potências como EUA e Japão.
"Vivemos um momento em
que se aproxima o final do governo do presidente Fernando Henrique Cardoso e é natural que haja
uma certa ansiedade em relação
ao que virá por aí."
O prazo estimado por Fraga não
agradou à industria paulista. O
presidente da Fiesp (Federação
das Indústrias do Estado de São
Paulo), Horacio Lafer Piva, considerou o prazo "demasiado". "Não
concordamos com esse prazo de
30 meses. É preciso baixar rapidamente a taxa de risco do Brasil,
pois isso impede o crescimento
do investimento e do país."
Pela classificação ("rating") da
Moody's, a nota brasileira é B1,
em uma escala que vai até Aaa,
que representa segurança máxima. Para chegar a grau de investimento ("investment grade"), o
Brasil precisa subir ainda quatro
degraus na escala da agência. A
nota atual do Brasil é inferior à dada à Colômbia e à Costa Rica.
Para Fraga, passar a ser considerado "investment grade" levará o
país a conseguir ter uma taxa real
de juros em torno de 6% ao ano. O
caminho para isso, segundo Fraga, passa pela boa gestão das contas públicas, o aprofundamento
das reformas (especialmente a tributária) e conseguir os superávits
primários esperados.
O empresário Antônio Ermírio
de Moraes, do grupo Votorantim,
também lamentou o prazo dado
pelo presidente do BC. "Fico triste
com essa estimativa. É um prazo
muito longo", disse o empresário.
Piva se mostrou preocupado
com a escalada do dólar e afirmou
que o BC não pode deixar a moeda flutuar livremente com um clima de nervosismo como há atualmente no mercado. Para Piva, o
dólar próximo dos R$ 2,90 é muito alto e gera "pressões de difícil
controle. Se continuar como está,
vamos começar a estrilar". Para
Fraga, "existe e predomina um
pessimismo exagerado atualmente. Quando o mercado entra nesse
clima, demora mais para assimilar resultados positivos". Ontem o
dólar fechou a R$ 2,894, depois de
alcançar os R$ 2,938.
Fraga informou que viaja na
próxima semana para os EUA para participar de encontros com
investidores, como fez na semana
passada na Europa. O ministro
Pedro Malan (Fazenda) irá em
missão igual para a Europa.
O presidente da Fiesp disse acreditar que o BC "deve ter um
teto [para o dólar] em mente e está deixando para usar os instrumentos na hora certa".
Uma política econômica voltada para o desenvolvimento industrial e não apenas para o setor financeiro foi reivindicada por Piva ontem. As elevadas taxas de juros teriam levado o mercado a preferir emprestar ao governo ao setor
produtivo. "A indústria teve de usar recursos próprios ou pagar
caro para obter financiamento nos últimos tempos."
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