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INTERNET
Criador do site de relacionamentos diz que país passou a ser foco do sistema e, por isso, há interface em português
Orkut não entende seu sucesso no Brasil
SÉRGIO DÁVILA
DA CALIFÓRNIA
"Orkut Buyukkokten adicionou
você como amigo. Orkut é seu
amigo? Sim ou não?" A mensagem estava na página que este repórter mantém num dos maiores
e mais conhecidos sites de relacionamentos virtuais da internet, batizado propriamente de Orkut
(www.orkut.com). Calcula-se
que 6 milhões de pessoas tenham
páginas com seus perfis ali; desse
universo, a maioria (71,92%, segundo os últimos dados disponíveis) é brasileira. E quem é o criador do sucesso?
Na vida virtual, segundo sua
própria página, Orkut Buyukkokten tem 30 anos, é solteiro, gosta
de massagem, não entende as
mulheres e tem como meta na vida "tentar experimentar todas as
coisas "radicais" (definir "radical" é
sua função) e nunca olhar para
trás ou se arrepender de nada".
Na cama dele você vai encontrar
"velas, óleo para massagem, urso
de pelúcia e algemas".
Na vida real, como comprovou
a Folha em entrevista exclusiva
com o "desenhista de interface
com o usuário" (sua função) na
sede do Google, na Califórnia, Orkut Buyukkokten nasceu na Turquia, onde estudou na renomada
Universidade Bilkent, em Ancara,
tem pós-doutorado em ciência da
computação em Stanford e desenvolveu o embrião do site nos
bancos da universidade californiana, até ser contratado pela empresa de seus ex-colegas Sergey
Brin e Larry Page.
Ele não tem idéia dos motivos
que levaram sua criação a ser o
sucesso que é especificamente no
Brasil -a imprensa e os internautas norte-americanos em geral praticamente ignoram o Orkut, dando mais atenção a outros
sites de relacionamento como
Friendster ou thefacebook. Diz
que não faz parte de seus planos
vender as informações contidas
nas páginas pessoais para empresas, dados e hábitos que valeriam
ouro na publicidade virtual.
"Sim, Orkut é meu amigo", foi a
resposta dada pelo repórter ao pedido virtual, o que deixa o entrevistado com 567 "amigos", 791
"fãs" e 3.722 mensagens deixadas
no seu "rascunho". Leia a conversa abaixo:
(SÉRGIO DÁVILA)
Folha - Primeiro, uma reclamação: por que o Orkut é lento?
Orkut Buyukkokten - Os participantes crescem exponencialmente, muito, mas muito mais rápido
do que esperávamos. Nós aumentamos a capacidade da rede a cada
mês, mas a demanda é sempre
maior. O que gera um problema
aparentemente insolúvel: quando
aumentamos a capacidade, e com
isso a velocidade com que os comandos são realizados, as pessoas
conseguem navegar mais e conseqüentemente convidar mais pessoas para fazerem parte do Orkut,
o que deixará o sistema lento de
novo, até que aumentemos de novo a capacidade... Mas chegará
um momento em que nossa velocidade ao aumentar será igual à
da demanda.
Folha - E por que as mensagens
de erro engraçadinhas, como "Bad,
bad server. No donut for you!"? (fala adaptada de um dos episódios
clássicos da série de TV "Seinfeld",
intitulado "The Soup Nazi")? Você
sabia que há até comunidade contra essas mensagens -e centenas
contra você e seu invento?
Orkut - Não sabia... (risos). É só
uma maneira de deixar a informática mais palatável...
Folha - Há milhares de comunidades brasileiras pornográficas e outro tanto com mensagens racistas
ou discriminatórias, o que fere a
"carta de intenções" de seu site.
Recentemente, uma delas saiu do
ar depois que a Justiça autorizou a
polícia a investigar o autor. Como
você controla isso?
Orkut - Quanto à pornografia,
talvez a explicação esteja no fato
de os brasileiros serem mais liberais. Quanto ao racismo, é um
horror, eu condeno. Mas como
você põe um limite sem cair na
censura? Este é um problema com
o qual eu tenho de lidar...
Folha - Qual sua teoria para a presença maciça de brasileiros?
Orkut - Não tenho a menor idéia.
Talvez seja cultural, tenha a ver
com a personalidade de vocês,
que são conhecidos como um povo amigável. Pode ser devido à
própria característica do mecanismo de entrada no site (só pode
se cadastrar quem receber um
convite de um dos cadastrados).
Eu tenho alguns amigos que têm
alguns amigos brasileiros, e assim
foi se espalhando, o que era mesmo a minha idéia desde o início.
Folha - O que diz do rumor recente de que os técnicos do Google "diminuíam" a velocidade do usuário
se ele declarasse ser do Brasil, como uma maneira de diminuir a presença?
Orkut - Soube do rumor quando
recebi a lista diária com as estatísticas e vi que países como Iraque
tinham disparado em participação, enquanto o Brasil tinha caído
drasticamente, o que não fazia nenhum sentido em termos de comportamento de usuário. Mas é pura lenda urbana, uma bobagem.
Não temos como deixar a navegação de alguém mais lenta baseada
no seu país de origem. Soube também que houve até festas em São
Paulo quando os brasileiros ultrapassaram os 50%, confere?
Folha - Confere.
Orkut - Então. Hoje, o Brasil é o
principal foco do Orkut. Tanto
que lançamos a interface em português em abril. Eu recebo muitas
mensagens de brasileiros em meu
"scrapbook", pena que não entenda a língua. (puxa o repórter
para perto de uma tela). O que está escrito aqui, por exemplo? (alguém o xinga de filho da p...)
Folha - Um palavrão que envolve
a reputação de sua mãe.
Orkut - Ah...(desapontado) E
aqui? (alguém pergunta se ele é
parente do Buiú, personagem do
programa "A Praça É Nossa").
Folha - Melhor mudar de assunto:
qual o seu orçamento?
Orkut - Stanford é minha parceria nessa iniciativa, pois eu desenvolvi o programa na universidade, então eles me dão apoio em
termos de servidores. Quanto a
números, não posso revelar por
uma questão de contrato.
Folha - Você tem informações valiosas e hábitos pessoais de 6 milhões de pessoas. Pretende vendê-los à publicidade?
Orkut - Não faz parte dos planos.
Estamos oferecendo agora o serviço de e-mail do Google, mas é
um anúncio interno.
Folha - Não seria ferir a política
de privacidade do site?
Orkut - Não faríamos nada sem a
expressa permissão do usuário,
conforme está na própria política
de privacidade.
Folha - Você navega muito no seu
próprio site?
Orkut - Sim, visito algumas comunidades, leio alguns perfis de
pessoas que não conheço...
Folha - Mas é o olhar do dono ou o
impulso do curioso?
Orkut - Ambos (risos).
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