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LUÍS NASSIF
As firmas de cobrança
Espremido por taxas de juros
escorchantes, pela falta de liquidez na economia e pela
queda de renda, os consumidores inadimplentes estão sendo alvo de processos de cobrança extremamente truculentos -a partir do momento
em que as grandes empresas
resolveram recorrer a empresas de cobrança especializadas. É o que se depreende o relato de ML, remetido à coluna.
O consumidor atrasou as
prestações de janeiro e fevereiro deste ano, do financiamento contratado junto à financeira da General Motors. No
começo de março, estabilizado
o orçamento, ligou para a empresa M. L. Gomes e Associados, pedindo que fizessem o
cálculo para quitar as prestações.
A pessoa que atendeu disse
que ML devia quatro prestações, e não duas. O consumidor negou e remeteu fax no
mesmo dia, comprovando os
pagamentos efetuados, e solicitando o recálculo dos atrasados. A atendente negou-se a
fazer os cálculos enquanto não
fosse solucionada a pendência
em relação aos demais meses.
No final de março, ML ligou
novamente para a empresa de
cobrança, sediada em Campinas. Lá informaram que as dúvidas persistiam e solicitaram
o reenvio do fax. Novo fax foi
enviado com os comprovantes.
No começo de junho, ML foi
renovar o cheque especial do
Banco do Brasil e não conseguiu. Descobriu que desde o
dia 20 de maio carregava um
Processo de Busca e Apreensão
de Veículo, movido pela GM,
em cima da falsa alegação de
quatro prestações em atraso.
Nova ligação para a empresa
de cobrança, questionando
não apenas a cobrança indevida, mas o fato de o processo ter
sido aberto sem que ele fosse
informado. Depois de consultar o computador, a atendente
informou que o aviso havia sido transmitido para uma empregada que trabalhava eventualmente na casa do consumidor. Foi solicitado, pela terceira vez, o envio do fax com a
comprovação do pagamento
das prestações de novembro e
dezembro.
Alguns dias depois, ML ligou
novamente para Campinas e
lá informaram que a GM tinha entendido, finalmente,
que ele devia apenas as duas
prestações de janeiro e fevereiro. Foram feitos novos cálculos, com juros, correção, custas
processuais e outros penduricalhos, com o consumidor pagando pelos erros das duas
empresas e, a essa altura, sem
crédito na praça. A atendente
informou que a ação demoraria oito dias para ser suspensa,
e o consumidor ter seu nome
limpo.
No dia 23 de junho, no entanto, nova carta da GM, agora informando que teria 48 horas de prazo para pagar as
prestações de março, abril e
maio, sob pena de ser processado. No fax que já havia sido
remetido duas vezes estavam
os comprovantes dos pagamentos daqueles meses.
No dia 29 de junho, ML ligou
novamente para a M. L. Gomes, pedindo o recálculo das
prestações para conseguir, finalmente, quitar a dívida. Depois de obtido o valor, informou a atendente sobre a nova
cobrança indevida que recebera. A mesma atendente pediu
pela quarta vez um novo fax
com todos os comprovantes de
pagamento. ML informou que
o anterior já tinha esses comprovantes. Só então foi informado que a atendente não havia recebido o fax completo. O
fax de 16 folhas foi reenviado,
e a atendente garantiu que a
GM daria a resposta no dia seguinte. E que ML deveria
aguardar a resposta, antes de
efetuar o pagamento.
No dia seguinte, a atendente
não ligou novamente, como
havia combinado. Antes das
16h, ML fez o depósito em nome da M. L. Gomes, sem
aguardar a resposta. Foi enviado fax para a empresa, com
o comprovante do pagamento.
Ontem, o consumidor ficou
sabendo de um novo protesto
no valor de R$ 583,00 em cartório, novamente da GM. Desabafa o consumidor: "Se eles
confirmaram que eu devia só
duas e me cobraram essas
duas, por que é que não tiraram o que está errado do cartório? Quer dizer que vou ter
que pagar novamente uma
prestação paga para poder ter
direito ao nome limpo e poder
trabalhar tranquilo? Será que
não tem fim a quantidade de
erros que eles cometem com o
consumidor?".
O consumidor estará entrando na próxima semana com
uma ação contra a empresa de
cobrança e contra a financeira
da montadora. Mas é uma pequena amostra do que está
ocorrendo no mercado com
milhares de inadimplentes, Seria importante que o Ministério da Justiça acordasse para
esse processo.
E-mail: lnassif@uol.com.br
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